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Fora FMI! Ou: Os liberais não se veem representados pelos burocratas do governo

Ai, lá vamos nós… Circula a notícia de que três economistas ligados ao FMI teriam concluído, em relatório, que as medidas “neoliberais” acabam aumentando as desigualdades. A esquerda intervencionista foi ao delírio, claro. Sai o velho “Fora, FMI!” e entra, agora, o enorme respeito ao que dizem alguns membros da instituição (que era obra do Capeta antes). O respeito dos esquerdistas às entidades é altamente seletivo: depende do interesse do momento. Vimos isso com a revista britânica “The Economist”, quando elogiou o Brasil (era o máximo) e quando o criticou (um lixo imperialista!).

Pois bem: o que comentar dessa análise? Em primeiro lugar, vale só lembrar que os liberais de verdade nunca foram fãs do FMI. Nunca se viram representados pelos burocratas do governo, pelos tecnocratas que emprestam recursos dos outros e não assumem accountability algum por isso. Ao contrário: quando o país quebra de vez, alegam que é necessário ainda mais recursos. Precisam proteger suas reputações, não os recursos da “viúva”. Há várias críticas de liberais ao papel do FMI. É só procurar.

Em segundo lugar, o mundo parece obcecado com essa coisa de desigualdade. Thomas Piketty virou celebridade não foi à toa. Poucos leram seu tijolo, é verdade, mas muitos adoram suas conclusões: o mercado produz desigualdades e é preciso mais estado para remediar o problema. Ignora-se que o estado é o maior concentrador de riqueza que existe (basta verificar a renda per capita de Brasília, que produz basicamente leis absurdas e corrupção). Também se esquece que há países bem mais desiguais e muito mais ricos em termos gerais, o que é sem dúvida preferível a ser igual na miséria plena.

Por fim, o ranço keynesiano está evidente na análise dos economistas, que não chega a ser um endosso ao esquerdismo tacanho dos trópicos:

Embora os três economistas reconheçam pontos positivos na agenda neoliberal, eles destacam dois grandes problemas: a remoção de todas as restrições ao fluxo de capital e a rigidez orçamentária dos governos.

Os economistas reconhecem as vantagens da abertura de capital em países em desenvolvimento, mas dizem que o fluxo pode ser de um capital de curto prazo, causando grande volatilidade nos mercados e aumentando as chances de quebra.

Segundo os autores, de 150 casos desde a década de 1980 de economias emergentes que tiveram um forte aumento dos fluxos de capital, 20% resultaram em crise financeira. Além disso, a abertura financeira gera um aumento considerável da desigualdade na população do país, alertaram.

As políticas de austeridade, que frequentemente reduzem o tamanho do Estado, não somente “gera custos sociais substanciais” mas também “prejudica a demanda”, além de aprofundar o desemprego.

Abertura financeira sim, mas não agora. Lembra Santo Agostinho quando pediu castidade, mas não naquele momento. Se alguém acha mesmo que é melhor se fechar para os fluxos de capital, então pode se mudar para a Coreia do Norte. O país está totalmente “protegido” desse maldito capital especulativo. Ou pode perguntar aos petistas se eles preferiam o fluxo de saída em 2015 ou o tal “tsunami monetário” de antes, que condenaram.

Na verdade, o fluxo de capital depende da saúde econômica do país. Claro que se o país estiver doente, por irresponsabilidade do governo, o fluxo vai se reverter. Culpar os “especuladores” nesse momento, enquanto eram adorados na hora de trazer os recursos, é como condenar o termômetro por apontar a febre do doente.

Para terminar, esse papo de que austeridade reduz demanda é coisa de quem leva muito a sério a fórmula Y = C + G + I + (X – M). Ou seja, a renda (PIB) é equivalente ao somatório do consumo, dos gastos do governo, dos investimentos e da exportação líquida. O “cabeça de planilha” olha isso e pensa que se o G cair, então o Y vai cair. A fórmula é keynesiana. O gasto do governo fomenta a “demanda agregada”. Dios mio!

O governo gasta tirando da iniciativa privada ou criando dinheiro de papel do nada, o que é inflacionário. Quem defende gasto público diz que o governo gasta melhor do que os indivíduos e as empresas. Quem prega a austeridade pensa o contrário. Culpar a austeridade, e não a gastança perdulária na fase da bonança, pela recessão é como condenar a abstinência pela ressaca, depois de um baita porre. A recessão existe para limpar o organismo dos excessos de antes. Os keynesianos do FMI querem insistir na bebedeira.

Os tecnocratas do fundo também adoram pregar mais impostos para melhorar as finanças públicas. A solução não está na agenda imposta por economistas do FMI a serviço de governos desenvolvidos, e sim no livre mercado, que nem sempre o fundo defende. Fora, FMI!

Rodrigo Constantino

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