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Volto hoje ao tema do globalismo, que já foi abordado nesse vídeo sobre as diferenças básicas entre globalização e globalismo, assim como nesse outro vídeo recente, que mostra um caso concreto de tentativa de influência em eleições locais por parte de uma elite rica e poderosa. Percebo que ainda persiste muita dúvida e confusão acerca desse assunto.

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Uma forma mais simples de resumir as diferenças talvez seja separar a economia da política. Os liberais clássicos defendem o livre mercado não só em nível doméstico, como também em nível global. Nesse sentido, todo liberal é um “globalista”, ou melhor, um defensor da globalização. Mas isso não quer dizer, em hipótese alguma, que ele deva defender uma maior concentração de poder político.

Thatcher, por exemplo, defendia mais liberdade econômica para seu país e o mundo, foi uma grande defensora das privatizações, endossava uma participação mais ativa do Reino Unido no comércio mundial, era, enfim, uma entusiasta da globalização. Mas ela rejeitava a ideia de o Reino Unido delegar cada vez mais poder para uma União Europeia, adotando moeda comum, um Parlamento supranacional e outras medidas que sacrificassem a soberania nacional do povo britânico.

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Atualmente, os globalistas falam cada vez mais em integração, mas não necessariamente econômica, como defenderiam os liberais, e sim política. Há propostas que retirariam mais e mais poder dos Parlamentos locais para concentrá-lo em Bruxelas, ou na ONU, em burocratas distantes do povo. Esse foi o tema da coluna de hoje do professor João Carlos Espada, em que faz uma eloquente defesa do “nacionalismo”, contra tal utopia globalista:

Segundo os defensores da proposta, este seria um novo passo para o reforço da democracia europeia. E já começaram a criticar os que levantam dúvidas, acusando-os do novo (talvez o único) pecado nos meios euro-federalistas: ‘nacionalismo’.

[…]

Será uma boa ocasião para revisitar o tema. Mas é possível aqui ao menos recordar o papel crucial do sentimento nacional na viabilização da democracia liberal (ou constitucional). Sem sentimento de pertença a um todo superior às partes — em regra, o todo nacional — não é possível auto-governo em liberdade: as minorias tenderão a não aceitar as vitórias eleitorais das maiorias; as maiorias tenderão a perseguir as minorias.

Por outras palavras, é em última análise o sentimento nacional partilhado que viabiliza o princípio demo-liberal do “governo da maioria, direitos das minorias.” Esta razão (que não é a única) seria suficiente para concluir que a democracia liberal não pode nem deve ignorar o sentimento nacional. Os partidos centrais das democracias europeias, agora seriamente enfraquecidos em inúmeros países, fariam bem em reflectir sobre este tema.

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Um dos princípios mais caros aos liberais é o da subsidiariedade, ou seja, quanto mais perto do indivíduo estiver o poder político, melhor. Pequenas ágoras que podem deliberar sobre questões locais atendem bem melhor aos anseios liberais do que uma espécie de “governo mundial”. Os cantões suíços são outro bom exemplo da mentalidade liberal.

A política deve ser local, perto do cidadão, respeitando-se as diferenças culturais, o sentimento nacional, comunitário. Mas isso não precisa ser sinônimo de protecionismo comercial. Ou seja, é perfeitamente possível e legítimo que um liberal defenda uma integração voluntária econômica cada vez maior, ampliando o escopo do mercado, enquanto se nega a mergulhar numa integração forçada política, meta dos globalistas.

O liberal deve defender a globalização. Mas não deve se tornar um globalista “cosmopolita”, defensor de uma “nova ordem mundial” em que valores como o patriotismo e o apego familiar deixaram de existir. Muitos “liberais” modernos não entendem isso, e é por esse motivo que precisam dos conservadores de boa estirpe (linhagem britânica) mais do que nunca. O alerta do professor Espada mostra bem isso.

Rodrigo Constantino