Juro ao leitor que gosto de imaginar até onde vai a sensibilidade dos “progressistas” nessa “marcha das minorias oprimidas”. Mas mesmo usando minha criatividade, que não é das menores, o mundo real vai lá e me surpreende. É porque a esquerda não tem limites, ao contrário da minha imaginação.
Vejam, por exemplo, essa notícia que um amigo me mandou (não sei o que exatamente ele fazia passeando pela Caras, mas prefiro crer que estava na sala de espera do dentista e era só o que tinha):
A atriz Carolina Kasting causou polêmica no júri da Dança dos Famosos, quadro que foi ao ar neste domingo, 27, no Domingão do Faustão.
Ao avaliar a última performance da noite, ela deu uma nota 9 para a atriz Mariana Xavier, de longe a pior avaliação da noite. “Percebi que vocês baixaram o compasso um pouquinho porque aí a Mari conseguiu alcançar. Você é um monstro menina, um monstro de atriz, eu adorei“, disse ela justificando a nota. O 9 causou espanto não só na atriz, como no público que detonou Carolina nas redes sociais.
A repercussão negativa levou a atriz a se pronunciar. Em seu Twitter, ela questionou os fãs? “Por que vocês consideram uma nota 9 ruim?‘, perguntou ela.
Kasting também mandou um recado para Mariana Xavier: “Amada, todos revoltados com o meu 9 mas 9 é uma nota excelente! Jamais considerei ruim. Me perdoa!“, escreveu ela.
Sem responder diretamente o pedido de perdão, Mariana usou suas redes sociais para também mandar um recado aos fãs: “Eu realmente não consegui disfarçar [a chateação], a transparência não está só na roupa, mas na minha personalidade. Claro que todo mundo tem direito de dar a nota que quiser, desde que seja coerente e acho que não foi nem em relação as outras notas que foram dadas e nem com a justificativa que foi apresentada. Apesar desse 9 a gente continua no páreo. Sou uma mulher real, possível e a minha missão é levar alegria para vocês“, disse ela.
Fãs seguiram questionando a avaliação. “Só queria entender os critérios“, disse um. “9,8 para a Cris [Vianna] e 9 para a Mari é um absurdo“, disse outra.
Mais tarde, Carolina Kasting publicou um longo texto em seu blog pessoal chamado “O outro, um ser desprovido de direitos”. Nele, a atriz, que é bailarina clássica de formação, fala sobre as críticas que sofreu e pede respeito. “Todos que me conhecem sabem que posso ser tudo, menos preconceituosa. Sabem que me preocupo mais com o outro do que comigo mesma e que principalmente, não considero o ódio uma moeda de troca. […] Será que esse ódio todo não vem da frustração de não poder estar no lugar do outro? O fato é que o meu direito termina onde começa o direito do outro“, disse.
O leitor pode perguntar, com todo o direito: isso aqui virou blog de fofoca, uma ti-ti-ti que fala das “polêmicas” entre os “famosos”? Pouco me importa as farpas que as atrizes trocam. Mas é do meu interesse – e acho que deveria ser do de todos – o grau de mimimi em que o mundo chegou nessa “revolução das vítimas”.
Afinal, essa sensibilidade exagerada do politicamente correto é a antítese da meritocracia defendida pelos liberais e pilar fundamental do sucesso capitalista. Num concurso de dança, por exemplo, presume-se que as habilidades de dançarina serão avaliadas, e nada mais. O que está em julgamento não é o sofrimento das gordinhas ou o preconceito da sociedade (gordofobia?), e sim sua técnica, o ritmo, o compasso, a harmonia.
Carolina Kasting é bailarina clássica de formação, mas não é isso que deve entrar em cena ali, pois seu rigor profissional vai contra as sensibilidades da atriz acima do peso e de todos aqueles que só enxergam isso, nada mais. Ela precisaria deixar de fora seu conhecimento de dança e utilizar apenas um único critério em sua avaliação: o grau de vitimismo da julgada.
É proibido dar nota 9 para as gorduchas! Nada menos do que um dez será aceito. E a atriz que julgou ainda terá de pedir desculpas por ter sido tão rígida, rigorosa, insensível, para não dizer preconceituosa. Quem não se ajoelhar diante dos inquisidores politicamente corretos irá sofrer toda a sua ira. Poucos são aqueles que não dão a mínima para esse chilique histérico. Até porque não podem se dar ao luxo, já que poderiam perder até seus empregos.
É por isso que uma banalidade dessas vira assunto aqui no blog. Justamente porque a coisa é séria, e atingiu um patamar assustador. Diante dessa vitimização toda, surgiu até uma dúvida sincera e mortal, e peço a ajuda dos “especialistas” em mimimi para solucionar o dilema:
Quem é mais vítima nessa história? Eis o único critério que restou de julgamento no mundo pós-moderno: o quão vítima você é. E isso é sinônimo da morte da meritocracia, daquele sonho antigo de Martin Luther King Jr., de viver numa nação (ou num mundo) em que o caráter individual fosse determinante, não a cor da pele. Ou, no caso, que as habilidades de dançarina fossem predominantes, não o peso na balança…
Rodrigo Constantino
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