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Esquerda estica conceito de supremacista branco para englobar tudo que não é esquerda

É uma velha tática esquerdista: diluir conceitos até que se tornem vagos o suficiente para incluir tudo aquilo que a própria esquerda deseja, ou seja, tudo aquilo que não for esquerda. Dediquei um capítulo em Esquerda Caviar só para essa obliteração da linguagem, pois como alertava Confúcio, “Quando as palavras perdem seu significado, as pessoas perdem sua liberdade”.

O uso adequado das palavras é essencial para a compreensão da realidade. Sem isso, entramos em um pântano perigoso. Se o que é dito não tem sentido claro, então o cinismo acaba corroendo tudo. A linguagem “serve para que os homens se entendam e se aproximem”, escreveu Mário Vargas Llosa.

Por isso mesmo, aqueles que desejam inviabilizar o pensamento límpido costumam escolher como principal alvo os conceitos das palavras. Os manipuladores deturpam a linguagem para lançar uma nuvem de poeira no raciocínio de suas vítimas.

Pois bem: Alexandria Ocasio-Cortez, a “nova face” democrata, escreveu uma série de tweets sobre os supremacistas brancos, pegando carona no massacre ocorrido em El Paso, no Texas (no mesmo fim de semana outro massacre ocorreu, mas como o atirador era defensor do esquerdismo, esse episódio foi praticamente esquecido pela imprensa e pelos democratas).

Eis a essência de sua mensagem: supremacista branco pode ser qualquer um, pode ser você, mesmo que você nem saiba! Esqueça a pregação de ódio racista, a defesa de Hitler ou da eugenia, o apoio à escravidão ou a visão racial de que uma civilização é superior às demais por conta da etnia, não dos valores disseminados. Não é mais isso que define um supremacista branco, segundo AOC.

Para ela, há o “supremacismo branco”, diferente do supremacista branco, como se fosse um vírus espalhado pela sociedade, algumas vezes sem a devida consciência por parte do “portador”. Você pode nunca ter pregado em favor da superioridade ariana, pode jamais ter dado sinais de que considera outra raça inferior, não importa: para AOC você pode muito bem ser um supremacista branco também, só esperando o momento para extravasar aquela doença dentro de você.

A elasticidade do conceito não é por acaso. Fazendo isso, AOC está, no fundo, englobando quase qualquer um no rol dos racistas. Ela começa simulando humildade e afetando bondade, alegando que todos, inclusive ela, precisam refletir mais sobre seus preconceitos. Alguém acha que AOC, que apoia antissemitas escancaradas como Talib ou Ilhan Omar, vai mesmo fazer esse exercício de autocrítica?

Piada! A tática é bancar a boazinha para poder acusar todos os outros de racistas, ainda que “inconscientes”. Até companheiros de partidos têm sido alvos de seu veneno, como Nancy Pelosi ou Joe Biden. AOC pretende puxar o Partido Democrata mais e mais para a esquerda radical, e conta com o apoio da mídia para tanto. Tem conseguido.

A estratégia de transformar o conceito de supremacista branco numa geleia amorfa visa justamente a colocar como refém todos aqueles que discordam de seus meios. É o velho monopólio da virtude, dos fins nobres. Se você é contra as políticas pregadas pela socialista, então claro que você é um supremacista branco, mesmo que nem saiba disso ainda. É asqueroso, mas funciona.

A esquerda prospera onde há definições vagas de conceitos importantes. É por isso que radicais preconceituosos conseguem posar de “liberais tolerantes”. É por isso que gente como AOC consegue colocar conservadores moderados como Ben Shapiro, alvo concreto de supremacistas brancos, no mesmo time dos supremacistas brancos. AOC não está só: essa tem sido a postura de vários democratas após o atentado. É preciso denunciar a desonestidade dessa turma.

Rodrigo Constantino

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