Em seu editorial de hoje, o jornal O GLOBO reconhece os méritos do governo Temer, especialmente na área econômica, mas critica a paralisação da agenda de reformas. O jornal está certo, tanto no elogio como na crítica, mas falta admitir que a paralisação foi, em boa parte, fruto daquela gravação para lá de suspeita do empresário Joesley Batista, da JBS, que o próprio GLOBO deu destaque como “furo de reportagem” e, depois, passou a liderar uma campanha pelo afastamento do presidente. Diz o jornal:
A escolha de Temer, entre outros, de Henrique Meirelles para a Fazenda e Ilan Goldfajn para o Banco Central, foi decisiva para a grande vitória de seu governo, que tem sido a estabilização da economia, com retomada de crescimento, embora ainda lento, dada a grande dimensão do desemprego. A agenda estava correta.
No balanço dos dois anos de gestão, os destaques são uma inflação muito baixa, aquém de 3%, quando a meta anual é de 4,5%; e, embora ainda titubeante, um crescimento na faixa dos 2%. Diante do encolhimento do PIB de quase 8%, em 2015/16, é bom resultado.
[…] Mas o fracasso final de Temer, simbolizado pela virtual paralisia do governo há um ano, cenário que deve persistir até acabar o mandato, em dezembro, é decorrente das práticas da velha política do PMDB do presidente.
[…] O presidente tem méritos na escolha da equipe econômica, mas errou ao não renunciar quando ficou comprovado o relacionamento indevido com o empresário Joesley Batista, da JBS, ao mesmo tempo em que surgiam sinais de corrupção no tal decreto do Porto, em fase de investigação. Uma conversa entre Temer e Joesley, gravada pelo empresário, divulgada pelo GLOBO, é definitiva.
Talvez Temer devesse ter renunciado mesmo, ainda que o grau de incerteza com mais um presidente caindo em poucos meses fosse imprevisível. Mas talvez fosse o caso de o próprio GLOBO assumir que pode ter exagerado na dose, com sua campanha insistente por tal renúncia, num momento em que o país precisava tanto das reformas propostas pelo governo, tudo com base numa gravação estranha de um empresário ligado até a raiz do cabelo com o PT.
Quem não lembra das manchetes bizarras que colocavam Temer, e não Lula, como o chefe da maior quadrilha da política nacional? Foi com o PT no comando do governo que a JBS se tornou a gigante de então, e o despertar tardio de Rodrigo Janot para a cruzada anti-corrupção deveria ter chamado a atenção dos mais céticos. Muitos desconfiaram da coisa toda e alertaram: aquilo tinha cheiro de golpe contra o novo governo, por parte dos petistas ressentidos e do establishment que temia as reformas dolorosas (para privilegiados).
Um dos jornalistas que mais se destacaram nesses alertas foi justamente Guilherme Fiuza, que tinha coluna no GLOBO. Ele escreveu vários textos mostrando como tudo era esquisito, suspeito. Mas Fiuza acabou demitido do jornal e também da revista Época, do mesmo grupo, enquanto Bernardo Mello Franco, de extrema esquerda, foi contratado para ter uma coluna com enorme destaque.
Como estaria o Brasil hoje se a agenda de reformas continuasse, se as mudanças previdenciárias tivessem sido aprovadas? Não sabemos, mas podemos arriscar com alto grau de convicção que estaria muito melhor. Mas havia uma fita estranha no caminho, gravada por um empresário suspeito e com a participação de promotores bastante suspeitos também. Mas o GLOBO não quis saber de nada disso: endossou a pressão pela renúncia de Temer, ajudando muito a criar o clima de impasse e a tal paralisação das reformas que agora denuncia.
Já Joesley viu seu acordo de delação subir no telhado, justamente porque sempre teve vício de origem, e agora acaba de ser denunciado pelo MPF, acusado de comprar um procurador da República. Mas era esse o “herói” que expunha o “chefe da maior quadrilha do país”. Enquanto isso, Fiuza aproveita o primeiro aniversário desse episódio para usar sua arma mais eficaz, a ironia:
Pois é: o Brasil parou, e as melhorias foram estancadas, ainda que já significativas (justiça seja feita aos méritos de Temer). Mas não pega bem aquele que ajudou tanto nessa paralisação ficar reclamando, agora, que Temer não renunciou após aquela gravação suspeita. Poderíamos ter aprovado algumas reformas importantes, não fosse tanta pressão da mídia por conta de uma denúncia sem muita credibilidade.
Rodrigo Constantino
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