Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
2016, o ano que deve ficar marcado na história mundial como “uma odisseia à Direita”, está chegando ao fim. E como costuma ocorrer nas festas de passagem de ano, diversas pessoas irão olhar para trás, em meio aos fogos de artifício, para tudo que se passou desde janeiro, e pensarão que deveriam ter feito muitas coisas de forma diferente em suas jornadas. Notadamente, irão, como muitos pacientes o fazem no leito de morte, ponderar que deveriam ter trabalhado menos, mantido mais contato com os amigos, curtido mais a vida, corrido atrás de seus sonhos, buscado mais a felicidade.
Por que não procurar esticar por mais 363 dias a felicidade do Natal e do Réveillon, pois não? O problema usual nesta reflexão, contudo, é que a primeira das lamentações afeta todas as demais: é justamente o trabalho que facilita a consecução dos demais objetivos da lista de resoluções de fim de ano. Até mesmo a possibilidade de trabalhar menos e usufruir mais horas de lazer costuma ser produto de muito…trabalho (e estudo) prévio.
Viver mais próximos das pessoas com quem nos importamos e amamos é uma meta integralmente válida e salutar. E tal tarefa tornou-se bem menos complicada a partir da evolução dos meios de transporte e comunicação – fruto da busca incessante por ganhos em produtividade em ambas as atividades econômicas, que veio a redundar em inovações tecnológicas que, em um primeiro momento, foram “testadas” com as pessoas de maior renda, mas hoje atendem até mesmo as camadas menos abastadas da população.
Se atualmente é possível conservar com um ente querido que mora do outro lado do Brasil tal qual osJetsons o faziam, ou mesmo comprar uma passagem sem sair de casa e ir vê-lo em pessoa utilizando apenas pontos do programa de milhagem, é porque empreendedores dispostos a correr riscos para auferirem, quem sabe, muitos lucros ali na frente (ou perderem tudo o que tinham), ofereceram a seus clientes, justamente, aquele tão almejado “mais contato com os amigos”, a custos progressivamente mais acessíveis e de forma mais eficiente.
O valor gerado por esses investidores, que proporciona uma maior conexão entre indivíduos que vivem em locais distantes, e que poderiam até mesmo ter se esquecido da existência uns dos outros não fossem por tais serviços, não tem preço – mas ele costumam parcelar em até dez vezes. Se não houvessem tantas barreiras impostas por ANAC e ANATEL à entrada de mais concorrentes na aviação e nas telecomunicações, seria tudo ainda muito melhor, claro; quem sabe o próximo Papai Noel (não o vermelho) possa trazer tal presente para os brasileiros.
Poder folgar mais durante o ano também é um privilégio que guarda estreita relação com os bens de capital acumulados em um determinada economia. Quanto maior a produtividade marginal do trabalho em um dado país, menos labor é necessário para atingir um determinado objetivo. Como um trabalhador da Alemanha, por exemplo, consegue gerar a mesma quantidade de valor que seu congênere brasileiro em muito menos tempo – já que os bens de capital naquele país (bens ou serviços, como equipamentos e instalações, necessários para a produção de outros bens ou serviços de consumo ou capital) estão em estágio bem mais avançado – ele dispõe de mais tempo e dinheiro para tomar sua cerveja ou para assistir ao jogo do Borussia.
Mas esta não é uma prerrogativa dos germânicos que possa nos cair do céu: enquanto nossa indústria seguir estrangulada pelo Estado e suas regulações esquizofrênicas e impostos impeditivos, e nossa educação seguir sendo pautada por conceitos freirianos (como o fracassado no PISA sócio construtivismo), seguiremos precisando trabalhar muito para produzirmos tão somente o necessário para nossa mera subsistência – e olhe lá.
E não adianta achar que os sindicatos (aqueles entes que sugam bilhões ao ano do salário dos trabalhadores para promover passeatas de Fora Temer) vão obter, pressionando o Congresso Nacional, férias mais extensas e vantagens correlatas – ao menos, não sem gerar grande desemprego. Precisamos demandar, neste contexto, mais liberdade econômica, pois, destarte, mais empresas podem ser abertas, mais empregadores passam a disputar a mesma mão de obra, e mais benefícios eles precisam oferecer para conquistá-la. Não à toa, habitantes de países que sequer contam com legislação que garanta descansos aos trabalhadores costumam desfrutar de períodos de repouso mais extensos do que outros verdadeiros “paraísos” (no papel) para empregados.
Além disso, o brasileiro médio perde tempo demais de sua vida indo e voltando do local de trabalho, devido ao casos urbano, aos meios de transporte coletivo caros e ineficientes, e a ausência de atividade produtiva nos bairros de periferia das grandes metrópoles – em decorrência da pesada burocracia estatal, impraticável para o pequeno empresário, e dos juros escorchantes cobrados no mercado, fruto do alto endividamento do governo. Assim não fosse, e quem sabe “curtir mais a vida” nem estaria no rol de pedidos de Natal de nosso povo.
Dentro desta mesma conjuntura, “correr atrás de um sonho”, seja ele qual for, também se torna tarefa bem mais simples em um país desenvolvido economicamente, seja ele arrumar um emprego melhor remunerado na iniciativa privada, graduar-se em um campo específico do conhecimento humano, conhecer aquela praia paradisíaca, comprar uma casa, morar em outra cidade, ganhar músculos, aprender japonês, e tudo o mais: todas essas ambições serão mais facilmente atingíveis se houverem mais companhias expandindo-se e empregando, mais faculdade admitindo calouros, mais concorrência no setor de turismo, mais poupança sendo possível de ser efetuada por pessoas físicas e jurídicas, mais academias de musculação, mais cursos de japonês – tudo respectivamente.
Ou seja, quanto mais sonhadores conseguirem realizar sua aspiração de serem donos do próprio negócio, mais facilmente todos os demais cidadãos irão realizar seus próprios sonhos. Mas para isso é necessário mais capital circulando na mão destes sonhadores, e menos na mão (e nas contas na Suíça) de burocratas estatais.
“Buscar a felicidade”? Isso o brasileiro sabe fazer como poucos – se lhe deixarem um cadinho de dinheiro no bolso e alguma segurança, ainda que residual (física, patrimonial e jurídica). Não se faz necessário que nenhum bom velhinho (de nenhum partido) traga este presente para nosso povo, que possui vocação para empreender e é notório por sua criatividade. Basta que o elefante governamental saia do caminho, e a ordem espontânea do livre mercado fará, no Brasil, o “milagre” que já fez em Cingapura, Nova Zelândia, Irlanda, Estados Unidos, Suécia, dentre outros tantos países que permitiram a seus cidadãos uma alegria mais genuína na hora de estourar o champanhe à meia-noite de trinta e um de dezembro.
Já a ceia nas nações “agraciadas” com o “socialismo do século do XXI” e outros totalitarismos do gênero deve estar bem restrita este ano – para dizer o mínimo. E sonhar, então, só se incluírem no pacote de desejos a queda de Maduro e do Chavismo (e demais ditadores mundo afora). Enquanto vigorar o intervencionismo nestes recantos, o Estado seguirá escolhendo, a dedo, quem deve ficar feliz ou não na virada do ano – e nos demais dias vindouros.
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