A “memória” do Facebook às vezes serve para alguma coisa útil. Em dois dias, a rede social resgatou duas postagens minhas antigas que, juntas, formam uma mensagem coesa que representa a principal razão de meu afastamento do libertarianismo mais radical e utópico para um liberalismo clássico mais conservador, prudente, realista. São elas:
“Aqueles que fracassam em assuntos cotidianos mostram uma tendência de buscar o impossível. É um dispositivo para camuflar suas falhas. Pois quando falhamos em tentar o possível, a culpa é unicamente nossa; mas quando falhamos em tentar o impossível, estamos justificados em atribuí-lo à magnitude da tarefa. Há menos risco em ser desacreditado ao tentar o impossível do que ao tentar o possível.” (Eric Hoffer, The True Believer)
“Movimentos utópicos obtêm sucesso porque dizem às pessoas algo que elas desejam desesperadamente ouvir. Se a mensagem é ou não verdadeira não vem ao caso. Ela fala a uma necessidade profundamente sentida, e isso é suficiente. […] Na medida em que alguém endossa a apoteose da possibilidade, ele tende a tratar o mundo real e os seus ocupantes com desprezo arrogante. Por isso o elemento utópico em todos os movimentos políticos totalitários.” (Roger Kimball, The Long March)
Um amigo meu gaúcho, empresário, diz que cansou de duas posturas que, infelizmente, vemos muito por aí na direita: gente que só reclama sem apresentar uma só solução ou fazer sua pequena parte pelas mudanças necessárias; e gente que apresenta “soluções” mágicas, inexequíveis, inalcançáveis, como se o Brasil fosse melhor do que a Suíça e precisasse debater as nuanças de um modelo perfeitinho, em vez de combater as emergências que temos num país com mais de 60 mil assassinatos, 13 milhões de desempregados, metade da população sem saneamento básico etc.
Concordo com ele. Também cansei disso. Movimentos “revolucionários” utópicos podem até ter seu papel no campo das ideias, mas temos questões sérias demais que precisam ser resolvidas “pra ontem”, e não podemos nos dar ao luxo de ficar só na “masturbação mental” de quem goza ao debater o sexo dos anjos, a “pureza” das ideias. Tampouco podemos ficar insistindo em apostas que são politicamente inviáveis, mas que trazem aquele belo consolo mental de quem “tentou o impossível”.
Eu quero saber: o que pode ser feito já, e com resultados concretos? Como podemos melhorar a situação do país, em vez de permanecer aprisionados em “ideais” inatingíveis? Em política, o que prevalece é a arte do possível, e temos que jogar com as fichas que temos, com as regras do jogo como elas são. Quem joga pôquer (Texas Hold’em) sabe que é muito fácil só ir nas mesas quando tem KK ou AA na mão. O bom jogador utiliza as cartas que tem, de acordo com sua posição, com a postura dos adversários, com as probabilidades concretas e os riscos inevitáveis.
Ficar à espera de Godot, de algum milagre, de um “candidato perfeito”, é o mesmo que nada fazer para mitigar os males reais que nos assolam hoje. Não dá mais para olhar para um futuro distante em nome de alguma utopia qualquer. É preciso usar as cartas que temos nas mãos, a posição que a direita conquistou, a situação de fraqueza dos nossos adversários. É blefe? Talvez. Não temos um AA, tampouco um KK ou AK. Mas a esquerda está ainda pior, com seus micos nas mãos. É hora de ir para a jugular deles: all in!
Rodrigo Constantino
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