Uma universidade deveria ser palco para uma elite – sim, a universidade não é para todos – disposta a pensar, a debater livremente, a buscar de forma imparcial o conhecimento, a sabedoria e a verdade. Assim ao menos foi pensado quando elas foram criadas, na Idade Média, e por séculos a ideia permaneceu viva. Não mais. Hoje vemos “espaços seguros” e um “código de fala” asfixiando os debates, criando máquinas de repetição de slogans que não aprenderam a pensar por conta própria.
O conservador Roger Scruton escreveu um texto no Times sobre o assunto, afirmando que a esquerda universitária trouxe de volta o conceito de heresia ao campus, justamente onde os debates deveriam ser acalorados e abertos. Sua mensagem, corroborada por vários outros pensadores, como Niall Ferguson, mostra como é urgente resgatar o ambiente livre nas universidades. Diz Scruton:
As religiões oferecem adesão. Elas enchem o vazio no coração com a presença mística do grupo, e se elas não fornecem esse benefício, elas irão murchar e morrer, como as religiões do mundo antigo durante o período helenístico. É, portanto, da natureza de uma religião se proteger de grupos rivais e das heresias que os promovem.
Os estudantes universitários de hoje têm pouco tempo para religião e nenhum tempo para grupos exclusivos. Eles estão particularmente insistentes que as distinções associadas à sua cultura hereditária – entre sexos, classes e raças, entre gêneros e orientações, entre religiões e estilos de vida – devem ser rejeitadas, no interesse de uma igualdade abrangente que deixa cada pessoa ser quem ela ou ele realmente é. A “não discriminação” é a ortodoxia do nosso dia. No entanto, essa aparente mentalidade de abertura está tão determinada a silenciar o herege quanto qualquer religião estabelecida.
Em seguida, Scruton apresenta alguns casos, que estão longe de serem isolados, pois viraram a tendência no meio universitário. Ele menciona em particular o feminismo radical, que tem encontrado terreno fértil nas universidades para calar os debates e punir os “hereges”, eliminando qualquer chance de busca pela verdade objetiva:
A verdade surge por uma mão invisível de nossos muitos erros, e tanto o erro como a verdade devem ser permitidos se o processo for para funcionar. A heresia surge, no entanto, quando alguém questiona uma crença que não deve ser questionada dentro do território favorecido de um grupo. O território privilegiado do feminismo radical é o mundo acadêmico, o lugar onde as carreiras podem ser feitas e as alianças se formaram através do ataque ao privilégio masculino. Um dissidente dentro da comunidade acadêmica deve, portanto, ser exposto, como Sir Tim, à intimidação pública e ao abuso, e na era da internet, esse castigo pode ser ampliado sem custo para aqueles que o infligem.
Trata-se, claro, de um processo de intimidação que visa ao silêncio dos opositores, dos críticos, dos dissidentes, dos “hereges”. A conclusão de Scruton é que a verdadeira diversidade de opiniões, que uma universidade deveria sustentar, vem sendo erodida e em alguns lugares foi completamente destruída. Scruton conclui:
Creio que uma instituição em que a verdade pode ser imparcialmente procurada, sem censura e sem penalidades impostas aos que não concordam com a ortodoxia prevalecente, é um benefício social além de tudo o que agora pode ser alcançado controlando a opinião permitida. Se a universidade renuncia ao seu chamado na questão do argumento dirigido pela verdade, torna-se um centro de doutrinação sem doutrina, uma forma de fechar a mente sem o grande benefício conferido pela religião, que também fecha a mente, mas a fecha em torno de uma comunidade moral real.
Na mesma linha, um professor de Direito da Faulkner University, em Alabama, escreveu um artigo “duro” sobre os millennials, alertando que se eles substituem o “eu penso” pelo “eu sinto”, eles estão agindo como galinhas. Adam MacLeod diz que, ao contrário do estereótipo, percebeu que a ampla maioria de seus alunos quer aprender, mas que, confirmando o estereótipo, muitos não sabem pensar, não possuem muito conhecimento, e estão escravizados por seus apetites e sentimentos.
Para MacLeod, a culpa é dos professores: “Suas mentes são refém em uma prisão formada pela cultura de elite e seus professores de graduação. Eles não podem aprender até que suas mentes sejam libertadas da prisão”. Ele afirma que, antes de ensinar os alunos a raciocinar, é preciso ensiná-los a abandonar essa irracionalidade, já que foram não educados, mas doutrinados. Ele acrescentou:
A maioria de vocês foi ensinada a rotular coisas com vários “ismos” que impedem que você compreenda as alegações que achar desconfortáveis ou difíceis. O raciocínio exige um julgamento correto. O julgamento envolve fazer distinções, discriminar. A maioria de vocês tem sido ensinada a evitar julgamentos críticos e avaliativos apelando para termos simplistas como “diversidade” e “igualdade”.
O raciocínio requer que você compreenda a diferença entre verdadeiro e falso. E o raciocínio requer coerência e lógica. A maioria de vocês foi ensinada a abraçar incoerência e ilógica. Você aprendeu a associar a verdade com seus sentimentos subjetivos, que não são nem verdadeiros nem falsos, mas somente seus, e que são constantemente variáveis.
O professor diz que se os alunos trocarem o “eu penso” pelo “eu sinto” no começo de suas declarações, então eles podem passar a emitir sons de galinhas, ou qualquer outro grunhido animal, já que seria mais adequado do que a fala humana, propícia para quem quer pensar, argumentar, debater ideias e buscar a verdade.
Alguns podem julgar a mensagem do professor muito dura, mas isso já seria sintoma de uma era de vitimismo que não tolera “ofensas”, i.e., verdades incômodas, e que prefere punir os “hereges” a ter que debater seus argumentos. As seitas politicamente corretas, criadas pela esquerda há décadas, estão matando as universidades. E isso sim, é um tremendo pecado!
Rodrigo Constantino
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