O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) recuou e decidiu, na noite desta quinta-feira (17), suspender a nomeação do economista Murilo Resende Ferreira para assumir a coordenação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
A nomeação havia sido publicada em edição extra do Diário Oficial da União na noite de quarta-feira (16) por meio de uma portaria assinada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Na noite desta quinta, também em edição extra do Diário Oficial, Lorenzoni assinou outra portaria indicando que decidiu tornar “sem efeito” a nomeação de Ferreira, sem dizer o porquê da sua escolha.
O economista ocuparia o cargo de diretor de avaliação da educação básica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Não há nada demais em recuar, reconhecer erros, e mudar o rumo. Ao contrário: é sinal de humildade e mente aberta. Claro que o ideal, para evitar desgaste, seria uma checagem mais minuciosa antes de apontar os nomes, para não ter que ficar voltando atrás com frequência.
Murilo Ferreira foi atacado pela esquerda por seu apoio ao Escola Sem Partido e por falar em doutrinação no nosso ensino. Bobagem! Isso seria qualidade, não defeito! O problema é que o sujeito é radical demais mesmo, um tanto idiota, com ofensas gratuitas nas redes sociais e até mensagens que pregam a queima de livros (por acaso o meu estava na lista do inquisidor).
O MBL o expulsou por essas posturas condenáveis, e tornou pública sua revolta contra tal indicação. Murilo é o típico “olavete” que acha que substituir argumentos por ofensas nas redes sociais é sinônimo de lutar como um soldado contra o marxismo cultural e pelo resgate da civilização ocidental. Uma piada!
Bolsonaro tem como calcanhar de Aquiles justamente as áreas em que Olavo de Carvalho demonstrou maior influência, principalmente o Itamaraty. No MEC, Ricardo Vélez-Rodriguez pode ter sido indicado pelo filósofo, mas não é um “olavete”, e sim um liberal clássico com inclinação conservadora e longa bagagem intelectual. Não é, em outras palavras, uma cria de Olavo, aluno de seus cursos, ainda que possa ter sido influenciado por suas ideias.
E jamais adotou postura de “jacobino de direita” em redes sociais. É, em outras palavras, um conservador de boa estirpe, bem diferente dessa garotada que enxerga George Washington quando olha um caminhoneiro em greve pedindo privilégios enquanto taca fogo na estrada, e que se vê como um templário numa cruzada liderada pelo malucão do Steve Bannon, que nem Trump quis manter no seu governo.
Se o governo Bolsonaro quer mesmo dar certo, então o presidente terá de escutar mais a ala liberal econômica, e menos o seu “guru” que nega o posto e age para criar discórdia entre a direita. Governar é conciliar interesses, contemporizar ânimos, focar em pautas comuns e saber definir prioridades.
O estilo do “olavismo”, bem similar ao modus operandi adotado pelos filhos do presidente, pode produzir um caminhão de likes nas redes sociais, mas não vai ajudar a aprovar a reforma previdenciária ou a reduzir de fato o peso do estado em nossas vidas. Não acho que a economia seja tudo, e dou muita importância à guerra cultural. Mas dou igual importância aos métodos de combate. Não aceito a tese de que a direita deve praticamente adotar os mesmos meios da esquerda nesse “vale tudo”, pois isso seria a derrota de tudo aquilo que mais valorizamos…
Rodrigo Constantino