Enquanto escrevo essas linhas, poderia estar submetido a ventos de até 300 km/h. O furacão Dorian já é o segundo mais forte a surgir no Atlântico, e resolveu “estacionar” nas Bahamas, lento em sua progressão rumo ao norte, o que devastou as ilhas com ventos violentíssimos e muito alagamento. Já são ao menos cinco mortos e vários feridos. Com sua categoria 5, era um monstro assustador a caminho da Flórida. Felizmente se enfraqueceu e se afastou da costa.
Mas sua passagem, o rastro de destruição e a apreensão que gerou em todos aqueles potencialmente em seu caminho geram algumas reflexões, tanto de caráter prático como mais filosóficas. Comecemos por essa parte, buscando auxílio em Edmund Burke, cujo primeiro livro, Investigação Filosófica Sobra a Origem de Nossas Ideias do Sublime e da Beleza, trata do conceito do sublime.
Para Burke, a beleza incita paixões positivas, enquanto que o sublime é o deleite que temos em contato com o terrível, com a dor. Ele explica melhor:
O que quer que de alguma forma seja capaz de excitar as ideias de dor e de perigo, ou sjea, tudo o que for terrível de alguma forma, ou que compreenda objetos terríveis, ou opere de forma análoga ao horror é fonte do sublime; ou seja, é capaz de produzir a emoção mais forte que a mente é capaz de sentir. Digo que é a emoção mais forte, porque acredito que as ideias de dor são muito mais poderosas do que as que são introduzidas pelo prazer.
Sentimos uma projeção da dor quando imaginamos o pior, mas também nos sentimos vivos, com vontade de viver, de abraçar quem amamos, pois aquela tragédia pode se abater sobre qualquer um de nós a qualquer momento.
Na era moderna, pensamos que somos capazes de controlar tudo, inclusive as contingências incontroláveis. É preciso ler mais Nassim Taleb para entender que não funciona assim. Volto a Burke, pois o grande pensador tinha noção da importância desse fenômeno em nossas vidas:
A paixão causada pelo grandioso e sublime na natureza, quando estas causas operam em suas formas mais poderosas, é o Assombro; e o assombro é aquele estado da alma em que todos os seus movimentos estão suspensos com algum grau de horror. Neste caso, a mente está tão inteiramente preenchida por seu objeto, que ela não consegue entreter qualquer outro nem, por consequência, raciocinar sobre o objeto que a ocupa. Daí surge o grande poder do sublime, que longe de ser produzido por nossos raciocínios, ocorre antes deles e passa por nós com uma força irresistível. O assombro, como eu disse, é o efeito do sublime em seu mais alto grau; seus efeitos menores são a admiração, a reverência e o respeito.
As contingências do destino não podem ser controladas nem racionalizadas. O que um fenômeno como o Dorian faz é nos lembrar de nossa pequenez, de nossa quase insignificância diante das forças da natureza, de nossa fragilidade e efemeridade. Inspira respeito!
Dito isso, e aqui entro nas reflexões mais práticas, há também muito que o homem é capaz de fazer, se não para controlar a natureza, ao menos para mitigar seus efeitos. O avanço da tecnologia nessa área é impressionante. Podemos apenas pensar o que aconteceria sem todo o aparato que acompanha, com projeções, a força e a rota desses furacões.
A ciência, enfim, nos auxilia nessa luta pela sobrevivência contra a natureza, muitas vezes. Os românticos “naturebas” não entendem que o avanço da humanidade se dá apesar dos obstáculos naturais. A ciência permite antecipar eventos, para que possamos nos preparar, nos proteger, eventualmente evacuar, salvando muitas vidas.
E aqui pulo para outro ponto: a prosperidade material capitalista ajuda, e muito. Basta ver como a destruição causada por tais monstros naturais é desigual: as áreas devastadas costumam ser mais pobres. É lógico: estruturas mais sólidas, aqueles vidros anti-furacão ou os shutters, prédios modernos ou casas preparadas, tudo isso reduz bastante o estrago causado pelo bicho, enquanto casebres sem proteção são varridos como papelão. A história dos três porquinhos já nos ensina essa valiosa lição.
Os ambientalistas vão dizer que a causa do Dorian está no “aquecimento global”, ou então nas “mudanças climáticas”, termo mais vago, ignorando que o mais forte de todos eles, o Andrew, veio em 1992. Mas mesmo que eles tenham um ponto, de que tais fenômenos estejam se tornando mais frequentes, e que a causa seja o homem (premissas questionáveis), a solução não é o que essa turma propõe, como o Green New Dial, uma espécie de governo global autoritário e o retorno ao pré-capitalismo. É justamente mais tecnologia, mais capitalismo, e mais riqueza de que precisamos!
Quando é Haiti, Cuba ou Bahamas na trajetória de um furacão, o estrago tende a ser bem maior do que quando atinge Miami. Não há ainda como impedir um furacão, e não adianta Trump sugerir lançar uma bomba atômica nele. É preciso, então, ser capaz de se proteger melhor. E isso se faz com tecnologia e prosperidade.
Por fim, há muito alarmismo, histeria e paranoia quando surge um desses bichos no oceano e sua projeção aponta na sua direção. Pode-se quase falar numa indústria do furacão, que lucra muito com essa histeria coletiva. Mas, claro, é melhor pecar pela prudência do que ser pego de surpresa e despreparado.
É verdade que há correria talvez com muita antecedência aos supermercados e postos de gasolina, sendo que esses bichos mudam de direção ou força e os modelos estão longe da perfeição. Mas planejar com cautela é sábio. Aqueles acostumados com furacões costumam adotar a máxima do provérbio chinês: prepara-se para o pior, espere o melhor, e receba o que vier.
Até porque, repito, o que vem não temos tanto como controlar. Daí a importância da gratidão a Deus ou “Gaia”, dependendo das crenças. Por ter nos poupado do pior, e simplesmente por estarmos vivos!
Rodrigo Constantino
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