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Esquerda disputa para ver quem deve enfrentar Bolsonaro no segundo turno: Alckmin é o mais cotado

As articulações políticas continuam a todo vapor em Brasília. Um candidato, se não desidratar quando a máquina partidária dos adversários colocar toda sua força contra ele na propaganda eleitoral, deve estar com sua vaga quase certa no segundo turno. Trata-se de Bolsonaro, que foi capaz de se transformar em símbolo contra os tradicionais políticos corruptos, o petismo e a leniência no combate ao crime. O fenômeno é forte o bastante para praticamente garantir sua chegada à próxima etapa.

Os demais se mexem, então, para ver quem vai disputar com o capitão, sabendo-se que sua rejeição é bem alta. A esquerda radical tinha uma chance nada desprezível de levar essa segunda vaga, a despeito de o PT ter destruído o Brasil. Nunca se deve subestimar a ignorância de boa parcela da população, assim como o efeito das décadas de doutrinação ideológica nas escolas, universidades e imprensa. Lula, sem dúvida, ainda é o líder inconteste dessa turma alienada.

Mas Lula está preso e só pensa em si mesmo, o que afetou toda a estratégia da extrema-esquerda, para a sorte do povo brasileiro trabalhador e decente. Como o nome que despontou como alternativa foi o de Ciro Gomes, que Lula não controla, o ex-presidente preferiu manter-se afastado de sua candidatura, e também não apontou seu “ungido” do PT ainda, para levar ao limite sua estratégia pessoal e egoísta de se vender como perseguido político.

Gustavo Nogy fez uma análise divertida do “abraço dos afogados”:

Ciro Gomes está emburrado.

Depois de fazer a corte ao PT, de falar coisas ora sujas, ora românticas ao pé do ouvido, levou um fora daqueles. “Não sei o que fiz ao PT para me tratarem assim.” O Partido dos Trabalhadores é moça de família, não sai com qualquer um. Esse é o problema, Ciro. Dizem por aí que você é bruto demais.

Mas o que é problema para o ensandecido candidato, pode ser solução para nós outros. O xadrez eleitoral brasileiro é tão esquisito, mas tão esquisito, que teremos de agradecer a Lula o fato de não termos Ciro Gomes na presidência. As articulações do ex-presidente e atual condenado desidrataram a campanha do coroné, que está prestes a morrer por asfixia.

Lula, naturalmente, atuará como candidato até o último minuto da prorrogação. Sua intenção é clara: deixar para a undécima hora o momento de fazer a mágica da transferência de votos. Se ele fez isso com a inacreditável Dilma, acredita que fará com o não menos inverossímil Haddad. Desta vez, porém, o truque há de falhar.

[…]

Ao que parece, com a popularização cada vez maior de ideias liberais e conservadoras entre o eleitor comum, com a ascensão de Bolsonaro (de quem não gosto, mas desgosto menos que Ciro) e com o movimento suicida de Lula, é bem possível que a esquerda mais radical volte a viver anos de ostracismo.

Amém?

Amém! E mesmo na esquerda radical há quem perceba, cada vez mais angustiado, o enorme risco dessa estratégia. O ultra-esquerdista Bernardo Mello Franco, em sua coluna de hoje no GLOBO, usou o igualmente radical Vladimir Palmeira para expor uma análise sobre o erro estratégico do PT, que repete o passado e pode, assim, sacrificar seu futuro:

Em 1998, o Rio foi palco de uma barganha parecida. Líder das passeatas de 68, Vladimir Palmeira enfeitiçou a militância e ameaçou o reinado do brizolismo. Sob as ordens de Lula e José Dirceu, o partido implodiu sua candidatura para se aliar ao PDT. A intervenção resultou na vitória de Anthony Garotinho. Em pouco tempo, ele se livrou dos petistas e os amaldiçoou com o apelido de “partido da boquinha”.

“Cansamos de dizer que aquilo seria uma grande burrice”, lembra Vladimir, duas décadas depois. “A partir dali, o PT do Rio acabou. Milhares de filiados saíram do partido, que deixou de ter qualquer possibilidade de governar o estado”, acrescenta.

Afastado da política, o velho militante vê a história se repetir em Pernambuco. “Tudo isso para isolar o Ciro, porque o Lula não quer ninguém no lugar dele”, avalia. “O risco é a esquerda ficar fora do segundo turno, vendo um duelo do Alckmin com o Bolsonaro”.

Não entendi. Como a esquerda ficaria fora? E o Alckmin?! A esquerda radical ficaria fora, isso que o colunista e o ex-petista querem dizer. Para essa turma, o PSDB é um partido… de direita! É preciso se segurar na cadeira enquanto escrevo isso, para não rolar no chão de tanto gargalhar. Mas o fato é que boa parte de nossa imprensa, psolista ou petista, acha mesmo que os tucanos são de direita, o que seria cômico, não fosse trágico.

Mas voltando ao foco, o importante é constatar que, na disputa por território e no afã salvacionista de Lula, a extrema-esquerda sai enfraquecida, Ciro Gomes deve murchar, e o “ungido” de Lula poderá não ter tempo ou carisma suficientes para avançar a ponto de conquistar o ingresso para o segundo turno. Restam, então, Álvaro Dias, que trouxe Paulo Rabello de Castro como vice, Marina Silva, que fechou com Eduardo Jorge do PV, e o próprio Alckmin, que costurou grande aliança com o “centrão” fisiológico e marcou um gol ao atrair a senadora Ana Amélia como vice.

Parêntese: se eu admirava a senadora Ana Amélia ontem, então continuo a admirando hoje. No máximo posso critica-la por uma decisão que considero equivocada, achar que ela errou. Mas daí a transforma-la, da noite pro dia, numa “terrível comunista” – a mesma que seria uma vice dos sonhos para meu candidato – vai uma longa distância – aquela que separa gente séria de cheerleader fanática de político, aprisionada numa mentalidade tribal de eterno segundo turno. Fecho parêntese.

Desses candidatos que sobraram à esquerda, Alckmin parece o mais bem posicionado para avançar, apesar de ser um picolé de chuchu. Não é seu carisma, mas a máquina mesmo. Ele defendeu em entrevista ontem na GloboNews as parcerias: “Nós estamos fazendo uma aliança em torno de um projeto”, disse em defesa do acordo com o “centrão” fisiológico. É verdade. Uma aliança em torno de um projeto… de poder. Já o projeto de nação fica para depois…

Mas é forçoso reconhecer: o tucano está jogando com todas as suas fichas, e algum impacto isso deve ter nas próximas pesquisas, especialmente quando essa poderosa máquina for colocada a serviço de sua candidatura. Nunca despreze a influência da televisão e, principalmente, dos cabos eleitorais.

Muita água ainda vai rolar, e é cedo para previsões mais convictas. Dito isso, o quadro que vai se desenhando é um em que a extrema-esquerda fica de fora da disputa no segundo turno, algo alvissareiro que o mercado, certamente, vai comemorar. Poderemos ter a esquerda mais moderada disputando com uma direita que está longe de ser a ideal do ponto de vista dos liberais ou mesmo dos conservadores (apesar do selo de qualidade Paulo Guedes), mas que ainda assim é direita.

Já no cenário pessimista, Alckmin cresce tirando votos do próprio Bolsonaro (a escolha de Ana Amélia indica essa possibilidade), e vai ao segundo turno com Fernando Haddad, se a transferência de votos de Lula ao seu poste for grande. Esse é o cenário assustador, em que a esquerda segue hegemônica, disputando apenas entre a ala raivosa carnívora e a turma tucana herbívora, mas ainda assim só esquerda.

O que de fato vai acontecer, só o tempo dirá. E que Deus tenha piedade do Brasil, porque vamos precisar…

Rodrigo Constantino

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