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Por Sergio Renato de Mello, publicado pelo Instituto Liberal

Neste ano de 2017 a vinheta da Globeleza da Rede Globo não expôs a modelo da forma de sempre. Desta vez, em meio a lamentos de marmanjos entusiastas da tradição globeleziana, ao invés de seu corpo vir nu e pintado, ele vem vestido. A modelo apareceu vestida com roupas representativas de variações da cultura brasileira, uma simbiose que une manifestações de danças, ritmos e trajes típicos e suas vestimentas em terrae brasilis.

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Já existem manifestações na Internet contraditórias entre si, umas dizendo que se trata de mera troca de escolhas por parte da Rede Globo, sem a mínima intenção de ideologiar o carnaval, ou ao menos a vinheta da chamada para tal, e outras achando que a Rede Globo, uma vez mais, aderiu ao politicamente correto em sua forma ativa uniformizando a modelo com vestes tradicionalistas nacionais.

Não quero ver nus na televisão. Mas a opção de um mal menor seria, obviamente, a não ideológica, já que o feminismo extremista ou radical chegou a proclamar o mal contra os homens em sua forma mais elevada, a de aniquilação total, um tipo de comportamento maniqueísta que culmina numa misandria orgásmica. É isso que se quer evitar.

Uma coisa é certa: o uso de roupas nessa entrada de chamada não é em razão de uma frente fria em pleno fevereiro. Conhecendo a Rede Globo como uma embaixada de uma religião civil pagã em meio televisivo disfarçada de arte e ciência, não se tem por errado dizer que qualquer estratégia ideológica dessa rede anticristã é sempre o fundamento de toda e qualquer atitude midiática sua. O bispo Edir Macedo, abertamente refratário à rede (porque ela conclamou a sociedade a dizer sim à sua prisão na época em que ele ainda pregava na praça pública), se ficou sabendo disso, não abriu sorriso em razão de um nu a menos circulando por aí na mídia; deve ter ficado triste, isso sim, porque o feminismo é que foi o mote nessa troca, digamos, por uma mal menor, na visão da Globo, obviamente.

Ou seja, alternativas à escolha. Ou o nu ou a ideologia. Mas, logicamente, acredito eu, não foi trocado seis por meia duzia. Entre os dois males, foi escolhido o mal pior. Não era de se esperar outra coisa da Rede Globo, muito embora ela tenha errado nisso porque a sua religião pode cultuar vários deuses ao mesmo tempo. Um nu a menos ou um nu a mais não ia fazer a mínima diferença, pois guerras não mais são feitas com armas, e sim com ideologias.

Entendo que o combate feminista está vindo aí como forma de propagar ou disseminar suas ideologias próprias. Não se trata meramente de dar maior valor a questões culturais brasileiras, mas sim de impedir que a mulher tenha o seu corpo desvalorizado e banalizado. Uma bandeira feminista levantada e conhecida mais especificamente que reprime a objetificação do corpo da mulher, no caso, ainda mais, da mulher negra. Querem pintar um mundo cor de rosa para todo mundo.

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As repreensões ao reacionarismo dos conservadores vindo da ala feminista e de seus adeptos têm que entender uma coisa. Não se trata simplesmente de defender que as coisas devem ficar do jeito que estão ou de voltar à era das trevas. Soa insólito defender que a guerra é contra os gays ou contra as feministas. Não é isso. A luta é ideológica e não de sexo ou sexista. O que se combate é o gayzismo ou o feminismo e não os seus lutadores pessoais, muito embora, na grande maioria dos casos, os guerreiros é que sofrem as consequências de suas livres escolhas. Livre arbítrio.

Quando se defende o combate ao preconceito, quando ele é existente, não se tem dúvida alguma de sua legitimidade. Mas o instrumento de que se utiliza nessa guerra é que está sendo questionado e pode atingir até mesmo terceiros inocentes. Por exemplo, soa mais hediondo do que mudar uma cultura ou o psicológico de uma criança através da ideologia de gênero nas escolas? Isso sim são ramificações bárbaras de um sexismo, feminismo ou gayzismo camufladas e enganadoras, permissivas em desrespeito a valores, princípios e direitos até mesmo fundamentais dos indivíduos. Theodore Dalrymple explica, ao ensinar o preconceito sadio, que a reação não é um preconceito em si, mas sim a valorização da conduta de se ter idéias pré-concebidas. Ele diz que ser misógino, sexista, racista, etc., acabou sendo preconceito, então o comportamento contrário é o politicamente correto de procurar não se ter preconceito algum, o que soa insólito diante de nossos direitos e valorizações pessoais de manifestação com responsabilidade e sem ofensa de idéias adredemente cultuadas. É o caso exemplar da necessidade de se sentar à mesa de refeição em família, também trazido pelo Dr. Theodore, hoje aviltado em razão de outras “necessidades” individuais.1

Aliás, o combate feminista aos nus na televisão, ao menos na vinheta da “musa do carnaval” da Rede Globo, soa contraditório diante de sua própria afirmação de que o corpo é propriedade exclusiva das mulheres (até mesmo com título justo e registrado em cartório) e dele elas podem fazer o que quiserem. É expressão de Theodore Dalrymple: “… uma mulher é o Rei Sol do seu próprio corpo”..2 Meu corpo minhas regras conflita com esse espaço “cultural” de mostrar a beleza dos corpos femininos. Nada mais familiar, já que a incoerência é marca do signo feminista.

Como até mesmo já se tem noticiado na mídia às escâncaras, as idéias e os fatos indicam que tudo deve se resolver mesmo no combate ao homem, e não no combate ao preconceito, único legitimador dessas práticas que culmina mesmo é no ataque ao machismo como querem fazer crer as feministas. O problema é que, ao desaviso do feminismo, um preconceito é substituído por outro, como diz novamente o Dr. Theodore. Como a bastardia não promove qualquer liberdade às mulheres, a mudança da vinheta da Rede Globo também não. Contrário, oprime. O problema é que querem salvar o mundo e não os homens; salvar o mundo do ceticismo com dúvidas e mais dúvidas (Descartes) e o mundo das doenças e de todos os males com a eliminação de “indesejáveis” (Adolf Hitler).

Culturalmente, Antonio Gramsci deixou claro que a ideologia tem que estar presente nos lugares mais recônditos da sociedade, aqueles esconderijos pessoais e onde a ideia se propaga sutilmente e sem percepção de sua maldade. Aí a televisão e os lares entram nessa jogada política e cultural. No caso, a intenção é mexer com o intelecto dos que apenas querem sambar e sem que eles percebam isso.

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A beleza deixou de ser importante? Para desalento dos marmanjos, trocaram a beleza feminina pela política feminista, e como provavelmente eles também não gostam de política, já que vivem a la Mill (PRAZER X DOR), acharam isso muito feio. O próprio nome já diz: “Globeleza”.

Para o próximo ano, as previsões são de que a modelo não será mais uma mulher negra e magra, ou talvez nem seja mais uma mulher. Os videntes contratados pela Rede Globo, como ela gosta muito de vidência, são nesse sentido.

1Em defesa do preconceito: a necessidade de se ter idéias preconcebidas. Tradução: Maurício G. Rigui. 1ª ed. São Paulo: É realizações, 2015

2mesma obra, p. 59

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