Os revolucionários de esquerda, socialistas e comunistas, sonharam com um “novo mundo”, igualitário, utópico, sem propriedade privada e, portanto, sem inveja, ganância ou disputas. Imagine! E, para se buscar um fim tão “nobre” (ao menos para quem confunde seres humanos com insetos gregários), quaisquer meios eram justificáveis. Colocar-se no caminho em nome de princípios éticos ou da defesa do indivíduo era coisa de moralismo burguês.
Pegar em armas em nome dessa revolução era a coisa mais charmosa do mundo, que atraiu basicamente jovens de classe média ou da elite (menos os proletários, preocupados demais em trabalhar para melhorar de vida). O assassino Che Guevara é um bom exemplo, entre tantos. E o resultado conhecemos: uma chacina sem precedentes, que ceifou a vida de cem milhões de pessoas e instaurou regimes ditatoriais cruéis em todo canto do planeta. Miséria, terror e escravidão: o inexorável destino de todo experimento socialista.
Diante disso, o que os comunas podem fazer? Alguns insistem na retórica violenta, querem pegar em armas, explodir prédios e matar gente, para dar vazão ao seu ódio disfarçado de nobreza. Outros, porém, perceberam que essa linguagem surtiria pouco efeito, especialmente no Ocidente democrático. Era preciso se adaptar, persuadir com mais jeitinho, introduzir o monstro aos poucos, gradualmente, quase imperceptivelmente. A revolução armada dava lugar, então, à revolução cultural, que teve em Gramsci e na Escola de Frankfurt seus principais ícones.
Hoje vemos os estragos causados por essa gente em todo lugar, especialmente nas universidades. A hegemonia esquerdista é uma conquista deliberada desses revolucionários. As políticas identitárias são uma clara adaptação, tornando mais elástico e abrangente o conceito de “classe oprimida”: atualmente, todas as “minorias” são vítimas do grande algoz da humanidade, o homem branco heterossexual cristão ou judeu. O legado ocidental é um rastro de exploração nessa ótica revisionista.
Os comunistas mais espertos entenderam que esse era o caminho para destruir a civilização ocidental, enfraquecendo seus pilares, como a família tradicional, o capitalismo liberal, o cristianismo, os valores morais objetivos. Em sua coluna de hoje no GLOBO, um deles, o professor Daniel Aarão Reis, demonstra com perfeição como funciona o esquema. Reconhece os abusos dos revolucionários com armas para enaltecer os revolucionários com palavras, ou seja, os “intelectuais” inspirados em Gramsci, Foucault e Marcuse. Diz ele:
No entanto, ao longo destes anos quentes, e também em 1968, surgiu, embora de modo embrionário e tateante, um outro paradigma de mudança social. Apareceu nas lutas de estudantes, de mulheres, de muitos que reivindicavam a ampliação dos direitos democráticos, a elaboração de novos direitos, identitários (negros, indígenas, entre outros) ou direitos a exercer plenamente suas opções sexuais (movimentos gays) ou comportamentos sociais considerados desviantes (experiências com substâncias que ampliavam as possibilidades da percepção humana) ou construir, em comunidades, modelos alternativos de vida.
No âmbito deste novo paradigma, a luta pelo poder político já não era central, nem mesmo considerada indispensável. Tratava-se, antes e acima de tudo, de conquistar espaços de liberdade, criticando-se aí tendências autoritárias, fossem elas quais fossem. O prioritário era persuadir as gentes, numa perspectiva a longo prazo e no contexto de transformações moleculares. O recurso à violência e os governos autoritários cediam lugar a uma perspectiva também revolucionária, mas de outra natureza, baseada na ampliação da democracia, que era urgente valorizar e aprofundar.
O interessante — e revelador — é que tais propostas foram ignoradas, rejeitadas e mesmo reprimidas não apenas pelos governos de direita, mas também pelas forças tradicionais de esquerda, no poder ou na oposição. Tanto os governos conservadores, nos EUA e na Europa, quanto as ditaduras políticas de esquerda (URSS, Cuba e China), configurando-se como forças frias, esmeraram-se em liquidar os movimentos renovadores dos anos 1960.
Conseguiram derrotá-los. Mas não os venceram. Atestam-no o vigor atual deste novo paradigma. Enquanto a Guerra do Vietnã, vitoriosa, em 1975, tendeu a aninhar-se no passado, não abrindo perspectivas de futuro, os chamados novos movimentos dos anos 1960 continuaram, nas décadas seguintes, assumindo protagonismo relevante. Neles não são mais as armas que dão o tom, as palavras é que, agora, subordinam as armas. A catástrofe violenta, substituída pela persuasão e pela valorização da democracia.
Não seria este o melhor e mais fecundo legado dos anos 1960?
A resposta, claro, é não: esse seria o pior legado dos anos 1960, pois continua fazendo vítimas, e justamente por ser mais disfarçado, dissimulado, ao contrário de uma revolução armada que instala uma tirania evidente. Mas o autor, que de bobo não tem nada, sabe que precisa atrair adeptos da seita com esse discurso mais suave, com o manto da “justiça social”, alimentando a “marcha das minorias oprimidas”.
O PSOL que fala manso, seduzindo riquinhos de uma elite alienada, é mais perigoso do que o PT que usa soldados do MST. Ambos são sócios de um mesmo projeto totalitário, sombrio, terrível. Mas uns lançam mão de uma estratégia mais violenta, enquanto outros posam de “pacifistas”, de defensores das “minorias”, do planeta, dos animais, das vítimas de preconceito.
Eles falam em “tolerância” e “pluralismo” da boca para fora, enquanto desejam impor o “pensamento” único, a adesão plena aos seus dogmas. Abusam do relativismo seletivo e hipócrita enquanto tentam corroer a estrutura de nossa civilização por dentro. Como mascaram suas intenções com essa aparência sutil, enganam mais gente.
“Quem espera que o diabo ande com chifres pelo mundo será facilmente sua presa”, alertou Schopenhauer. Os comunistas leninistas mostravam os chifres, berravam, apontavam armas. Isso afugentou muita gente comum, apesar de ter levado “intelectuais” ao orgasmo. Os comunistas modernos, seguidores de Gramsci, chegam “até” a condenar esses irmãos de ideologia, que no fundo admiram, e oferecem flores com a mão direita, escondendo a faca na esquerda.
Eles dão aula aos seus filhos, que os consideram super legais, descolados e “prafrentex”. Eles escrevem as reportagens dos jornais, como “formadores de opinião” imparciais. Eles fazem filmes e novelas, influenciando milhões. E você ainda acha que o perigo real é um bando de barbudo sujo com pistolas nas mãos?
Rodrigo Constantino