Um amigo meu usou uma ótima metáfora para definir o clima justiceiro de uma parte da população brasileira no momento: estão todos preocupados com a caça às bruxas enquanto o navio afunda em alto mar. E o problema, claro, é que nós, que não somos bruxas, estamos no mesmo navio, e poderemos afundar juntos com essas malditas bruxas…
O combate à impunidade é uma das bandeiras mais importantes para o país, e sem dúvida esteve entre os fatores mais relevantes para a vitória de Bolsonaro. Mas uma ala bolsonarista parece levar longe demais a ânsia por “justiça”, adotando a máxima latina fiat justitia, pereat mundus, ou seja, faça-se justiça mesmo que o mundo pereça.
Sem as reformas estruturais, por exemplo, a economia afunda. Se isso acontecer – e o nervosismo nos mercados já levou o dólar para perto de R$ 3,90 – quanto tempo dura o governo Bolsonaro, cuja aprovação já caiu bastante? Com mais de 12 milhões de desempregados, será que a maioria está mesmo disposta a “consertar” a política com esse custo?
Um leitor, expressando a mentalidade de vários, disse que sabe muito bem dos custos, mas que está pronto para paga-los para enterrar as velhas práticas políticas. Será que sabe mesmo do custo? Vamos tentar transformar o Brasil numa Suíça da noite para o dia? E se o custo disso for justamente a saída da direita do poder e a volta da extrema esquerda?
O tal leitor não titubeou: aí voltamos para as ruas para retomar nosso país de volta! É um clima revolucionário, de quem acha mesmo que é possível “o povo” governar, de forma direta, sem seus representantes “corruptos”. Aí depois que Rodrigo Maia demonstra sinais de afastamento da reforma previdenciária, a turma aponta para o absurdo dessa postura “infantil” e pouco patriótica.
Ora, como dizem os americanos: it is what it is! Devemos ser realistas em política, não sonhadores românticos e utópicos. O protagonista do impeachment de Dilma, que salvou o Brasil do destino venezuelano, foi o corrupto Eduardo Cunha, não? Política adulta se faz com as cartas da mão, não com fantasias.
Outro leitor acusou a mídia toda de proteger políticos corruptos. Ora, quero que Maia vá para o inferno! Mas é bom ter cuidado com o que se deseja no momento em que se deseja: o Brasil, afinal, pode ir junto…
O navio Brasil afunda, mas em vez de todos se unirem para tapar os buracos responsáveis pela água que entra, muitos estão mais interessados em caçar bruxas, em degolar corruptos, “doa a quem doer”. O único problema é que talvez vá doer demais, e em todos, caso o navio realmente vá a pique. Corremos esse risco. Mas alguns ou não percebem, ou não ligam, o que é sintoma de uma mentalidade jacobina.
Salve-se quem puder!
Rodrigo Constantino