Já falei bastante sobre essa questão indígena, do mito do “bom selvagem” e da elite culpada que enxerga os índios como mascotes ou animais de zoológico. Não vou retornar aos pontos principais aqui. Pretendo apenas expor os pontos de vista diferentes, com Bolsonaro de um lado e Ayres Britto do outro, para que o leitor possa concluir quem realmente parece mais preocupado com o destino dos pobres índios.
O aspecto legal e constitucional da coisa eu deixo aos especialistas. Aqui foco mais no aspecto moral mesmo. Sei que “especialistas” alegam que a ideia do presidente eleito de rever a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol é inconstitucional, mas o ponto é outro: criaram-se verdadeiras “favelas rurais” indígenas em nome da proteção do índio.
Portanto, falar em “negar ao índio o direito a terras” é um disparate: o que se pretende é justamente dar aos índios o direito de explorar essas terras, em conjunto com capitalistas interessados. Bolsonaro disse que a reserva é “a área mais rica do mundo” e que é possível explorá-la “de forma racional”. Está errado? Ou a área indígena, repleta de recursos, não deve ser explorada jamais para que o habitat “natural” dos índios continue intacto, só para satisfazer o gozo estético dos filhotes de Rousseau?
O ultraesquerdista Bernardo Mello Franco usou sua coluna de hoje para expor o ponto de vista do ex-ministro Carlos Ayres Britto, que fala em “direito adquirido” dos índios. Ele alega que o tema foi tratado “exaustivamente” no STF, como se não fosse sequer aceitável questionar as decisões passadas (curiosamente os esquerdistas se mostram bastante conservadores quando interessa, para logo depois rasgar a Constituição, tratada como “organismo vivo” que deve se adaptar aos “tempos modernos”). Por fim, Mello Franco cita uma passagem espantosa do ex-ministro:
Na semana passada, Bolsonaro disse a deputados que não demarcará “um centímetro quadrado a mais de terra indígena”. “Os índios foram desalojados e usurpados. O que sobrou deles foi muito pouco, e mesmo assim não conseguem ocupar suas terras”, afirma Ayres Britto. “A sociedade brasileira é muito conservadora. Persegue negros, mulheres, índios. Nós conseguimos dar um passo à frente, e agora querem botar um pé atrás”, lamenta.
Não falo apenas da declaração de que os índios, que são muito poucos como reconhece o ex-ministro, mas desfrutam de mais de 10% do território nacional e ainda assim não conseguem “ocupar suas terras”; falo principalmente do conceito de conservador que esses esquerdistas utilizam. Para Ayres Britto, segundo Mello Franco, uma sociedade conservadora é aquela que persegue negros, mulheres, índios. Para essa turma “progressista”, conservadorismo é sinônimo de preconceito, racismo, machismo, autoritarismo.
E, pasmem!, são os esquerdistas que querem, nesse caso, conservar o passado, impedindo que os índios possam explorar suas terras de olho no lucro. Já os conservadores entendem que as coisas mudam, evoluem, e querem permitir aos índios o direito de mudar de vida para melhor, buscar mais conforto, tecnologia, água quente, cerveja gelada. Aqui pertinho da minha casa tem um grande cassino. Ele fica em terra indígena. Os índios preferem explorar o turismo e os jogos a ter de viver caçando animais com arco e flecha. Que horror, não?!
Rodrigo Constantino
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