Lady Mona é uma feminista moderna, que prega a igualdade plena entre os sexos. Encontrei-a numa passeata contra o presidente Trump, na qual me vi misturado por acaso: tinha ido dar uns tiros no stand ali perto. Paramos para trocar dois dedos de prosa:
– Quer dizer que você faz parte da marcha das feministas contra o presidente Trump agora?
– Ele é um machista terrível.
– E Hillary Clinton, cúmplice do marido, um predador sexual?
– Mas ela é de esquerda.
– E a defesa da democracia, como fica?
– Ora, não há democracia quando vence a direita!
– Você é democrata, desde que o resultado seja a vitória da esquerda. Mas o que acha daqueles camaradas ali quebrando tudo e atacando a polícia?
– Sou “paz e amor”. Gostaria de ver é alguém jogando uma bomba na Casa Branca!
– Nossa! Qual é a sua principal bandeira?
– Igualdade plena, ou seja, salários iguais!
– Mas você sabia que não há diferença de salários quando ajustamos por emprego, tempo de trabalho e produtividade?
– Está frio hoje, não acha?
– Deve ser pior com seus peitos de fora. Mas voltemos ao tema: mulheres não ganham menos. Agora, se elas escolhem empregos mais flexíveis para investir na maternidade…
– Eis o problema! É um absurdo essa imposição da sociedade capitalista…
– Pensei que a maternidade fosse uma “imposição” biológica, e que muitas mulheres amassem essa dádiva.
– Só as idiotas submissas aos homens!
– Por falar em submissão, o que aquela muçulmana está fazendo ali no grupo, pregando a “sharia” ainda por cima? Pensei que vocês lutassem pelos direitos femininos…
– O Islã é a religião da paz. Nosso inimigo é o cristianismo. Por isso vetamos mulheres cristãs aqui.
– Mas não é no Ocidente cristão onde as mulheres gozam de mais liberdades e direitos?
– Que frio!
– E como podem ser pelo direito das mulheres se não toleram as que escolhem ser boas mães e esposas?
– Somos muito tolerantes. Desde que todas sigam nossa cartilha feminista.
– É por isso que aquela ali que condena o aborto está apanhando de um homem sob a conivência de vocês?
– Meu corpo, meus direitos!
– Pensei que o bebê também tivesse direitos…
– É só um ovo!
– Mas não foi você outro dia que fez um protesto em defesa do ovo das tartarugas?
– Isso é diferente. É uma vida animal que merece ser respeitada!
Nesse momento percebi que atraímos atenção e um grupo nos cercava, alguns com olhares ameaçadores. Um rapaz, com o símbolo da paz na camisa, disse, segurando um taco, que se eu não saísse logo dali ia me arrebentar todo.
O clima ficou tenso, mas por sorte moro num país em que o cidadão de bem pode ter uma arma. Assim que ele viu meu companheiro Walther, desistiu de me espancar e, em nome do amor, eu consegui ir embora ileso.
* Esta trata-se de uma versão estendida daquela publicada pela revista originalmente.