Poucas causas unem mais a esquerda “progressista” do que o “direito ao aborto”. Triturar um bebezinho em formação dentro do útero da mãe, sugar as partes e jogar tudo no lixo, mesmo após meses de gestação e com órgãos já formados, é tido por essa turma como um direito básico e inalienável da mulher: seu corpo, suas regras. O corpo do bebezinho é tratado como ou um parasita ou uma parte insignificante do corpo da mulher, como uma unha talvez, que pode ser simplesmente cortada.
Os valores em Hollywood e Projaquistão andam tão invertidos que a simples defesa da vida humana desde sua concepção é tratada como a maior bizarrice do planeta, coisa de reacionário neandertal, machista autoritário, gente tacanha e sem sensibilidade para com as mulheres, que deveriam ser livres para interromper a gravidez a qualquer momento, mesmo em estágio avançado.
Como o povo da Georgia parece discordar, o estado se tornou pária para os “progressistas”. Uma lei foi aprovada proibindo o aborto após se detectar o batimento cardíaco do feto humano. E isso – atenção! – isso foi considerado inaceitável, inadmissível, absurdo e revoltante para os “progressistas”. O pessoal de Hollywood, com sua “moral” esquisita, decidiu boicotar Georgia. Produtores se recusam a filmar no estado, o que faziam antes por menores impostos, já que a Califórnia é dominada há tempos por democratas e a carga tributária é maior.
Uma atriz, Alyssa Milano, chegou a sugerir uma “greve de sexo” em protesto, ao menos com homens. Ela não percebeu que, ao fazer isso, acabou concordando com os moralistas tradicionais que pregam sexo só depois do casamento, para procriação. Ela tampouco se deu conta de que, ao definir de forma objetiva mulher e homem, estava atacando os conceitos “modernos”, e foi denunciada por “transfobia” pela patota que queria agradar. Enfim, ela apanhou da esquerda e da direita, e mesmo assim redobrou a aposta.
“Nossos direitos reprodutivos estão sendo apagados. Até as mulheres tiverem o controle legal sobre seus próprios corpos nós não podemos simplesmente arriscar uma gravidez”, escreveu a atriz. Os conservadores aplaudiram: mais responsabilidade na conduta sexual é bem-vinda. Fazer sexo só quando se deseja um eventual bebê não seria algo tão ruim no mundo de hoje, alegaram.
Mas eis o cerne da questão: para a esquerda, a banalização do aborto, como se fosse uma simples questão de controle sobre o corpo da mulher, ignorando-se a presença de outra vida humana em gestação ali, virou uma bandeira crucial que define a “moralidade” das pessoas. Quem condena essa banalização é visto como um alienígena, um carola fanático.
E essa visão contaminou todo o Partido Democrata, cujos pré-candidatos se mostram mais e mais radicais nesse assunto, pregando o “direito ao aborto tardio”, beirando o infanticídio. Para a bolha de Hollywood essa mensagem pode ser música. Dificilmente será para a maioria da população. Trump agradece o extremismo dos “progressistas”. Para quem a vida humana ainda tem valor intrínseco, mesmo quando dentro do útero, esse pode ser um divisor de águas na hora do voto.
Rodrigo Constantino