O Colégio São Bento é um dos mais prestigiados do Brasil, sempre no topo dos rankings de qualidade. Além da firmeza na cobrança de conteúdo, o colégio também é conhecido por seu viés tradicional, e teve um grande legado deixado pelo reitor Dom Lourenço de Almeida Prado, cujos livros sobre educação recomendo a todos.
Foi com um misto de tristeza e espanto, portanto, que vimos até o São Bento aderir à paralisação (greve) fomentada pela CUT contra a reforma previdenciária, necessária para que o país não quebre de vez. Mas como sua formação foi exemplar nos anos passados, eis que ex-alunos não deixaram a coisa passar em branco: assinaram uma petição, uma moção de repúdio a esta postura da escola:
Na qualidade de ex-alunos do Colégio de São Bento do Rio de Janeiro (CSB/RJ), e tendo tomado conhecimento da suspensão das aulas no dia 15 de março de 2017 em razão da adesão do corpo docente do Colégio à paralisação geral incentivada pelo Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro (SINPRO-Rio) nesta data, sentimo-nos na obrigação de vir a público manifestar nosso repúdio à postura adotada pelos professores da instituição.
Lamentavelmente, vivemos em nosso país um intenso acirramento político-ideológico, que vem se manifestando em diversos espaços, em especial nas salas de aula da grande maioria dos colégios e universidades brasileiros – públicos e privados, sem distinção. No CSB/RJ, conhecido por sua excelência e formação humanista, desde a nossa juventude fomos instigados a pensar de forma ampla e independente, evitando, assim, a influência de qualquer concepção de vida ideologizada, que é aquela que despreza os mais basilares fundamentos do saber: a realidade e a verdade.
Aliado a isso, temos a certeza que os pais dos alunos do CSB/RJ, ao matricularem seus filhos em secular instituição e arcarem com uma expressiva mensalidade, desejam que estes tenham aulas regulares, sem quaisquer paralisações, a fim de obterem todo o conhecimento disponível. Trata-se de uma questão que não diz respeito apenas ao bom cumprimento dos contratos em uma relação de consumo, mas também ao bom senso que rege as relações interpessoais.
A partir dessas ideias, temos a asseverar que o direito de manifestação consagrado na Constituição de 1988 – tenha ele o teor e o espectro político que tiver – não pode implicar no desrespeito aos contratos de prestação de serviço educacional celebrados entre os pais e o Colégio, nem mesmo às tradições centenárias da instituição de prezar pela pluralidade de ideias e o debate, ainda mais quando tal ato tem nítido caráter político-partidário.
Como se sabe, o Sindicato dos Professores Município do Rio de Janeiro (SINPRO-Rio) é controlado há anos por partidos políticos de extrema-esquerda, que se utilizam da categoria para promover sua agenda política e interesses pessoais. Por tal razão, é falaciosa a afirmação de que o posicionamento adotado pelo corpo docente do CSB/RJ seja “apartidário”. Tanto a instituição que convocou a paralisação quanto o próprio comunicado divulgado pelos professores – ao afirmar ser um “posicionamento político” – determinam a natureza ideológica do ato. E, como já dito, toda ideologia é perigosa e deletéria, tendo levado o Brasil a uma mais das graves crises de sua história, que, em última análise, motiva as reformas que agora se critica.
Ainda, não é verdade que haja um consenso de que a PEC 287/2016, que trata da Reforma da Previdência, seja um retrocesso nos “direitos conquistados ao longo de anos de luta por respeito e dignidade de milhões de trabalhadores do nosso país”. Ao contrário, há um entendimento relativamente tranquilo entre economistas e financistas – inclusive diversos ex-alunos do CSB/RJ com ampla e sólida formação acadêmica – de que tal reforma não é apenas necessária, mas imprescindível para a recuperação do país. O déficit de previdência é real e não pode ser tratado com o simplismo que a nota buscar dar. Se o problema não for tratado agora, criará um grave conflito intergeracional, no qual aqueles que hoje contribuem – e também protestam – nada receberão.
Por essas razões, repelimos veementemente a postura do corpo docente do CSB/RJ e, como forma de garantir a pluralidade de ideias e o debate, que são tão caros à instituição, requeremos à Diretoria do CSB/RJ a adoção das seguintes medidas:
(1) Realização de sessão aberta de debates a respeito do escopo e aspectos relacionados à PEC 287/2016, que assume papel de protagonismo na paralisação ocorrida em 15 de março de 2017, facultando aos subscritores a indicação de no mínimo 2 representantes no painel de debate;
(2) Participação ativa da Direção junto ao corpo docente em sala de aula, com o intuito de incentivar o amplo debate de ideias, sempre prezando pela transmissão dos diversos pontos de vista, evitando-se, assim, qualquer tendência ideológica no ensino;
(3) Concessão de abatimento na mensalidade proporcional ao dia de aula suspenso para todos os alunos;
(4) Desconto proporcional na remuneração de todos os professores em razão da suspensão das aulas.
Agradecemos desde logo a atenção dispensada e esperamos que nossos pleitos sejam atendidos, com o que entendemos que o CSB/RJ reforçará sua tradição de instituição preocupada em garantir formação independente a todos os seus alunos, para que estes, ao se tornarem “agentes transformadores e atuantes na sociedade em que vivem”, o façam a salvo de quaisquer pressões ideológicas.
Cordialmente,
Ex-Alunos do Colégio de São Bento do Rio de Janeiro
Os quase 300 ex-alunos que já assinaram essa petição estão de parabéns. Isso mostra que Dom Lourenço deixou sua marca, que muitos saíram da escola preparados para a vida, para enfrentar patrulhas, para defender com coragem o que julgam certo, para raciocinar de forma independente. Tudo aquilo, enfim, que os partidos de extrema-esquerda, que dominam os sindicatos de professores, querem combater, pois precisam de papagaios, de robôs, de revolucionários doutrinados agindo por pura emoção.
Já a direção do Colégio São Bento merece um puxão de orelha dos grandes, por sujar dessa forma o legado de Dom Lourenço e outros que, ao seu lado, ajudaram a construir a reputação da escola. Construir é algo trabalhoso, leva muito tempo. Destruir é coisa rápida. Espero que isso tudo sirva de lição à diretoria da escola, que ela repense suas atitudes, para não mais sacrificar a boa formação em nome da ideologia e do proselitismo partidário. Escola Sem Partido: um conceito que o próprio Dom Lourenço certamente aplaudiria!
Rodrigo Constantino
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