Ficou famosa a carta de Émile Zola chamada J’accuse sobre o caso Dreyfus, publicada em 1898. Zola ataca aqueles que foram coniventes com a farsa do julgamento do judeu inocente. Em uma passagem, ele diz: “Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu”.
Pois muito bem: são poucos aqueles, infelizmente, que podem bancar o Zola no Brasil de hoje. Poucos jornalistas e colunistas podem dormir com essa tranqüilidade, sem ser atormentados pelo espectro de Santiago Andrade, morto por black blocs tão enaltecidos pela imprensa, por artistas e “intelectuais”. Um deles é Reinaldo Azevedo, em quem baixou o espírito de Zola para escrever sua coluna desta sexta na Folha.
O título de seu artigo foi justamente “Eu acuso”, acompanhado da alcunha “Dilma ‘Red Bloc'”, fazendo menção ao fato de que a presidente, após uma cambada de baderneiros do MST deixar vários policiais gravemente feridos, ter, como prêmio, recebido a liderança do movimento no Palácio do Planalto.
Reinaldo cita nomes, como Franklin Martins, José Eduardo Cardozo e Gilberto Carvalho, a trinca petista que costuma ser conivente com todo tipo de “movimento social” que se julga acima das leis brasileiras. Ataca também a imprensa, covarde, silenciosa na hora de expor a violência desses “ativistas”.
Hoje, no GLOBO, foi a vez de outro jornalista que pode bancar o Zola apontar o dedo na direção dos mesmos alvos, de todos esses que acreditavam no Brasil “bonzinho”, no gigante que havia acordado e construiria um novo país (qual?, pergunta o autor, um Afeganistão?). Falo, claro, de Guilherme Fiuza, em sua coluna “A bondade dos assassinos”. Diz ele na largada:
O Brasil bonzinho assassinou o cinegrafista Santiago Andrade. Não foi outro o criminoso. Quem matou Santiago foi esse Brasil envernizado de bondade e infernizado de hipocrisia. Nenhum débil mental mascarado poderia ter matado Santiago sem a cumplicidade desse monstro.
A herança maldita da Primavera Burra foi apontada exaustivamente neste espaço. Os bem-pensantes e os demagogos — hoje praticamente indiscerníveis — continuaram matraqueando que os políticos precisavam ouvir “o recado das ruas”. Mentira. Não houve recado nenhum. Não há uma mísera mensagem aproveitável daquele carnaval cívico, onde multidões exuberantes marcharam contra tudo e contra nada — na mais patética perda de oportunidade política na era do Império do Oprimido.
Mas Fiuza tampouco é otimista em relação ao despertar da imprensa e do povo. Cita, também, o caso dos “red blocs” do MST, e conclui:
Por falar em assassinato, os diplomatas do MST deixaram dez policiais gravemente feridos em Brasília. O Brasil está esperando um deles morrer para se horrorizar.
E o que aconteceu com os agressores? Foram recebidos em seguida por Dilma Rousseff no palácio, para um bate-papo de uma hora sobre reforma agrária. O que você está esperando para pegar sua borduna e ir atrás do que é seu?
Não é fácil a vida de jornalistas e colunistas que remam contra a maré vermelha hegemônica no Brasil. Todos morrem de medo de ser vistos como “direita”, ou “preconceituosos”, “reacionários”, “conservadores”. Todos querem posar de “progressistas”, de engajados, e preferem escrever aquilo que a turminha deseja ler, em vez de aquilo que deveria ler.
Mas esses poucos, se não são capazes de reverter o rumo das coisas sozinhos, ao menos podem se dar ao luxo de dormir sem sangue inocente no travesseiro, sem o peso na consciência por ter aplaudido marginais assassinos. Já é alguma coisa. E, com muito orgulho, apesar de não ser jornalista, posso me colocar no time dos “Zolas” que alertaram desde o começo dos perigos de tudo isso, mostrando que arruaça de mascarados jamais poderia acabar bem.
Portanto, eu também acuso!
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião