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Por Hiago Rebello, publicado pelo Instituto Liberal

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A esquerda não pode “estar no poder”. Esta não funciona, retoricamente, fora de uma oposição, seja real ou imaginária; os “gritos” pela ordem, pela democracia, pelo poder, pela mudança, funcionam muito melhor quando não se está no poder – e isto é uma característica que transcende as noções de esquerda e direita, contudo, a dependência de estar fora do meio no poder é característica da esquerda, mas por quê? A esquerda depende de vítimas, é dependente de uma dicotomia abissal entre o oprimido e o opressor, o vilão e o herói reprimido.

Sem ter alguma vítima social, em termos gerais e contínuos – isto é, de modo que encare o mundo como um sistema de opressão, injustiça e, na esquerda, tais características da realidade seriam combatidas e alteradas –, a esquerda se vê só. Ela, portanto, nunca pode estar na situação, apenas na oposição. Daí que surgem frases como “deturparam Marx”, “isso não é socialismo de verdade”, etc., quando se fala do monumental monte de cadáveres e gente empobrecida por conta da História de políticas à esquerda. Isto só ocorre por conta do choque com a realidade, com o poder, a natureza humana e a interação de um grupo político com o meio.

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A História da crítica à esquerda ao PT, por exemplo, segue a mesma via. O Partido dos Trabalhadores era o partido que mudaria o Brasil, com uma conduta e propostas políticas revolucionárias para o cenário nacional, levando, enfim, a voz do pobre, do oprimido para as altas cúpulas de poder. A solução do PT, afinal, era inchar o Estado com um assistencialismo forte, usando o poder e o dinheiro público para promover mais igualdade e justiça social.Tudo muito lindo, formoso, até a esquerda ver o PT em alianças com o “Grande Capital”, com banqueiros, multinacionais, com o mercado global que se expandia durante o governo Lula. Então o PT “traiu a esquerda”.

Toda a roubalheira, os abusos e a corrupção do partido, num passe de mágica, puderam ser criticados pelo restante da esquerda porque, afinal, o Partido dos Trabalhadores se aliara com a burguesia. No fim, já não era mais a esquerda, porque ela foi traída.

Por vezes me pergunto se a esquerda é igual a mulheres com um extremo azar para encontrar homens… Pois, por mais que tentem, só acham cafajestes. Por mais que partidos legitimamente à esquerda cheguem ao poder, eles sempre são os traidores de suas ideologias. Isto ocorre porque sempre fracassa a ideologia de se criar um mundo “melhor”, através de uma justiça social pautada nos ideias econômicos e culturais da esquerda, que são, no fim, falsidades. A esquerda apodrece no poder, e sempre apodrecerá, porque não é pautada na realidade, mas sim em ideologias fictícias.

Historicamente, mesmo antes de Marx, a esquerda sempre falhou em concretizar seus planos. A Revolução Francesa, por exemplo, longe de firmar ideais de justiça e fraternidade universais, acabou inchando cada vez mais o Estado, coagindo e oprimindo mais ainda os franceses do que os reis absolutistas de antes – literalmente, seria melhor para a França se não houvesse uma Revolução –; para testar suas teorias sociais, não tiveram vergonha de fazer da sociedade seu tubo de ensaio.

Frédéric Bastiat, por exemplo, denuncia a falta de escrúpulos de socialistas franceses na política do século XIX:

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Os socialistas consideram a humanidade como matéria para combinações sociais. E isto é tão verdade que, se porventura os socialistas tiveram alguma dúvida a respeito do sucesso destas combinações, eles pedirão que uma pequena parte da humanidade seja considerada matéria para experiência. Sabemos o quanto é popular entre eles a ideia de experimentar todos os sistemas. E um líder socialista, seguindo sua fantasia, pediu seriamente à assembleia constituinte que lhe concedesse um pequeno distrito, com todos os seus habitantes, para desenvolver sua experiência”.

A “fantasia”, como diz Bastiat, é a ideologia. Ela não faz questão de se adequar à realidade, à Natureza Humana, ao meio cultural e social. Os esquerdistas querem é um Mundo Novo, melhor, então precisam ignorar a condição humana para tal. Quando estão no poder, dão de cara com a realidade de quem está no poder, no jogo político, no controle administrativo que vê, à sua frente, as possibilidades e impossibilidades da gestão, de mudanças.

Mesmo se um partido de esquerda não fosse corrupto fora do poder executivo, o mundo iria esbarrar e barrar a implementação dos ideais defendidos. No fundo, mais uma vez, a esquerda não funcionaria de novo, o que a faria alvo dos críticos à esquerda.

Aliando-se ao “grande capital”, com a burguesia, ou tentando implementar seus programas impossíveis de qualquer modo (como a Reforma Urbana ou Agrária), críticos esquerdistas fora do poder denunciariam a cumplicidade com os empresários opressores ou a opressão que a implantação forçada da ideologia causará. Como sempre, não haverá autocrítica dentro da esquerda. Não irão pensar se o que está errado, afinal, não é a ideologia esquerdista, mas sim o mundo que não a segue.

Colocam, sempre, seus representantes no poder como traidores. Se assim não ocorresse, o fenômeno da esquerda não teria passado do Terror da Revolução Francesa. Mas a questão é: isso não ocorre, também, com a direita?
Fugir, ou simplesmente, ignorar a realidade não é uma característica exclusiva da esquerda; pode-se até argumentar que a ideologia criou uma cultura de fuga da realidade, na mente esquerdista, porém isto não é invenção ideológica, apenas. É universal o mau hábito de desconsiderar o que se vê pelo que se deseja; portanto, propostas e políticas à direita não estão isentas desse erro.

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Uma política econômica liberal para desinchar o Estado pode se ver seriamente impedida por convulsões sociais ou durante uma guerra. O mercado externo, também, pode ser avesso ao liberalismo; o conservadorismo pode encontrar uma sociedade mais violenta e sucessível às revoluções do que reformas brandas e prudentes. Mesmo que o liberalismo e o conservadorismo (por comprovação histórica) não sejam ficcionais, mas correntes de pensamento que se pautam e embasam na realidade das tradições, da dinâmica de mercado e de axiomas gerais para tratar do Homem, o desejo descabido, a ansiedade e frustração podem conduzir tais políticas ao desastre.

No caso do Brasil, a direita ainda não possui um espaço considerável. À exceção dos Bolsonaros e outros gatos pingados, políticos que sigam uma pauta verdadeiramente liberal são poucos, e conservadores de fato, na política, também menos ainda – mesmo que haja a Frente Católica e a Bancada Evangélica, essas duas alas, socioeconomicamente, não se aproximam (nem na teoria) do que seria o conservadorismo de Edmund Burke, que é a baliza para o conservadorismo político.

Portanto ainda, sim, não há uma representação decente da direita no poder executivo e legislativo no país; não que, caso alguém como Jair Bolsonaro seja eleito para a presidência da República em 2018, não vão existir erros, desilusões e decepções para com a política de Bolsonaro, ou qualquer outro direitista. Mas diferente da esquerda, não pretendemos fazer do mundo um lugar melhor, no sentido de mudar a natureza das coisas – normalmente, como a História já mostrou e o presente nos mostra, quem assim quer só consegue piorar o mundo.

Não existirá uma “verdadeira direita” apenas na oposição. O que se entende por direita pode ser ruim tanto em ato, como em potencialidade política, pois mesmo pregando eficiência, racionalidade e prudência, não necessariamente se fará uma política boa só por “ser de direita”.

Não vendemos um peixe que ninguém pode pescar (o peixe do mundo melhor sequer existe). Liberais e conservadores não prometem um mundo rosado, cheio de flores e de paz e igualdade para todos. Sabemos que esse mundo ideal tem menos validez realista que um conto de fadas.

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