Salim Mattar, fundador da Localiza, é um dínamo, um foguete com muita energia que aponta na direção do liberalismo. Quem o conhece sabe. E quando ele anunciou que iria para o governo como Secretário de Desestatização, ajudar Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, foi aquela alegria: não há ninguém mais preparado para o cargo do que ele.
Não obstante, logo pensei: Salim vai bater de frente com o “sistema”, e não vai ser agradável. Acostumado a liderar uma empresa privada, sendo apontado como melhor CEO por revistas importantes do ramo, Salim domina como poucos a arte da gestão, inspirando funcionários, extraindo seu melhor e, claro, cobrando resultados.
Mas uma coisa é o setor privado; outra, bem diferente, é o setor público. O mecanismo de incentivos é muito diferente. Não há a mesma flexibilidade para administrar, muitos interesses políticos entram em campo, a burocracia é engessada, enfim, um empresário tem vontade de arrancar os cabelos no governo! Felizmente, nesse sentido, Salim não tem com o que se preocupar.
Em entrevista à Veja, porém, ele se disse “frustrado”. Os interesses corporativos que precisa enfrentar são muito grandes. Não bastasse isso, os obstáculos criados pelo próprio governo atrapalham. Bolsonaro, afinal, nunca foi um liberal convicto, ao contrário de Salim e Paulo Guedes. A “conversão” é muito recente, e incompleta.
Por Salim e Guedes, todas as estatais seriam privatizadas. Já está claro que isso não vai ocorrer, nem de perto. Até a EBC, antro de petistas, vai continuar operante. As grandes, como Petrobras, Caixa e Banco do Brasil, nem pensar. Mas Salim quer torna-las, ao menos, mais enxutas, e conta com liberais em seus comandos para tanto.
“Se a decisão fosse minha, eu privatizava tudo. Não faz sentido o governo ter bancos. Mas a orientação que recebi é manter a Caixa, o Banco do Brasil e a Petrobras. Talvez eu esteja um pouquinho mais à direita do ministro Paulo Guedes, porque sou quase um libertário. Mesmo sem essas joias da coroa, será possível arrecadar quase 1 trilhão de reais com as privatizações”, disse.
Salim admite estar em fase de aprendizado, e reclama de obstáculos criados pelo próprio governo, em especial o ministério de Ciências e Tecnologia, de Marcos Pontes. Gostaria de acelerar o processo, mas entende que a prioridade é a reforma previdenciária. E finaliza a entrevista com uma frase de otimismo: “o governo está indo bem”.
A frustração do empresário é compreensível. Bolsonaro não é um liberal, e mesmo que fosse, tocar uma agenda de privatizações não é o mesmo que tocar uma empresa. Mas pode ser o caso de Salim estar reduzindo um pouco as expectativas para poder entregar mais do que o prometido. Veremos.
O Brasil tem na equipe econômica um “dream team”, e Salim Mattar é um dos heróis. Espera-se que o presidente perceba isso e passe a delegar mais autonomia a Guedes e sua turma. Parece, porém, um sonho distante. Para os efeitos de uma agenda liberal efetivamente se fazerem sentir, creio que teremos de esperar um governo realmente liberal. Salim para presidente!
Rodrigo Constantino