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Estudantes de Nova Hamburgo: não é vergonhoso ter trabalho; vergonhoso é não trabalhar

Por Rafael Hollanda, publicado pelo Instituto Liberal

As desconcertantes cenas de corrupção, malandragem, crise econômica e depravação moral em nosso país demonstram a situação putrefata do estado de coisas nacional. Recentemente, jovens do 3º ano do ensino médio de uma escola de Novo Hamburgo resolveram jogar mais um “tempero” nada agradável neste caldeirão de absurdos diários em que se transformou o Brasil do Petrolão, de Michel Temer, de Lula e do consumo de drogas.

O caso citado acima foi uma festa organizada pelos alunos na qual eles deveriam se fantasiar com trajes que representassem o que aconteceria com a sua vida caso tudo “desse errado”. A maior parte foi fantasiada de motorista, porteiro, vendedor, atendente do McDonalds e empregada doméstica.

Em primeiro lugar não é decente que se chame de “festa” um evento cuja temática é tão problemática. O que ocorreu naquele colégio foi uma total inversão de valores e um desrespeito ao trabalho de uma forma geral.

Esses jovens demonstraram extremo mau gosto ao considerar como “dar errado” exercer um trabalho honesto, digno e que gera valor para a sociedade. Uma das coisas mais cruéis que se pode fazer é desmerecer um indivíduo por conta da função honesta que ele desempenha.

No tempo em que fui aluno, a “piada” “se tudo der errado vou trabalhar no McDonald’s” também era muito repetida por conhecidos meus. Sempre achei aquilo extremamente cruel e arrogante.

É notório que milhares de empreendedores de sucesso começaram sua vida profissional na famosa rede de lanchonetes. A diferença da cabeça desses trabalhadores para os jovens do referido colégio gaúcho é que os primeiros compreenderam a importância de gerar valor para a sociedade através do trabalho sério. Enquanto isso, muitos jovens estudantes pensam que exercer determinada função é algo desonroso e deve ser depreciado. Em suma, eles enxergam o trabalho de atendente degradante quando deveriam encarar como uma oportunidade para o próprio crescimento.

Será que nossa precária posição nos índices de desenvolvimento não está relacionada com essa maneira equivocada de classificar o trabalho por “castas”, como se houvessem trabalhos “dignos” e “indignos”? Em países desenvolvidos como Israel e Estados Unidos a cultura do trabalho costuma estar presente na mentalidade dos jovens. O que importa é produzir, criar, inovar e o primeiro trabalho é sempre aquele que mostrará ao indivíduo o mundo como ele é. Essa experiência fará com que o trabalhador lide com o público, aprenda a ter postura e exercite a sociabilidade. Nestes dois países citados o trabalho é encarado como edificante e colaborativo, conferindo ao trabalhador autoconhecimento, prestígio por mérito, sustento e independência.

No Brasil, é muito comum se avaliar positivamente aquela profissão que pode oferecer reconhecimento e status quando, na realidade, o trabalho deveria ser encarado como nas nações citadas. Não é vergonhoso ter trabalho. Vergonhoso é não trabalhar.

O mal em muitos jovens é sempre querer tecer opinião sobre tudo sem estudar, sem conhecer com mais profundidade os fenômenos importantes.

Certa vez, eu estava conversando com uns amigos mais velhos sobre a situação econômica do país e sobre trabalho. Depois de expor uma arrogância juvenil característica, recebi uma lição que nunca vou esquecer e passarei para os meus filhos. As palavras de um deles foram exatamente estas: “Rafael, eu vejo que você fala, fala, fala, mas não faz nada. Esse seu falatório todo supostamente em prol do país é útil em que? Você tem certeza que é a realidade? Quem você beneficia com isso? Você consegue contribuir com o que? Você consegue produzir mil reais, por exemplo? Por que você não experimenta dar menos opiniões e botar a mão na massa, na vida real? Por que não faz primeiro e depois fala? Talvez muitas das suas concepções sobre a vida mudem com isso.”

Foi a partir desse conselho que passei a analisar que muitas das minhas concepções sobre a vida estavam equivocadas e desprovidas de base real, que eu era inexperiente e não poderia tecer opiniões sobre fatos que ainda não tinha vivenciado. Em suma, percebi que a teoria de nada vale sem a prática e que é necessário ter conhecimento de causa para se falar.

Meu amigo me desafiou: “te dou dois meses para você conseguir 1000 reais ou mais”. Eu topei o desafio e, em julho, consegui um estágio temporário em uma famosa corretora do mercado financeiro. Lá, aprendi a investir em ações, fiz diversas anotações, trabalhei na mesa de negociações e tirei todas as minhas dúvidas. Passei três semanas trabalhando na sede em São Paulo e uma semana na filial do Rio de Janeiro. Depois disso, recebi a minha primeira remuneração por um serviço prestado, foi pouco menos de mil reais. Decidi investir esse dinheiro no mercado de moedas. Com a crise chegando, eu multipliquei o dinheiro com a alta do dólar e mostrei ao meu amigo a comprovação. Ele ficou extremamente contente e disse: “seja bem-vindo ao mundo real e parabéns! Viu como é gostoso servir? Se sentir útil e gerar valor?”

Em minha opinião o que falta ao jovem são aquelas duas coisas de que Nelson Rodrigues tanto falava: experiência e envelhecimento. Quem sabe esses jovens de Novo Hamburgo descobrem o seu lugar no mundo se refletirem e se mostrarem dispostos a aprender? É justamente essa consciência que os fará crescer como pessoas e como trabalhadores.

A desvalorização do trabalho denota uma grave crise no tecido social, uma inversão de valores e um desestímulo pela geração de riqueza.  Quem perde com esse tipo de postura social é o país. Quando um jovem expressa esse tipo de pensamento sobre trabalhos honestos é sinal que perdeu o respeito pelo próximo.

A pobreza não é algo genético ou hereditário nem está vinculada a uma profissão ou a alguém que a exerce. É uma situação financeira que pode ocorrer com qualquer um de nós e em qualquer momento de nossas vidas. O antídoto para isso é o trabalho e a responsabilidade. Estes jovens me lembraram de Ronald Reagan ao se referir ao governo como algo que tem um grande apetite de um lado e nenhum senso de responsabilidade no outro.

Esse julgamento preconceituoso sobre o trabalho é um problema da realidade brasileira que pode ser corrigido com duas coisas: a primeira é a experiência e o empreendedorismo. Isso os ensinará desde cedo as dificuldades de geração de riquezas e a importância da engenhosidade humana para o desenvolvimento da sociedade como um todo.

Não excluo o fato de que o pensamento oligárquico oriundo da histórica concentração de poder estatal existente em nosso país também tem grande parcela de culpa em tratar como inferiores pessoas que exercem determinadas funções.

Que todos os brasileiros, sobretudo os jovens, tenham em mente: não existe trabalho honesto que sinalize que alguém “deu errado”. Ninguém é inferior a ninguém porque exerce certas funções.

Acredito que esses jovens deveriam aprender o que significa “contribuir” para, depois de terem experiência sobre a vida, poderem opinar sobre o que é “dar certo” e “dar errado”. Com certeza, eles teriam outra mentalidade e se arrependeriam do absurdo que encenaram.

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