O senador Flávio Bolsonaro, que preside o PSL no Rio de Janeiro, tem dado determinações rigorosas para os integrantes do partido no Estado. Após orientar a saída da legenda da base do governo Wilson Witzel (PSC), o filho do presidente Jair Bolsonaro soltou nota nesta quarta-feira, na qual prega a desfiliação de quem quiser manter cargos na gestão estadual.
Além de ter a maior bancada da Alerj, com 12 deputados, a sigla exerce ampla influência em nomeações para cargos no Executivo, incluindo dois secretários – o de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues, e a de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência, Major Fabiana. No entanto, ninguém renunciou até agora.
A imposição de Flávio, para o Estadão, é um teste de força para o parlamentar como dirigente partidário. Alvo da investigação que domina o noticiário político desde o fim de 2018, na qual se apura suspeita de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no período em que era deputado estadual, o senador viu recentemente seu escolhido para concorrer à Prefeitura do Rio, o deputado fluminense Rodrigo Amorim, minguar dentro do partido.
Felipe Moura Brasil comentou em seu Twitter: “Quem ficar no governo Witzel deve se desfiliar do PSL, avisa Flávio Bolsonaro. Já os 7 (dos 12) deputados que se abstiveram na votação que tornou presidente da Alerj o petista André Ceciliano, que apareceu na lista do Coaf com Flávio, puderam ficar no PSL sem problemas. Nova Era”.
De fato, são estranhas prioridades essas. O que importa não é se a gestão de Witzel é boa ou não, alinhada ou não aos supostos valores bolsonaristas, mas sim se entram no caminho do projeto de poder da família, e se ameaçam a liderança do Flavio no seu partido.
Até fake news foi disseminada pelas redes sociais para manchar a imagem do governador do Rio, com base numa lei sobre direitos humanos de autoria do PSOL que ele não vetou. Mas governador não pode vetar lei constitucional, como explicou Bernardo Santoro, só porque é contra ela. Detalhe ignorado pelos bolsonaristas. Witzel, por sua vez, tem sido discreto na reação, pois teme perder base de apoio no governo.
Enquanto isso, o PSL pode sofrer uma debandada geral. No blog de Denise Rothenburg, no Correio Brasiliense, fala-se em até 18 deputados, que estariam só analisando um jeito de não perder o mandato por infidelidade partidária. Flávio vai conseguir implodir o partido que abrigou seu pai, assim como o governo.
O que fica claro é que o bem-estar do povo fluminense não está no topo das preocupações do senador eleito pelo estado. Família acima de tudo, quando se trata dos Bolsonaro, é uma expressão que precisa ser interpretada de forma literal.
PS: O Facebook me trouxe à memória essa semana a entrevista que fiz com Flávio durante sua campanha para a Prefeitura do Rio. Nela, o hoje senador finalizou com a famosa tirada da família: “me chamam de tudo, de nazista, homofóbico, porque não podem me acusar de corrupto. Me chama de corrupto!”, desafiou. Será que ele faria o mesmo desafio hoje?
Rodrigo Constantino
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS