Com terroristas não se negocia! Todo mundo que assiste filmes de ação americanos sabe disso. Alguns leitores não gostaram da minha comparação entre caminhoneiros grevistas e MST, mesmo eu ressaltando que a analogia era apenas quanto aos métodos de pressão. Eu mesmo reconheci que a comparação era injusta no sentido de que uns trabalham duro, os outros são oportunistas vagabundos.
Mas os meios importam. Paralisar o país bloqueando estradas, ateando fogo em pneus, isso lembra muito o modus operandi do MST sim. E não podemos aceitar esse tipo de pressão. Não podemos virar reféns de uma categoria corporativista, por mais que nos sensibilizemos com suas condições difíceis de trabalho – e não está fácil para ninguém, não é mesmo? São quase 13 milhões de desempregados ainda: e dirigir um caminhão ainda é melhor do que não ter qualquer trabalho, certo?
Bolsonaristas passaram a justificar todo tipo de concessão do governo para impedir uma nova greve. Agora sim, era preciso ter pragmatismo, “articular”, não com o Congresso legitimamente eleito, mas com sindicalistas grevistas! O problema, como explica o editorial do Estadão, é que quando se dá a mão, o outro lado sente a fraqueza e passa a exigir o braço. O resultado é mais intervencionismo, privilégios e a morte do livre mercado, sem garantias de que a greve será evitada:
Não se discute que a ameaça de uma nova paralisação dos caminhoneiros é um problema político e econômico de consideráveis dimensões. No ano passado, em maio, uma greve desses motoristas bloqueou estradas, causou severa crise de desabastecimento e prejudicou a economia. É preciso salientar, contudo, que o movimento dos caminhoneiros só ganhou força e agora se sente à vontade para chantagear a Petrobrás e o País porque o governo anterior fez demasiadas concessões para suspender a paralisação. Além de subsidiar o preço do diesel, o governo prometeu tabelar os valores mínimos para o frete, agredindo a economia de mercado e a livre-iniciativa – inscritas na Constituição. Tudo isso enquanto caminhoneiros barbarizavam País afora, sem serem incomodados pelos agentes da lei e da ordem.
Mas as concessões parecem não ter sido suficientes, pois os caminhoneiros, agora convencidos de sua força, tornaram a ameaçar o País com uma nova greve. As lideranças desse movimento estão confiantes porque enxergam no presidente Bolsonaro um aliado. Recorde-se que Bolsonaro apoiou publicamente a criminosa paralisação do ano passado, e os caminhoneiros retribuíram esse apoio pedindo votos para o então candidato. Bolsonaro já deixou claro que se sente comprometido com os caminhoneiros, de cujas reivindicações prometeu cuidar com “carinho”.
Com esse objetivo, o governo anunciou anteontem um pacote destinado a satisfazer os caminhoneiros. Entre as medidas estão a liberação de uma linha de crédito para a manutenção dos caminhões, a conclusão de obras em estradas e a construção de postos de parada para descanso e higiene dos caminhoneiros. Além disso, o governo promete instituir o “cartão caminhoneiro”, para “congelar” o preço do diesel no momento da compra, e fala em concluir estudos para estabelecer uma tabela do frete, já que a tabela instituída pelo governo anterior enfrenta questionamentos na Justiça.
Mas os caminhoneiros não ficaram satisfeitos com isso, e por uma razão simples: com a economia em marcha lenta, houve queda acentuada nos negócios, e não há carga suficiente a ser transportada. “Pode colocar pneu novo, motor novo, mas, se não tiver carga para carregar, não adianta nada. A economia precisa melhorar”, disse um caminhoneiro.
Ou seja, os motoristas enfrentam um revés típico de uma economia de livre mercado: o ganho cai quando há muita oferta e pouca demanda. A não ser que o governo acredite ser possível abolir por decreto as leis de mercado, o problema dos caminhoneiros – bem como de qualquer outro setor da economia – não será resolvido numa canetada voluntarista. Segundo o ministro Guedes, o presidente Bolsonaro “entendeu” como essas coisas funcionam. Esperamos que sim.
E, de fato, a Petrobras acabou anunciando aumento no diesel, ainda que menor do que o anterior, e os caminhoneiros já ameaçam novamente com greve. O governo se desgastou, o presidente assustou os liberais e o mercado com sua visão intervencionista, e o resultado pode ser o mesmo: greve.
O anúncio da alta do diesel na noite da quarta-feira (17) reacendeu entre caminhoneiros a intenção de promover uma nova greve da categoria. A ala mais radical dos motoristas de caminhões já se articula para uma paralisação nos próximos dez dias. Mas também há entre caminhoneiros e transportadores a turma do “deixa disso”, que prefere esperar mais.
De qualquer modo, a decisão da Petrobras de elevar em R$ 0,10 o litro do diesel deixou a categoria mais insatisfeita, o que já tinha ocorrido com o pacote de medidas para os caminhoneiros anunciado pelo governo nesta semana.
Uma das lideranças nacionais dos caminhoneiros, Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, diz que não há outra alternativa a não ser decretar uma greve. “O governo pagou para ver. Agora só estamos vendo a data. Mas será em menos de dez dias.”
Em mensagem enviada ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o caminhoneiro Josué Rodrigues, um dos líderes na Região Norte, também ameaça nova greve para o mês que vem caso o preço não seja congelado e o tabelamento do frete não seja respeitado. “Se não fizer valer o piso mínimo do frete, nós vamos parar, não tem jeito. Se não agir antes do dia 21 de maio vai ter uma paralisação sangrenta, pode ter certeza.”
Não se nega o dilema do presidente, até porque ele ajudou a cria-lo, quando incentivou a greve durante o governo Temer. É mais fácil ser pedra do que vidraça, pomba do que estátua, e fomentar o caos quando se é oposição do que quando se é governo. Agora o presidente acena com todo tipo de “carinho” (privilégio) para a categoria, inclusive usando o BNDES e estimulando excesso de oferta com crédito subsidiado, como fez Dilma, o que vai gerar uma crise ainda maior à frente.
Diante desse quadro, os liberais e conservadores têm todo direito de lamentar a falta que faz um verdadeiro estadista, como Ronald Reagan ou Margaret Thatcher. Eles sim, souberam lidar com grevistas de forma firme e inteligente. Não cederam, não mostraram fraqueza, não aceitaram ficar reféns de sindicatos. Será que Bolsonaro poderá dizer o mesmo?
Rodrigo Constantino
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