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Por Thiago Kistenmacher, publicado pelo Instituto Liberal

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Não gosto muito deste Fla x Flu. Sinceramente eu preferiria estar lendo O Senhor dos Anéis. Seria melhor acompanhar Frodo pela Terra Média do que ler e escrever sobre Lula, Dilma, Moro, Janaína, Jean Wyllys, Bolsonaro e outros, mas é meu dever. Se ninguém se ocupar com a política hoje, sofreremos por causa dela amanhã. E, para que no futuro possamos nos deliciar com a literatura, é bom garantirmos que não falte papel e dinheiro para a impressão de livros. Na casa da nossa vizinha Venezuela, por exemplo, já falta papel até para as cédulas e o colorido da bandeira já não se vê.

Dito isso, gostaria de chamar a atenção do leitor para dois efeitos que se relacionam com a atual crise política e sua consequente polarização. Como mencionado no título, a Esquerda está levando os brasileiros para a Direita e cada vez mais para a Direita. Claro que a questão é mais profunda, mas não pretendo analisar pormenores.

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Primeiro vamos ao efeito positivo. Resumidamente, acredito que o efeito positivo dessa crise política e da queda do império petista é que têm ajudado o brasileiro a notar que o país realmente não é de um partido e que as instituições não são aplicativos programados para serem compatíveis com o aparelhamento do PT. Os trabalhadores, que não têm tempo para bloquear avenidas durante a semana já não caem mais no discurso do caudilho do ABC. As universidades, embora atuem como a mais eficiente ferramenta na manutenção da esquerda histérica, assistem à invasão educada de outras ideias. As redes sociais pululam de opositores ao regime mafioso do Partido dos Trabalhadores. Todo império um dia cai, e, ainda bem, que o bolivarianismo por aqui parece que vai cair do pé antes de ficar Maduro. Em suma, tanta corrupção e crise serviram para mostrar que o PT veio para isso mesmo, para roubar, matar e destruir, e o brasileiro honesto, vendo que virar à Esquerda é acertar o poste da Justiça, prefere convergir em segurança para a Direita.

Agora, o efeito negativo. Notamos uma radicalização que se torna um tanto quanto fanática e que está apenas a um passo da intolerância. O messianismo político não atinge só a Esquerda. Embora existam diferenças claras entre os opositores, o ser humano é o mesmo. A alma humana, independentemente do sentido dado pelo leitor, é inegavelmente falha e os jovens, principalmente eles, devem cuidar com suas paixões. Aristóteles já tinha alertado para isso dizendo que “Em termos de caráter, os jovens são propensos aos desejos passionais e inclinados a fazer o que desejam” [1] e, não parando por ai, acrescenta que eles “Em tudo pecam por excesso e violência, contrariamente à máxima de Quílon” [2], um sábio espartano a quem é atribuída a máxima: “nada em demasia.” O conselho do filósofo serve até hoje, pois somos o mesmo ser humano repleto de paixões desregradas. Não estou dizendo que é preciso dialogar com o Estado Islâmico, por exemplo, como propôs a “nossa” presidente, já que desconfio dos Gandhis modernos que preferem ser abatidos, entretanto cautela com promessas de salvação nunca é demais.

Quanto mais radicalismo de um lado, mais do outro. Se hoje eu colocar você no paredão, amanhã é um amigo seu que me fuzila, e assim até à guerra total. Os radicalismos se nutrem reciprocamente e o resultado disso é sempre o nascimento de um tumor maligno que raramente é extirpado com pequenas cirurgias.

Enfim, a máscara da Esquerda deve ser tirada, mas não arrancada pelas adagas da vingança absoluta. Sei que o radicalismo é mais legal, ele promete coisas que só podemos ter nos filmes, te faz sentir menos culpado e ressentido com suas próprias frustrações e, ainda, de quebra, te dá total legitimidade para externar sua rebeldia através de ações inconsequentes. Já a moderação é aquela mãe chata. Ela não te promete nada que não faça sentido, te mostra que os filmes são assim exatamente por serem filmes e não passa a mão na sua cabeça se você quebrar as coisas por aí. Afinal de contas, ninguém quebra uma vitrine defendendo a prudência.

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Tomemos cuidado com as nossas escolhas, principalmente em um momento de crise, já que nós, humanos, somos naturalmente falhos e tendemos mais facilmente ao erro do que ao acerto.

O indivíduo que hoje, legitimamente, luta contra a Esquerda e defende uma causa específica, deve cuidar para não cair na mesma que cai a Esquerda. Deve cuidar para não se tornar só mais um do rebanho ou, dito de outra forma, acabar como um integrante de um coletivo às avessas que prega um radicalismo oposto, mas, nem por isso, muito distante daquele que combate.

A Esquerda está levando o Brasil para a Direita, e isso é positivo, mas cuidado para não se exceder e acabar capotando este veículo que está pode estar nos trazendo vários benefícios em seu porta-malas.

[1] Aristóteles. Retórica. Obras Completas. Biblioteca de Autores Clássicos. Ed. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005. p.194.
[2] Ibidem, p.195.