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Globalismo por um globalista: como a elite “progressista” pretende controlar a globalização

Um tema que tem gerado muita confusão nos debates é o globalismo. Muitos sequer sabem do que se trata e chamam de “paranoia de reacionário”, e tantos outros o confundem com a globalização em si. Já gravei um vídeo tentando abordar as principais diferenças entre ambos, e volto agora ao assunto.

Publiquei um texto nesta quarta sobre a Smartmatic, empresa que fornece a tecnologia das urnas eletrônicas para diversos países, inclusive Venezuela e Brasil. A figura central que surge por trás dessa empresa suspeita se chama Lord Mark Malloch-Brown, ligado dos pés à cabeça ao bilionário especulador George Soros, também o maior “filantropo” de causas “progressistas” do mundo.

Resolvi, então, comprar e ler o livro de Malloch-Brown, para tentar compreender melhor seu ponto de vista, conhecer seus argumentos em prol da “globalização” que ele defende. Já comecei os trabalhos, terminando a longa introdução, e eis o que dá para concluir até aqui: não se trata de conspiração, mas de confissão!

As teses “globalistas” apontadas pelos conservadores são defendidas sem muito rodeio, apenas com o uso de alguns eufemismos que uma mente mais familiarizada com o assunto pode identificar rapidamente. O resumo da ópera é o seguinte: essa turma da elite prega uma “globalização” administrada, controlada, que seria justamente o contrário da globalização em si, liberal, “caótica”.

Antes de mais nada, é preciso frisar que não se trata de um sujeito qualquer, mas de uma figura-chave por trás do fenômeno. Malloch-Brown é o ícone perfeito dessa elite globalista, tendo sido o número dois da ONU de Kofi Annan, trabalhado no Banco Mundial, nas empresas e fundações de Soros, como consultor político e como ministro de partido de esquerda na Inglaterra. Como ele mesmo admite, esteve por trás, em posição privilegiada de observação e atuação, dos principais acontecimentos globais das últimas décadas.

Sua constatação, com base nessas análises, é de quão imprevisível são os eventos internacionais. E logo no começo do livro dá para perceber como isso o incomoda. “Algo deve ser feito”. Como lidar com a pobreza mundial, os mercados globais, a disseminação de doenças para além das fronteiras nacionais, o urgente problema do “aquecimento global”?

Para todos esses riscos existe o conceito de um “governo mundial”, ou ao menos de mais concentração de poder nas mãos de burocratas como ele, da ONU, ligados à elite “progressista” financiada por bilionários. Ao contrário da esquerda radical, os globalistas não querem destruir a globalização, pois reconhecem as vantagens das trocas comerciais. O que eles querem é controlar mais a globalização.

A analogia boa é com os social-democratas dentro de um país em relação ao livre mercado. Ao contrário dos socialistas, eles não querem abolir de vez com o mercado, mas querem regular cada vez mais seu dia a dia, concentrar mais e mais poder no estado, nos burocratas, políticos. O resultado disso é o “capitalismo de estado” ou “capitalismo de compadres”, e é exatamente isso que essa elite busca em nível global. Nas palavras do próprio autor:

A maioria dos participantes no debate global argumentou que esta reestruturação dinâmica da economia global, desde que fosse bem gerida e bem governada, poderia deixar a maioria das pessoas ao redor do mundo melhor. Mas teria que ser gerenciada, eles reconheceram, porque a mudança não poderia ser deixada para a mão invisível dos mercados. Sem regulação, as reações políticas nacionalistas podem resistir à globalização ao explorar a injustiça e os custos humanos das mudanças arbitrárias.

Ou seja, eles querem “salvar” a globalização, controlando-a, depositando o poder decisório nas entidades globais. Segundo sua ótica, sem fazer isso haverá reação dos nacionalistas. É justamente o contrário: a reação dos nacionalistas, no Brexit ou com Trump, ocorreu porque a globalização deu lugar ao globalismo, com todo esse aparato burocrático supranacional controlando os mercados e as vidas da população. Trump é odiado por essa elite “progressista” porque não pode ser controlado por ela.

Bruxelas passou a ser uma Brasília da Europa, com calhamaços de regulação impedindo a verdadeira globalização de funcionar, e concentrando poder e recursos nos “amigos do rei”, nos grandes empresários já estabelecidos, nos bilionários que ficam cada vez mais ricos. Não nego que uma parte da revolta popular é contra a globalização mesmo e seus efeitos incontroláveis de curto prazo. Mas o grosso do fenômeno não é antiglobalização, e sim antiglobalismo!

O que essa elite deseja, nas palavras do próprio Malloch-Brown, são forças políticas globais com mais poder de decisão, contra parlamentos locais. Querem que ONGs tenham maior influência, pois controlam as ONGs, que artistas como Bono consigam mais peso decisório nas políticas nacionais. O mantra “deixa o mercado resolver” é rejeitado com veemência por eles, que preferem regulação global como solução.

O todo-poderoso Estado-nação é o inimigo dos globalistas, o alvo que deve ser derrotado, o obstáculo a ser superado. O autor diz: “Este livro tenta explicar por que a política está migrando para além dos limites cinzas dos parlamentos e gabinetes nacionais para um mercado mundial onde as estrelas do rock podem conduzir acordos sobre dívidas globais com banqueiros e ditadores e onde potências emergentes como China e Índia procurarão afastar ex-colonizadores quando montaram suas barracas”.

A admiração pelo modelo chinês, diga-se, está evidente logo na introdução: “Ganhar essa luta exigirá poder estatal, bem como poder comercial. E o futuro modelo do capitalismo pode não ser o mercado livre ocidental, que tropeçou tão mal durante a crise financeira global, mas o asiático com seu ‘estado aliado’, que a enfrentou muito melhor”. 

Não há muito esforço em ocultar o objetivo: “O que precisamos é de um sistema de instituições internacionais que tenham força e flexibilidade para lidar com o inesperado e garantir que a mudança seja gerenciada de forma pacífica”. Ele defende abertamente uma “nova ordem global”, ainda que desconfie das previsões de queda de países em particular. Mas é preciso tentar, não?

Seremos todos “cidadãos globais”, como Obama se identifica, todos cosmopolitas e “liberais”, figuras de Davos, e cada vez menos as fronteiras nacionais e as comunidades locais terão importância. Para tanto, é preciso enfraquecer o patriotismo, além da família tradicional (conceito tribal demais para o hiper-individualismo “liberal”) e do cristianismo (pilar da civilização ocidental e cola do tecido social).

Não parece ser coincidência, então, que este seja o denominador comum de todas as causas “progressistas”, financiadas por essa elite poderosa e muito similares no mundo todo. Feminismo, movimento racial, movimento LGBT, ideologia de gênero, ambientalismo, campanha de legalização do aborto e das drogas, apologia ao Islã, tudo isso se mistura em torno do alvo comum: demonizar o legado ocidental, o homem branco cristão ou judeu, e enfraquecer os pilares de nossa civilização, relativizando nossos valores morais e criando dependência do estado global, único capaz de “resolver” essas questões. A agenda pode ser uma só, apesar de parecer tão plural. Nas palavras do autor:

Devemos aproveitar a globalização para uma visão de benefício para todos, pelo menos um limiar básico de segurança, bem-estar e oportunidade humana. Devemos demonstrar que a governança global pode gerar equidade econômica entre as nações; segurança para as pessoas; e regras acordadas para compartilhar nossos recursos naturais finitos e acima de tudo os processos para gerenciar mudanças globais.

Isso não é globalização nem aqui, nem na China! Isso é “capitalismo de estado” em escala planetária. Isso, por que não dizer?, é um pouco de socialismo. Isso é uma elite tentando controlar os mercados globais, usando as causas “progressistas” como instrumento. Isso é, caros leitores, globalismo.

Rodrigo Constantino

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