A Visions Gallery, uma galeria de arte contemporânea de Toronto, cancelou um show de cinco dias de uma artista com base na acusação de que ela tinha se “apropriado culturalmente” de material indígena para sua exibição. De fato, a galeria considerou a tal “apropriação cultural” tão extrema que falou em “genocídio cultural”.
O trabalho foi criado pela artista Amanda, de 29 anos, e havia sido inspirado em arte e histórias indígenas de tribos no Canadá. A arte original na qual Amanda se inspirou, de Norval Morisseau, atingiu o pico da fama nos anos 1960, com pinturas normalmente coloridas que, por sua vez, foram inspiradas nas lendas desses povos indígenas.
“Eu apenas tentei aprender tudo que podia da cultura aborígene, suas lições, suas histórias, e tentei capturar a beleza de seu estilo de arte e fazê-la minha própria ao desenhar elementos da natureza dentro do Canadá que têm significado para mim”, disse a artista.
Quando a Visions Gallery divulgou o email com o anúncio da exibição, recebeu uma chuva de protestos em poucas horas, com alegações de que Amanda havia se “apropriado culturalmente” da arte indígena. Muitas reclamações se referiam à raça da artista, que é branca.
“Muitas pessoas aborígenes têm questões com eu não ser nativa… eu sinto que eles pensam que estou tirando sua cultura, mas não estou, de verdade”, desabafou Amanda. “Eu penso que é uma vergonha dizer que o artista não pode criar algo porque ele não é daquela raça”, acrescentou.
A galeria cedeu às pressões, e em sua página consta um longo pedido de desculpas por tentar expor a exibição em primeiro lugar. Além disso, a mensagem diz que aqueles que argumentariam com base na liberdade de expressão estão ignorando a “voz de uma cultura oprimida” e demonstrando “insensibilidade cultural”. Adicionalmente, a galeria argumenta que a expressão artística não pode ser “absoluta”.
Na “arte contemporânea”, como sabemos, vale tudo. Urubus engaiolados se tornam “arte”, gente sem talento algum se chama “artista” por ficar pelado gritando e correndo, ou por examinar o ânus do colega à frente, e por aí vai. O relativismo estético exacerbado dos “progressistas” visa a matar a verdadeira arte, que sempre buscou o transcendental, a beleza, o eterno contra o efêmero.
Mas não venham usar como inspiração a arte de outros povos, especialmente aqueles “oprimidos”, que isso é pecado mortal! Isso é… “apropriação cultural”. Na era do politicamente correto, culturas não se comunicam, são estanques e monolíticas. Curiosamente, os “multiculturalistas” não enxergam vantagem nas trocas culturais, assim como os movimentos raciais, no fundo, são racistas, pois só enxergam “raças puras” e eliminam o pardo, a mistura, a miscigenação da equação simplista.
A cultura ocidental é a mais avançada que temos justamente porque nunca foi fechada em si mesma, pois soube absorver o que havia de melhor nas outras. Essa turma moderninha que fala em “apropriação cultural” e pensa defender as “minorias oprimidas”, normalmente vivendo em lugares como Toronto, Paris, Londres ou Nova York, representa o maior obstáculo ao avanço dessas mesmas minorias, que teriam muito a aprender com a cultura ocidental.
Rodrigo Constantino