Em sua coluna de hoje no GLOBO, o historiador Marco Antônio Villa elogia o começo do governo Michel Temer, apesar dos percalços, frisa que ele acerta na economia, sendo que ainda falta seguir adiante com as boas propostas, e alerta que será preciso enfrentar com maior coragem e determinação os “movimentos sociais” ligados ao PT.
Villa não alivia nas palavras na hora de qualificar a era lulopetista de “projeto criminoso de poder” por parte de uma quadrilha. E faz um prognóstico sombrio: no caso de uma improvável volta deste projeto ao poder, o Brasil entraria em guerra civil, como parece prestes a acontecer na Venezuela:
Se não há qualquer possibilidade de o projeto criminoso voltar ao poder, o que poderia levar o país à guerra civil, é líquido e certo que Temer deve organizar um governo sob novas bases quando for presidente de fato. O maior desafio será a convivência com um Congresso sob a mira da Justiça e que deve tentar chantagear o Executivo nas questões consideradas vitais para a nova administração federal.
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Na interinidade, o presidente vai conviver com os constantes ataques petistas e de seus comparsas. E quando se aproximar a data do julgamento, a tendência é de enfrentamento nas ruas. Buscam desesperadamente um cadáver. Têm de transformar o governo em repressor. Faz parte do script dos marginais que foram defenestrados do poder. Caberá ao governo manter a ordem dentro dos limites constitucionais.
Ainda haverá muitas surpresas. A principal fonte deverá ser a operação Lava-Jato. Não é descartada a prisão de Lula. Afinal, mantê-lo em liberdade é colocar em risco as investigações, pois o ex-presidente pode coagir as testemunhas, destruir provas. Mantê-lo solto também é um perigo para a ordem pública. Ele estimula a guerra civil em todos os seus pronunciamentos. Além da contradição de o chefe do petrolão continuar a fazer política — leve, livre e solto — da mesma forma como desempenhou a sua presidência e de sua criatura.
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Até o momento, Temer tem conseguido administrar os conflitos. Porém, é necessário avançar e enfrentar os opositores. Uma saída conciliatória é inviável. Passar à ofensiva é a melhor forma de fortalecer o governo e garantir a aprovação do impeachment, sem ter de aceitar a chantagem de senadores corruptos. E para isso tem de, inicialmente, convocar uma rede nacional de rádio e televisão para expor — ainda que sem um levantamento completo — a situação em que encontrou o governo. Não será, infelizmente, necessário uma ampla pesquisa. Basta relatar, sucinta e didaticamente, o que o PT fez com as empresas e bancos estatais e a máquina estatal. Mostrar o descalabro e seu significado econômico-social é a melhor defesa frente aos golpistas que rasgaram os ordenamentos legais da República, seus princípios, sua história.
No campo econômico, Villa acha que Temer vai bem, e tendo a concordar. Na área externa, idem, com José Serra mudando o tom em relação aos bolivarianos. Já com relação aos “movimentos sociais”, Villa considera perigoso ceder demais: “Ceder faz parte do jogo democrático, mas ceder por mera pressão de grupelhos sem representação social efetiva é fraqueza”. Concordo também. Pensando friamente, Temer quer evitar muito barulho nessa área, mas chega um momento em que não dá mais para “negociar” com chantagistas.
A sugestão de Villa, de que Temer convoque um comunicado em rede nacional de televisão e rádio para expor o estado das coisas em que encontrou o governo, é muito boa. Não podemos esquecer que se trata de uma batalha de narrativas, e o PT usa seus milicianos para divulgar mentiras, como a do golpe. Temer precisa reagir, precisa compreender a importância da narrativa, em vez de confiar apenas nos fatos. Deve explicar com calma e de forma didática o grau de destruição que o PT deixou.
Por fim, fica o alerta feito pelo historiador, com o qual também estou de pleno acordo: “Imaginar um retorno de Dilma ao Palácio do Planalto seria transformar Brasília em Caracas. É brincar com fogo. E pode acabar mal”. Temer patina sobre gelo fino. Nessas horas, a velocidade é fundamental para não afundar.
Rodrigo Constantino
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