Mesmo para os baixíssimos padrões da extrema esquerda, a reação orquestrada após a morte da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro foi um espetáculo indigesto. Onde deveria haver respeito pela vida humana perdida, luto e indignação pelo caos da violência generalizada, houve apenas cálculo eleitoral e interesse ideológico. Os socialistas mal conseguiram esconder a alegria: sambaram em cima do cadáver de Marielle Franco, acreditando na mudança do cenário político.
Os mesmos que alegam que Lula foi condenado em segunda instância sem provas, apesar de toda evidência existente, já tinham o culpado do crime um segundo após ele ocorrer: a banda podre da polícia. Quem precisa de investigação quando se tem a ideologia? Durante o velório, sobrou para a intervenção federal no Rio de Janeiro e até para o presidente, com gritos de “Fora Temer”. A esquerda radical não brinca em serviço quando o poder está em jogo.
Ajudei a disseminar no país a expressão “esquerda caviar”, que retrata aquela elite culpada que adora o socialismo revolucionário do conforto de suas mansões. A mesma turma, diga-se, que elegeu Marielle, supostamente representante da favela da Maré, mas que foi colocada na Câmara Municipal por outra maré: aquela vermelha que se espalha pelo Leblon e idolatra Freixo e o PSOL.
A expressão, porém, não dá mais conta do recado. O nível baixou tanto que apodreceu o caviar. Agora é esquerda abutre, bicho asqueroso que vive da carniça dos outros. A campanha de santificação da vereadora morta, uma mártir da causa, foi simplesmente absurda. Todos os “formadores de opinião”, com apoio de artistas e “intelectuais”, passaram imediatamente a enaltecer não aspectos individuais dela, como caráter ou bondade, mas sua ideologia e seus atributos “identitários”, como a cor da pele, a bissexualidade e a origem humilde.
No fundo, a narrativa foi construída com um só intuito, que nada tem a ver com louvar a pessoa Marielle: fortalecer o socialismo. Devemos chorar mais por sua morte porque ela era do PSOL, eis a mensagem. E ninguém na mídia lembrou que seu partido é o mesmo que defende oficialmente a ditadura venezuelana. Há direitos humanos por lá?
A imprensa falou muito das “Fake News” nas redes sociais, dos toscos supostamente da direita que espalharam mentiras sobre a vereadora. É, de fato, abjeta a falta de respeito para com a morta. Mas e o processo de canonização dela só por ser socialista: isso também não merece ser condenado?
Numa guerra, a primeira baixa é sempre a verdade. Infelizmente, há quem veja a política como uma eterna guerra, onde o adversário deve ser aniquilado. A esquerda certamente age assim. E não se sente melindrada se tiver que pisotear o corpo da própria companheira para avançar algumas casas no tabuleiro da política.
Artigo originalmente publicado na revista IstoÉ