ca. 1970-1990, Hwange National Park, Zimbabwe --- Whitebacked vultures feeding on a carcass previously killed by a lion. --- Image by © Peter Johnson/CORBIS| Foto:

Mesmo para os baixíssimos padrões da extrema esquerda, a reação orquestrada após a morte da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro foi um espetáculo indigesto. Onde deveria haver respeito pela vida humana perdida, luto e indignação pelo caos da violência generalizada, houve apenas cálculo eleitoral e interesse ideológico. Os socialistas mal conseguiram esconder a alegria: sambaram em cima do cadáver de Marielle Franco, acreditando na mudança do cenário político.

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Os mesmos que alegam que Lula foi condenado em segunda instância sem provas, apesar de toda evidência existente, já tinham o culpado do crime um segundo após ele ocorrer: a banda podre da polícia. Quem precisa de investigação quando se tem a ideologia? Durante o velório, sobrou para a intervenção federal no Rio de Janeiro e até para o presidente, com gritos de “Fora Temer”. A esquerda radical não brinca em serviço quando o poder está em jogo.

Ajudei a disseminar no país a expressão “esquerda caviar”, que retrata aquela elite culpada que adora o socialismo revolucionário do conforto de suas mansões. A mesma turma, diga-se, que elegeu Marielle, supostamente representante da favela da Maré, mas que foi colocada na Câmara Municipal por outra maré: aquela vermelha que se espalha pelo Leblon e idolatra Freixo e o PSOL.

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A expressão, porém, não dá mais conta do recado. O nível baixou tanto que apodreceu o caviar. Agora é esquerda abutre, bicho asqueroso que vive da carniça dos outros. A campanha de santificação da vereadora morta, uma mártir da causa, foi simplesmente absurda. Todos os “formadores de opinião”, com apoio de artistas e “intelectuais”, passaram imediatamente a enaltecer não aspectos individuais dela, como caráter ou bondade, mas sua ideologia e seus atributos “identitários”, como a cor da pele, a bissexualidade e a origem humilde.

No fundo, a narrativa foi construída com um só intuito, que nada tem a ver com louvar a pessoa Marielle: fortalecer o socialismo. Devemos chorar mais por sua morte porque ela era do PSOL, eis a mensagem. E ninguém na mídia lembrou que seu partido é o mesmo que defende oficialmente a ditadura venezuelana. Há direitos humanos por lá?

A imprensa falou muito das “Fake News” nas redes sociais, dos toscos supostamente da direita que espalharam mentiras sobre a vereadora. É, de fato, abjeta a falta de respeito para com a morta. Mas e o processo de canonização dela só por ser socialista: isso também não merece ser condenado?

Numa guerra, a primeira baixa é sempre a verdade. Infelizmente, há quem veja a política como uma eterna guerra, onde o adversário deve ser aniquilado. A esquerda certamente age assim. E não se sente melindrada se tiver que pisotear o corpo da própria companheira para avançar algumas casas no tabuleiro da política.

Artigo originalmente publicado na revista IstoÉ

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