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Fechar o Congresso para salvar a democracia?! É o que pregam defensores de Bolsonaro…
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Divulguei a coluna desta terça de Carlos Andreazza sobre Bolsonaro cobrando respostas com contrapontos, argumentos, mas alertando que provavelmente viriam apenas pedradas e xingamentos, conhecendo os tais “bolsominions” como conheço (e acreditem, sabem ser mais chatos, intolerantes, idólatras e patrulhadores do que muito petista). Foi basicamente o que aconteceu mesmo, com uma exceção – ou quase.

Allan dos Santos e Italo Lorenzon, do canal Terça Livre, tentaram escrever uma resposta com argumentos. Digo tentaram porque as ofensas são visíveis, a começar pela tentativa de usar uma imagem de Andreazza no carnaval, que ele adora, como se isso pudesse de alguma forma depreciá-lo. Se foi essa a intenção, o tiro saiu pela culatra, e o próprio editor divulgou o texto deles com esse comentário:

Em artigo que pretende refutar o meu (chamado de irrelevante, incapaz de influir no debate público), e que precisou ser escrito por dois pensadores do bolsonarismo, os autores defendem o fechamento eventual do Congresso – para salvar a democracia.

Bolsonaro, claro, não quer intervir num Poder; mas tem coragem – estatura moral – para isso.

Nós sabemos.

Ainda sobre o artigo, não se trata exatamente de um afago ao idioma; mas isso não importa: estilo não é para qualquer um – e o texto é obrigatório a quem quiser compreender as ideias que fundamentam o bolsonarismo. É preciso enfrentá-lo. Por isso – pela representatividade – dou esta moral à turma aqui na minha bolha.

Nota: agradeço pela escolha da foto; é uma das que mais gosto – ilustra um homem feliz, com belos dentes, e dourado de sol. Salve, o Império Serrano! Heheheh!

Questões carnavalescas de lado, há algo realmente sério que o artigo deles expõe: a postura antipolítica de salvador da Pátria que nos remete a um “paizão” autoritário, que não precisa desse “bando de corruptos” para consertar o Brasil. Isso é candidato a um novo Getulio Vargas, não a presidente. Como, aliás, um presidente do pequeno PEN, agora Patriotas, pretende governar de fato? Mas tais questões complexas não entram no raciocínio simplista dessa turma.

E é por esse motivo: Bolsonaro é contra “tudo e todos” que estão aí, então não precisa explicar como vai consertar o país; basta ele chegar lá, ao poder, e ponto. Basta ser honesto, e ponto. E eis o maior perigo dessa mentalidade: achar que é possível salvar a democracia a destruindo! Se o próprio Bolsonaro já defendeu o fechamento do Congresso no passado, eis que seus seguidores fanáticos hoje justificam essa bandeira:

Segundo: quanto ao fechamento do Congresso, este é – hoje, na atual conjuntura – o sonho de todo brasileiro de bem que entenda a gravidade de nossos problemas. Acaso Andreazza realmente crê que os rapapés burocráticos de Brasília significam que temos uma democracia? Quer continuar acreditando em democracia e representatividade política depois dos escândalos que envolveram não apenas o PT, mas quase todos os partidos políticos que hoje existem? Da impunidade proporcionada pelo STF a título de “governabilidade”? As instituições estão funcionando, Andreazza? Pelo visto, o autor – como tantos no cenário político atual – crê que o bem comum se identifica com a existência formal de certas instituições.

Ora, temos urnas inauditáveis, um TSE que é uma piada, uma imprensa que só exagera os defeitos de seus inimigos e perdoa os de seus amigos, ausência total de recursos para anular o mandato de um governante que, cuidadosamente evitando cometer crimes que lhe custariam o mandato, governa com plataforma totalmente oposta àquela que usou para se eleger, um sistema eleitoral que impede candidaturas independentes e que elege “pela legenda” parlamentares de quem o povo nunca ouviu falar, três dúzias de partidos que ocupam todos os espaços para promover o mesmo viés ideológico, domínio total da educação e da cultura pelo mesmo viés ideológico, e, como cereja no bolo, um Judiciário que sentará em cima dos crimes destes tiranos até que prescrevam. Temos realmente uma democracia? O povo realmente é senhor de seu destino no Brasil? Andreazza se preocupa com que Bolsonaro vá tirar do povo uma democracia que ele atualmente já não tem, e tem horror de imaginar que um saneamento de nossas instituições podres não venha pela mão destas mesmas instituições podres pelas quais o povo perdeu sua democracia. Se Andreazza perguntar ao povo – não ao Datafolha –, verá que a idéia de fechar o Congresso no atual estado de coisas não lhe é nada estranha, e com razão. O mesmo povo que quase invadiu o Congresso em 2015 lhe explicará que a mera existência de um Congresso não significa democracia, e o mandará à Venezuela para que veja como eles têm um lindo Congresso, cheio de congressistas lá dentro “congressando”, e como isto não significa nada para a representação dos anseios do povo, mas apenas mantém limpa a cara do regime diante da “comunidade internacional”.

Uau! Antes de mais nada, é preciso reconhecer, em nome da honestidade intelectual, que os autores levantam questões reais. Sim, boa parte do povo brasileiro não confia mais no Congresso, nos políticos. Sim, há uma crise de representatividade. Sim, desconfiamos até das urnas eletrônicas, com razão. Sim, vemos uma cambada de corruptos no poder. Eu mesmo já alertei várias vezes que a classe política dos privilegiados está brincando com fogo, atiçando uma potencial revolução com tanto descaso e abuso.

Mas calma lá! Então a solução é jogar o bebê fora junto com a água suja? Fechar de vez o Congresso e ter um ditador do bem, um déspota esclarecido (esclarecido?), um capitão honesto que vai incorporar o “povo” e governar com base na “vontade geral”? Isso, meus caros, tem nome: jacobinismo. Bolsanaro seria candidato a Robespierre, e poderia usar a guilhotina para degolar cabeças de corruptos aos montes, até purificar a política nacional, livrando-nos de todos os políticos.

É compreensível a revolta popular contra a classe política, mas é um perigoso demagogo aquele que usa essa revolta para canalizar o ódio em direção ao seu projeto de poder. Não foi exatamente o que fez Lula ao acusar os “300 picaretas do Congresso”? Não foi o que fez o aventureiro oportunista Color, ao se declarar um “caçador de marajás”? E não dá para alegar que os autores não falam em nome do seu guru, se o próprio já pregou exatamente isso no passado:

A mensagem é assustadora! E isso, repito, vem dos melhores defensores do “mito”, já que os piores eu sequer posso publicar aqui sem ferir o decoro. Allan dos Santos e Italo Lorenzon ao menos tentam dialogar, como já reconheci. Os demais normalmente só xingam, ofendem, insinuam que os críticos de Bolsonaro são vendidos, safados, socialistas etc. Agem, enfim, como petistas com sinal trocado.

Fechar o Congresso para salvar a democracia?! Falam assim, como se o Brasil já fosse uma Venezuela, e acham mesmo que falam em nome do povo, de todo o povo brasileiro? Não entendem o perigo dessa postura, seu teor… fascista? Sim, essa mentalidade acaba por dar razão aos detratores socialistas que acusam Bolsonaro de fascista. Existe o fascismo de esquerda, como já cansei de mostrar, mas existe esse fascismo que pretende acabar com a “decadente democracia representativa” para restaurar os “bons costumes” e a “moral”, impondo uma limpeza geral de cima para baixo.

Coisa de reacionário antidemocrata e antiliberal. E conservadorismo não é o mesmo que reacionarismo. Menos ainda o liberalismo. Não é mesmo!

Rodrigo Constantino

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