O Ministério da Agricultura autorizou a utilização de 42 novos agrotóxicos no Brasil, ampliando o recorde de pesticidas liberados pelo governo federal neste ano. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) nesta segunda-feira (24).
Ao todo, a pasta liberou 239 novos agrotóxicos no país desde janeiro. Segundo o ministério, boa parte das substâncias segue fórmulas que já estão no mercado — apenas uma delas nunca havia sido introduzido no Brasil—, e a medida visa aumentar a concorrência.
Na lista, há itens que já foram banidos pela União Europeia e vários definidos como “muito perigosos para o meio-ambiente” pelo próprio governo.
Em abril, a ministra da Agricultura , Tereza Cristina (DEM), atribuiu as liberações recordistas neste ano a critérios “técnicos” que eram barradas em governos anteriores por conta de “processo ideológico”.
Oficialmente, a pasta defende a autorização do uso destas novas fórmulas para “aumentar a concorrência e baratear custos” dos agrotóxicos , enfatizando que os produtos são fórmulas “genéricas” de princípios ativos já produzidos no Brasil.
O Greenpeace e demais entidades ambientalistas reclamam, claro, o que é natural. Mas ainda que usem argumentos “técnicos”, alegando que muitos esses químicos ainda não foram testados ou aprovados na Europa, sabemos que a postura contrária é mesmo ideológica, e seria a mesma de qualquer forma.
No livro Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo, do jornalista Nicholas Vital, vemos como o fator ideológico tem pesado bem mais do que a ciência quando o assunto é esse. Já resenhei o livro aqui, e resgato um trecho:
O que o autor demonstra, com muita pesquisa e informação, é que toda essa seita criada em torno dos orgânicos depende de mitos, não fatos. As distorções já começam na escolha das palavras. Chamar de “agrotóxicos” os defensivos agrícolas denota um claro viés ideológico.
Alguns mitos derrubados pelo autor: 1. não há registro histórico de morte comprovadamente relacionada ao consumo de alimentos convencionais, enquanto os orgânicos foram responsáveis por algumas mortes e diversos casos de intoxicação; 2. não existe qualquer diferença, seja nutricional ou de sabor, entre os alimentos orgânicos e os convencionais; 3. o orgânico não é “um pouco mais caro”, e sim bem mais caro; 4. é inviável alimentar 7 bilhões de pessoas com produção orgânica, hoje responsável por menos de 1% do total no Brasil.
Por que, então, a mania com os orgânicos continua crescendo? Em parte isso se deve ao sensacionalismo da imprensa, que adora vender perigo. Há muitos interesses em jogo também, pois as redes varejistas vêm ampliando os espaços dedicados aos orgânicos, que apresentam margens de lucro enormes. O preconceito ideológico também influencia, e jovens idealistas se sentem combatendo o “sistema”, o capitalismo, as grandes empresas, enquanto defendem os “produtores familiares” (na prática, empresários como o ator Marcos Palmeira).
[…] Hoje o Brasil é uma potência global no agronegócio, locomotiva da nossa economia, graças à introdução de defensores agrícolas mais modernos, desenvolvidos após muita pesquisa por gigantes internacionais do ramo. As mesmas empresas odiadas pelos ambientalistas, como Monsanto, Basf e outras. Em nosso clima tropical, com elevada incidência de pragas, a alternativa aos defensivos agrícolas é a fome, não a produção orgânica (que, aliás, também usa seus defensivos, o que costuma ser ignorado pelo público). A pergunta, então, é: você defende mesmo a redução na produção de alimentos em nome de uma ideologia?
[…] Em suma, essa cruzada contra os “agrotóxicos”, importada da Europa e dos Estados Unidos, está mais para uma seita religiosa do que qualquer outra coisa, uma vez que não se sustenta em fatos ou na ciência. Atores famosos bancam os descolados e muitos querem copiá-los, no afã de seguirem seus passos rumo ao sucesso. Tem muito dinheiro envolvido no negócio dos orgânicos também. Por fim, a mídia vende pânico, o que rende audiência. O que poucos querem saber é a verdade. E a verdade é que o preconceito ideológico, não a ciência, explica a paranoia com os “agrotóxicos”. Graças a eles a produtividade no campo disparou e bilhões de bocas podem ser hoje alimentadas. Se o leitor ainda não está convencido e quer apostar na solução “natureba”, pode optar pela homeopatia em vez de remédios tradicionais da próxima vez que ficar doente. Boa sorte. Vai precisar.
Não sou especialista para afirmar se a aprovação desses agrotóxicos em particular foi correta ou não, mas tenho convicção de que o peso do fator ideológico tem sido grande demais, e que esse novo governo desafia essa mentalidade “religiosa” quando o tema é agrobusiness. Prefiro dar um voto de confiança ao governo, que quer endireitar o Brasil, não ao Greenpeace…
Rodrigo Constantino