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A expertise da inutilidade: os derrotados vêm à desforra após perda de hegemonia

Por Percival Puggina

Por obra de Deus, ou do diabo, estou em algumas listas de e-mails criadas para distribuir conteúdos a petistas, esquerdistas e assemelhados. Elas me fornecem rico repertório de informações e, principalmente, das correspondentes “narrativas” e vocabulários. É notável, aliás, o quanto as palavras usadas dizem de quem as profere. Os termos falam de quem os utiliza tanto ou mais do que gestos e expressões faciais. E são menos enganosos do que inteiros discursos.

A afirmação de que houve, na eleição de 2018, “mera troca de uma ideologia por outra” é das tais narrativas bem sucedidas. Embora enganosa, veio tentar vaga no mundo dos fatos. Com ela, subliminarmente, se transfere para a “ideologia” que chega ao poder, parte da carga negativa que se instalou sobre o esquerdismo. Ao mesmo tempo, com poucas palavras, se introduz a ideia de que ocorreu no Brasil mera troca de seis por meia dúzia.

A ideologia que vigorou hegemônica até janeiro deste ano andou no rumo de seu inexorável curso ao longo da história. Como em todas as experiências anteriores, redundou em fracasso, falência, corrupção e colapso da ordem. Por isso, sob o ponto de vista qualitativo, a chegada ao poder do pensamento liberal e conservador significa uma espécie de salto quântico para um nível mais alto. Se fôssemos representar a situação com os pratos de uma balança, o prato velho ficaria caído no fundo enquanto o novo se despegaria e subiria às alturas.

A “ideologia” – digamos assim para clareza do entendimento – que que chegou ao poder em 2019 era majoritária na sociedade, mas não tinha (e ainda não tem) partido de expressão que falasse por ela, nem apoio nos grandes meios de comunicação de massa. O dito Centrão, adesista, operava para os governos de esquerda e para o interesse próprio, e os meios culturais estavam, em sua quase totalidade, dominados pelo pensamento de esquerda. Dou um exemplo pessoal: nos dez anos durante os quais fui colunista dominical de Zero Hora, substituindo o Olavo de Carvalho a partir de 2006, fui o único a defender de modo ininterrupto as ideias liberais e o pensamento conservador.

Coube às mídias sociais e suas redes, ao democratizarem o direito de opinião, dar-nos voz e, com a candidatura de Bolsonaro, proporcionar-nos a expectativa da representação. Graças a elas, por fim, contra tudo e todos, foi viabilizada a expressão política dessas ideias de um modo personificado. O presidente, representando o conservadorismo e o amor à Pátria; Paulo Guedes, também conhecido como Posto Ipiranga, liderando a aplicação das ideias liberais; e Sérgio Moro, espelhando os anseios nacionais de combate à corrupção e à impunidade.

Agora, os derrotados vêm à desforra. Aquela conjugação de estrelas que perdeu a hegemonia parte para o ataque. Ela envolve importantes veículos de comunicação e seus formadores de opinião, mundo acadêmico, centrais sindicais, partidos políticos de esquerda derrotados em 2018 bem como a parcela militante do show business. Em conjunto e de modo cotidiano, atacam o governo valendo-se de insignificâncias e trivialidades pinçadas e apresentadas como se grandes coisas fossem, ainda quando não passam de meras palavras escrutinadas com a expertise da inutilidade. As minúcias alvejadas servem bem melhor para exaltar, pelo silêncio com que são acolhidos, os acertos do governo.

Ao mesmo tempo, se valem da criminalidade para proteger a criminalidade. São contra a Lava Jato, o combate à corrupção, a estabilidade das instituições, a separação dos poderes, a atuação dos órgãos de fiscalização e controle. E contam, para isso, com cobertura do Supremo Tribunal Federal.

Diante desse cenário, a omissão e o silêncio dos omissos e dos ingênuos fazem muito mal ao Brasil.

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