Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
Quanto mais objetivos são os princípios e fundamentos que regem uma determinada área da ciência, menos espaço abre-se para contestar seus paradigmas e pouca ou nenhuma oportunidade surge para aqueles que adoram “romper com os padrões tradicionais”. Não buscando ampliar, no caso, o escopo de estudo e proporcionar a evolução daquele campo, mas tão somente procurando os holofotes “progressistas”, almejando o reconhecimento de uma visão inovadora tão somente pelo fato de ela ser diferente e “inclusiva” (já que certo e errado, melhor ou pior, seriam conceitos por demais tirânicos).
Por tudo isso, seria difícil imaginar a turba politicamente correta invadindo departamentos de Exatas com suas teorias esquizofrênicas estilo apartheid, cuja tática consiste invariavelmente em plotar vítimas e opressores e jogá-los uns contra os outros.
Afirmar, pois, que a gramática de nosso idioma é um “instrumento de manutenção dos privilégios da elite”, ou então que a relevância de estudar o impacto em nossa sociedade da Revolução Industrial e das revoluções inglesas seria questionável, são aberrações que não costumam surpreender quem frequenta cursos de Letras ou História. Trata-se, no caso, de ramos do conhecimento humano que admitem o convívio (relativamente) pacífico de teorias deveras distintas, pelo fato mesmo de que boa parte de sua base intelectual não é tão palpável quanto um 2+2=4.
Mas nunca subestime a falta de noção de ridículo daqueles que são capazes de alegar que “há controvérsias” até mesmo em relação à biologia do corpo humano: a pesquisadora de cultura e “estudos do gênero” Whitney Stark publicou um artigo para o periódico Minnesota Review no qual dispara que a produção científica de Isaac Newton é “opressora” porque ela institui elementos separados com base em diferenças binárias.
Tal estrutura, segundo a moça, seria “hierarquizante e exploratória”, e tal sistema seria reproduzido em vários sistemas de classificação da Física, tornando-a “parte do aparato opressor social” observável em discriminações de gênero, xenofobia, e por aí vai.
Só para tentar elucidar o esperneio em forma de trabalho acadêmico: a Física, bem como outros segmentos mais alinhados ao concreto do que ao abstrato, não admite (felizmente) espectros intermediários entre uma coisa e outra. Uma molécula é Oxigênio ou não é Oxigênio; não há como esta partícula figurar em um estágio intermediário entre Oxigênio e Nitrogênio, e variar este estado vez por outra. Os programas de computadores costumam utilizar código binário: 0 ou 1; não há 0,5 ou -1, dependendo do humor da máquina. Um corpo, em relação ao mesmo referencial, ou está em repouso ou em movimento, e não há subjetividade que possa comprometer tal paradoxo.
Ou seja, esta forma binária e baseada em diferenças absolutas entre elementos rege o funcionamento do universo, para resumir. E justamente aí entra a feminista e sua concepção de que brigar com a realidade objetiva em busca de um “mundo mais justo” faz algum sentido.
Felizmente, ela apresentou uma solução bastante (in)viável para o conflito: “feminismos quânticos” e “inter-seccionamento” – não adianta gritar, corretor do Word; é isso aí mesmo.
“Direcionando um olhar crítico aos múltiplos e descentralizados movimentos da Física Quântica, bem como desierarquizando a necessidade de estruturas lineares através do tempo, torna-se possível reconfigurá-la de maneira alinhada a práticas anti-opressão e de identidade. A combinação de inter-seccionamento e Física Quântica pode resultar na mudança de perspectivas organizacionais que mantém pessoas marginalizadas.”
Eu sempre desconfiei mesmo: Isaac Newton tem a maior cara de patriarca misógino. Nunca me enganou.
Mas que ninguém pense que esta estratégia de tentar moldar o mundo ao ideário igualitarista é novidade. Nos idos de 1960, a China de Mao tentava reinterpretar a Física através da lentes marxistas do “materialismo dialético”. Esta concepção filosófica apregoava que o ambiente, os organismos e os fenômenos físicos tanto modelavam seres vivos, sua sociedade e cultura quanto eram por eles modelados, ou seja, a matéria estaria em uma relação dialética com o psicológico e o social.
Daí a nascer branco e afirmar que se sente negro, nascer um ser humano e declarar que se sente um gato, e, em suma, relativizar todo e qualquer fato, por mais óbvio e inegável que seja, é um pulo. Neste embalo, defender uma maior “diversidade” na ciência, em contraposição aos modelos “muito rígidos” dominantes, não custa nada mesmo, convenhamos.
Por que os números devem ser negativos ou positivos? Eles deveriam poder escolher o que querem ser, e trocar de opinião a seu bel prazer. Ouro conduz eletricidade melhor que alumínio? Que hierarquização elitista e racista desnecessária. Buylling evidente com o pobre metal.
Se esta proposta tão bem intencionada vai comprometer a aerodinâmica das aeronaves ou a resistência da estrutura dos prédios ou das pontes? Não vem ao caso. O importante é confrontar este status quo capitalista cisgênero heteronormativo.
A Matemática e a Física que se cuidem: seus tempos de preceitos brutos e inquebrantáveis podem estar chegando ao fim. O raciocínio lógico é opressor demais para os “intelectuais” que planejam construir o paraíso na Terra.
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