É impressionante. O PT sofreu um golpe quase fatal, mas conta com a simpatia e a ajuda de muitos veículos que ele mesmo chama de “golpistas”. É isso mesmo. A revista Época publicou um texto de Eugênio Bucci torcendo para a recuperação e renovação do PT. A Folha publicou um texto de Valdo Cruz lamentando que “a primeira presidente mulher, que lutou pela democracia”, tenha sido alvo de um impeachment. E até a Veja veio com um texto lamentável de Rafael Cortez, sendo que nem é o ex-CQC, tentando salvar o “lado bom” do PT.
Todos fazem “críticas” aos “excessos”, mas, no fundo, adoram a essência do que o petismo representa. Como não cansamos de falar, a imprensa é dominada por esquerdistas. Sim, mesmo aquela que é acusada de “golpista” pela esquerda. Vejam alguns trechos do que escreve Bucci:
Tenho sido severo, talvez em demasia, ao criticar os desvios éticos de integrantes do Partido dos Trabalhadores. […] Em mais de uma vez, afirmei que dirigentes petistas traíram as utopias que deram origem à sigla e, em mais de uma ocasião, colhi reações ríspidas, palavras duras e mesmo insultos. Às vezes, ao vivo. A sensação não é agradável, mas faz parte da regra do jogo.
Agora, escrevo a favor do PT. Não faço isso porque, desde quinta-feira passada, Dilma Rousseff está afastada da cadeira e da caneta privativas da Presidência da República. Não vou defender o legado do PT agora, justo agora, porque, alijado do poder, ele tenha se tornado uma “carta fora do baralho”. O PT não está anulado, neutralizado, descartado. É ainda uma força viva e pode agir com peso decisivo na conjuntura brasileira.
[…]
O partido nascido no calor das greves operárias do ABC entre a década de 1970 e a década de 1980 não está condenado a desaparecer. Seu futuro é possível, mas não é certo. Dependerá de um ajuste de contas entre o projeto ético de origem e o lodaçal de interesses escusos em que o velho projeto se desmilinguiu.
[…]
Será uma pena se tudo acabar assim, num lamento. Para a democracia brasileira, uma grande pena. O partido não se resume aos desastres dos dois governos Dilma (um e meio, para ser mais preciso) e às histórias mal explicadas de Luiz Inácio Lula da Silva. Há um legado muito mais valioso no coração dessa legenda, e é ele que fará falta ao Brasil. O PT foi o único partido de esquerda que conseguiu unir coerência programática, militância de massa e identidade de classe na história brasileira.
[…]
Quem sonha com um quadro partidário sem a estrela vermelha está sonhando com uma democracia amputada. Pior, pode estar sonhando com uma identidade nacional que nega a si mesma, que cultiva uma autoimagem falsificada. O PT, com todos os seus problemas, problemas descomunais, é parte essencial da política brasileira. Para os que concordam com ele e para os que discordam dele, é uma referência indispensável.
Nossa! Que grande crítico do PT! Só que não. Bucci é e sempre foi de esquerda, e lamenta apenas os “desvios” do PT, que teria “traído” suas bases, sua utopia, o socialismo. É lamentável. O PT sempre foi um “partido” golpista, que estava lá contra o país, votando contra a Constituição, o Plano Real, as privatizações, tudo que ajudou a melhorar nossa situação. O PT sempre representou a esquerda retrógrada, radical, comunista, amiga de ditadores. É isso que Bucci quer salvar? É isso que ele deseja preservar para não ver nossa democracia “amputada”?
Já Valdo Cruz, na Folha, repete a velha ladainha de que essa corja lutava pela democracia, lamentando o destino de Dilma já no título de seu artigo:
Foi estranho ver a primeira mulher presidente, com o passado de defesa da democracia, presa política e torturada, sair afastada do cargo num processo de impeachment.
Deu um nó na garganta assistir à senhora engolindo o choro naquele discurso, segurando as lágrimas que haviam escorrido pela sua face horas antes, que nos últimos dias revelavam o cansaço da batalha.
Sinto muito ao lembrar da candidata em 2010 e do primeiro ano de seu governo, em 2011. Um sinal de esperança no país. A senhora encarnava ali tempo de transformação.
Vejam como os jornalistas sofrem com a derrocada petista! É quase comovente. São esses os que bancam os “críticos” do PT. Eles, no fundo, morrem de amores pelo que o PT representa. Eles acreditam nas mentiras petistas, nos símbolos criados pelo “partido”, pois, no fundo, também compartilham da mesma utopia igualitária e socialista. Esperança em Dilma? Quem a teve, meu Deus?! Só os alienados.
E a Veja… sim, até a Veja! Nesse fim de semana há um artigo assinado por Rafael Cortez, da USP, na mesma linha que tenta salvar o “partido”, o que ele representa, o “progressismo”, a “luta das minorias”. Cortez argumenta que seria ruim para o Brasil sepultar o PT, que fazê-lo significaria a opção por ficar na contramão da história. Entendeu? O PT é o futuro! Eis um trecho:
Então quer dizer que essa “marcha dos oprimidos” é desejável, que esses movimentos de “minorias” são saudáveis para a liberdade individual e estariam de acordo até com o que queria Tocqueville? Conta outra! No mais, a esquerda “progressista” já tem representação partidária aos montes, a começar pelo PSDB. Só no Brasil ele é chamado de “direita”. A esquerda americana é a nossa direita. Isso diz muito sobre o atraso do Brasil.
O cientista político é da Tendências Consultoria! Das ONGs ligadas ao PT, do MST, da UNE, da CUT, a gente espera essa defesa apaixonada do que o PT representa em termos de “igualdade”. Mas de gente supostamente esclarecida, que presta serviços para o mercado financeiro? Aí já é demais.
Como vimos, há um amplo e articulado esforço da imprensa, de jornalistas, de cientistas políticos, de intelectuais, de formadores de opinião em geral, para tentar salvar o PT, ou ao menos o petismo. São todos esquerdistas que não se conformam, ainda, com a queda do Muro de Berlim. O que o PT tem a oferecer a nossa democracia? É uma máfia golpista, camarada de ditadores, que adota meios nefastos para seu único fim: permanência no poder.
Sua estrela vermelha representa o atraso, o retrocesso, o socialismo falido. É essa porcaria que essa gente toda pretende salvar, ainda mais em nome da nossa democracia? E ainda acusam essa imprensa de “golpista” e de “direita”. Jesus! Onde está a Fox News do Brasil?
Rodrigo Constantino