“Os que creem que a culpa de nossos males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o céu.” (Roberto Campos)
As terras que compõem hoje o Estado de Israel já foram descritas por Mark Twain e outros visitantes como um grande pedaço de deserto árido. De fato, o deserto de Negev ocupa um razoável espaço no pequeno território de Israel, e basta circular por lá para perceber como é um ambiente inóspito e seco. Não obstante, há, hoje, algo como 240 milhões de árvores no país, a maioria plantada uma a uma, e Israel é produtor e até exportador de frutas.
Tem, ainda, grande produção de peixes. O israelense, num deserto, consome bastante peixe, enquanto o cubano, numa ilha, não tem acesso a tal alimento, sabemos o motivo (a ditadura não permite a pesca com receio de mais fugas para a Flórida). Como pode? Como Israel conseguiu driblar a escassez de água e dar a volta por cima?
Boa parte da resposta se encontra na cultura, na postura dos israelenses. Em Start-Up Nation, os autores Dan Senor e Saul Singer tentam explicar justamente este fenômeno, o “milagre” econômico de Israel, um país que possui um setor dinâmico de tecnologia, um dos mais avançados do mundo, além desse incrível destaque na agricultura em um país geograficamente hostil a tal setor.
Para focar apenas no aspecto da água, de forma bem resumida, eis a resposta de Israel, além de muita determinação e desejo de superação: tecnologia. Enquanto muitos olham para os obstáculos e desanimam, ou observam os céus em busca de respostas, os israelenses foram lá e criaram as tecnologias que revolucionaram sua economia.
Apenas 20% da terra de Israel é arável. Mesmo assim, isso não impediu o florescimento da agricultura no país, basicamente por meio dos kibbutzim, adaptados atualmente ao mundo globalizado. Israel fatura mais de US$ 50 milhões por ano com a exportação de flores! Água é a matéria-prima da agricultura, e se estima que até 70% do consumo mundial vem desse setor. Israel tinha tudo para não ter agricultura alguma, mas superou o obstáculo natural com o uso de tecnologia.
É o país líder em reciclar água usada, por exemplo: mais de 70% é reciclado, o que representa o triplo do percentual reciclado na Espanha, o país na segunda colocação. Israel é líder ainda em agricultura no deserto, irrigação por gotejamento e dessalinização. Das quatro grandes plantas industriais de dessalinização no mundo, nada menos do que três estão em Israel. Aqui é possível conhecer melhor o “milagre” que a tecnologia de gotejamento, descoberta pelo engenheiro israelense Simcha Blass, faz até hoje na agricultura mundial, inclusive no Brasil.
Em resumo, é legítimo o governo fazer campanha pela moderação no uso da água em época de estiagem fora dos padrões históricos. São Pedro teria sua parcela de culpa. Mas, deixando de lado a responsabilidade dos governos na má administração do problema, na ocultação da verdade para fins eleitoreiros, e nas medidas tomadas que geraram distorções no mecanismo de incentivos do uso do bem escasso, o fato é que a solução para o “problema da água” está na tecnologia, não na “dança da chuva”.
Israel é o melhor exemplo de que, mesmo num deserto, o homem é capaz de inovar e driblar os obstáculos impostos pela natureza. Uma questão de atitude.
Rodrigo Constantino
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