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A fase da negação da realidade dos jornalistas: o caso de Bernardo Mello Franco

A postura dos jornalistas no Roda Viva que entrevistou Bolsonaro foi vergonhosa e a imensa maioria do público percebeu. Mas não pensem que os mesmos jornalistas farão um mea culpa. Alguns até ensaiaram isso, de forma descuidada por dar bandeira sobre suas reais intenções. Foi o caso de Glenn Greenwald, do ultra-esquerdista The Intercept, que confessou a importância de a mídia ter uma estratégia melhor para bater no candidato.

Mas em geral os jornalistas vão preferir apelar para a negação da realidade, e colocar a culpa da reação do público… no próprio público! Gostaram de Bolsonaro, o programa teve a maior audiência de todas e muitos criticaram os jornalistas? Ora, é porque o público é alienado e gosta de gritos e memes, não de checar fatos. Foi a desculpa esfarrapada daquele que teve, talvez, o pior desempenho do grupo (e olha que a concorrência foi grande).

Bernardo Mello Franco, um ultra-esquerdista, escreveu em sua coluna de hoje que Bolsonaro só vai bem nas pesquisas e na audiência porque gera polêmica e atrai aqueles que querem curtir memes. Não passa pela cabeça vermelha do jornalista que o fenômeno é bem maior e mais sério do que isso, e que tem ligação direta com essa postura deplorável da mídia, quase toda de esquerda. Ele não parece entender o abismo criado entre as pautas “lacradoras” de sua turma e a demanda real do povo. Vejamos:

As escolas induzem as criancinhas ao homossexualismo. Os portugueses não pisavam na África no tempo da escravidão. A urna eletrônica é mais suscetível a fraudes do que o voto impresso. Não houve golpe militar no Brasil em 1964.

Ele trata esses temas como ridículos, sem se dar conta de que o ridículo é ignorar a doutrinação perversa nas escolas, a participação de africanos no tráfico de escravos, a desconfiança legítima com as urnas eletrônicas (que os americanos preferem manter longe) e que em 1964 tivemos uma reação com amplo apoio popular e até da mídia da época ao verdadeiro golpe, o comunista. O coitado vive no mundo da Lua! Ou melhor: no mundo do Foro de São Paulo.

O deputado Jair Bolsonaro despejou seu repertório de mistificações no “Roda Viva” de segunda-feira. Muito do que ele disse não resiste a uma checagem básica, mas seu eleitorado parece não se importar. O programa registrou, de longe, a maior audiência da série com os presidenciáveis.

Como não é exatamente o pedreiro que fica até tarde vendo Roda Viva, talvez o jornalista devesse se perguntar porque um público mais educado se interessou tanto pela entrevista, e depois reagiu da forma que reagiu, condenando a mídia, não o candidato, por mau desempenho. Uma “checagem básica”, em fontes sérias (exclui a Wikipedia ou colunas dos próprios militantes comunistas disfarçados de professores), vai corroborar aquilo que Bolsonaro disse. Melhor chamar milhões de pessoas de alienadas, não é mesmo?

Bolsonaro não tenta desviar do estereótipo do milico brucutu. Ao contrário: seu discurso é claramente treinado para reforçá-lo. A principal arma do capitão é a polêmica. Quanto mais barulho, melhor. Foi assim que ele chegou à liderança das pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Lula.

Foi também, caso o jornalista não tenha notado, batendo na tecla da segurança, enquanto gente como o próprio Bernardo trata bandido como “vítima da sociedade”. Foi, ainda, atacando a agenda “progressista” nefasta que a turminha do Projaquistão adora, mas que o povo quer distância. Foi com a imagem de honesto num ambiente dominado por corruptos, como aquele mencionado por Bernardo, que está preso e ainda assim é adorado pelos coleguinhas do jornalista.

O candidato captou o espírito das redes sociais. Declarações bombásticas geram mais curtidas que argumentos. Radicalizar nos temas morais é mais atraente que formular programas de governo. Quando o eleitor está furioso, quem fala mais alto tende a vencer a disputa por atenção. Foi a receita da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.

Reduzir a receita da vitória de Trump, que desafiou a máquina inteira do establishment, derrotou a poderosa Hillary Clinton e antes disso 16 candidatos do seu próprio partido, a essa estratégia de “declarações bombásticas” é mesmo fechar os olhos para a realidade. Trump venceu porque a oponente democrata era um lixo, uma pessoa vil e perigosa, mentirosa e esquerdista radical (pleonasmo, eu sei). Venceu porque abordou as pautas certas com coragem, desafiando o politicamente correto. Os jornalistas ainda não entenderam, o que explica essa postura patética.

No centro da roda, Bolsonaro jogou em casa ao discursar contra defensores de direitos humanos, sem-terra, quilombolas e outras minorias. Ficou menos à vontade ao ser cobrado a apresentar propostas concretas para temas como saúde e economia.

Eis um bom exemplo da alienação… do jornalista! Ele acha que Bolsonaro discursou contra defensores de minorias ou direitos humanos, enquanto o candidato apenas criticou, com toda razão, as lideranças que falam em nome dessa gente enquanto avançam com uma pauta perigosa. O jornalista simpático ao PSOL pode achar que é terrível criticar os “sem-terra”, mas o povo sabe que, na prática, trata-se de um grupo criminoso que invade propriedades e toca o terror de olho em poder e recursos (pilhagem).

A proposta em economia foi resumida num nome respeitado e sério: Paulo Guedes, sem plano B. O legado será uma economia liberal, disse o candidato. Para o jornalista, isso é medonho, claro. Afinal, ele adoraria um modelo mais na linha do PT, de Dilma, do Boulos, algo que aumentasse ainda mais a presença estatal. As “propostas” de Ciro Gomes devem encantar o jornalista, mas assustam o povo, com razão.

Num de seus piores momentos, embananou-se quando a jornalista Maria Cristina Fernandes quis saber o que ele faria para reduzir a mortalidade infantil. A resposta mostrou que o preparo do capitão está muito aquém da sua capacidade de gerar memes. Os rivais devem pensar nisso se quiserem desconstruí-lo.

E aqui temos, para concluir, o exemplo perfeito de arrogância desse pessoal. O jornalista fez um papelão na entrevista, e agora quer dar lição aos rivais de Bolsonaro, sem esconder o desejo de que o capitão seja “desconstruído”. Missão que ele claramente levou para a bancada do programa, sem sucesso. O preparo do jornalista está muito aquém de sua capacidade de tentar “lacrar”. Mas quem só quer lacrar com o grupelho “progressista” vai inevitavelmente passar vergonha perante o resto do povo. Foi o que aconteceu com Bernardo Mello Franco.

Rodrigo Constantino

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