Antonio Palocci, o ex-todo-poderoso ministro de Lula, membro da cúpula petista, deverá ser expulso do partido. “Palocci rompeu completamente seu vínculo com o partido ao mentir para comprometer Lula na tentativa de livrar-se da prisão e salvar seu patrimônio. Acho difícil sua permanência, mas a decisão deverá sair desse processo iniciado em Ribeirão”, disse ontem a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Quem mente, claro, é Gleisi, não Palocci. A narrativa de que o ex-ministro está mentindo para se livrar da prisão e salvar seus recursos é patética, mas a única que resta ao PT. Palocci simplesmente não tem a mesma fibra stalinista de José Dirceu, e não está disposto a ir para o sacrifício pessoal para salvar a “causa”, o partido ou o líder. Por isso ele resolveu revelar a verdade – ou parte dela.
Mas Gleisi acerta ao menos numa coisa: Palocci realmente rompeu seu vínculo com o partido. Não ao mentir, pois não mentiu; e sim por falar a verdade. O “partido” tem uma única regra, um mandamento “ético” apenas: vale tudo para defender o próprio partido e seu líder máximo. É o mesmo código de conduta da máfia.
A lealdade deve ser ao chefe, ao capo, não a princípios e valores. Isso é coisa de “pequeno burguês”. Por isso que Dirceu, julgado, condenado e reincidente, não precisa ser expulso do partido, que rasga abertamente seu próprio estatuto. Por isso corrupto algum pego com a boca na botija é expulso do PT. Mas Palocci foi longe demais.
Não quando roubou milhões. Não quando usou o poder estatal para perseguir um simples caseiro. Não quando aceitou propinas. Mas sim quando resolveu revelar alguns fatos incômodos, que complicam a vida de Lula jurídica e politicamente. Principalmente do ponto de vista político, pois na Justiça ele já estava bastante enrolado.
Mas tinha esperanças de emplacar a narrativa de perseguido por juízes parciais em 2018. Tinha a expectativa de posar de vítima uma vez mais. A delação de alguém como Palocci, que vem do centro do poder petista, que era o cotado para substituir Lula no comando do país, era até mesmo preferido ante a Dirceu para tanto pelo próprio ex-presidente, isso vai certamente prejudicar muito os planos políticos de Lula.
E é isso que o PT não tolera! A traição que os petistas não engolem não é ao Brasil, às leis, à democracia. Isso tudo são justamente os meios aceitáveis pelo “partido” para seus “nobres fins”: a permanência no poder. Mas um delator, um “traidor” da causa, isso é insuportável. Não foi Lula quem traiu o PT ao institucionalizar a corrupção e afundar de vez as chances de vitória da extrema-esquerda nas próximas eleições. Não foi Lula quem traiu o PT ao se tornar o “amigo” de Odebrecht.
O traidor é Palocci, por confessar tais crimes. O PT, como a máfia, não pode admitir esse tipo de comportamento. Não pode ser tolerante com os “fracos” que, por crise de consciência ou com mais frequência por querer salvar a própria pele, decidem entregar o chefe. O PT é uma quadrilha, e Palocci merece a expulsão por assumir isso.
Rodrigo Constantino
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