O “New York Times” anunciou na tarde desta quarta-feira que se juntará ao “Boston Globe” e a outros mais de 300 diários num esforço coordenado de jornais americanos para publicar editoriais contra os repetidos ataques do presidente Donald Trump aos veículos de imprensa do país.
“Nosso editor marcou a posição do jornal quanto a essa questão e, num momento em que jornais por todo o país estão sob pressão comercial e política, acreditamos que seja importante mostrar solidariedade”, afirmou o responsável pelo editorial do “Times”, James Bennet, citando a posição do editor do jornal, A.G. Sulzberger, que no mês passado se reuniu com Trump na Casa Branca.
Na ocasião, Trump afirmou no Twitter que discutira “a vasta quantidade de notícias falsas apresentadas pela mídia” com Sulzberger, que por sua vez, emitiu uma nota afirmando que considerava a retórica do presidente “não apenas divisiva, mas também cada vez mais perigosa”.
“Em 2018, alguns dos mais graves ataques vêm de membros do governo. Criticar a imprensa — por amenizar ou exagerar o teor de suas matérias, ou por publicar algo errado — é inteiramente válido. Repórteres e editores são humanos e cometem erros. Corrigi-los está no cerne de nossa função”, afirma o editorial que o “Times” publicará nesta quinta-feira. “Mas insistir em afirmar que as notícias que não o agradam são falsas é perigoso para a vitalidade da democracia. E chamar jornalistas de ‘inimigos do povo’ é simplesmente errado e ponto final”.
Vou acrescentar meus dois cents sobre o assunto. Antes de mais nada, em termos de audiência, essa guerra entre mídia mainstream e presidente Trump é ótima – para ambos! Se é bom para o país é outra história. Mas parece inegável que a intriga crescente produz interesse, engajamento e polarização dos dois lados, o que tende a ser bom para os negócios.
Dito isso, um presidente que ataca sistematicamente a imprensa quase toda não é o ideal, menos ainda na América, nação fundada na liberdade radical de imprensa e expressão. Trump, contudo, não tem promovido propostas de censura oficial. Está usando seus canais nas redes sociais para combater o que chama de campanha de difamação por meio de Fake News. E não mente nesse aspecto.
Eis o ponto crucial aqui: se é ruim ter um presidente que fica detonando o trabalho da imprensa, é ainda pior uma imprensa que realmente deixa seu trabalho jornalístico de lado para fazer campanha partidária. Trump não está conquistando tantos adeptos do nada: ele toca no nervo da questão, e o público sabe que os jornalistas trocaram o jornalismo pela ideologia.
O próprio Trump é uma espécie de reação a isso. Alguns tentam inverter e alegam que a mídia estaria reagindo, mas é justamente o contrário: a esquerda tomou a imprensa, fez torcida escancarada para Hillary Clinton enquanto demonizava Trump, e como sabemos desde a Terceira Lei de Newton, toda ação tem uma reação em igual força no sentido contrário. É isso que estamos vendo.
Trump não tem outra alternativa além de usar seu canal direto com o público, o Twitter, para se defender de ataques tão cafajestes que tem sofrido. O maior risco para a democracia vem dessa perda de credibilidade da mídia. Ao atacar tudo e todos como iguais, chamando jornalistas de “inimigos do povo”, claro que Trump presta um desserviço ao país. Mas enquanto os jornalistas permanecerem em suas bolhas “progressistas”, darão credibilidade ao ataque do presidente.
A melhor resposta não é unir 300 jornais e promover um ataque coordenado a Trump. Isso apenas reforça sua denúncia de perseguição. A melhor – a única resposta possível é resgatar o bom jornalismo, em vez de só usar o filtro ideológico atual. “Os responsáveis pelas notícias falsas detestam que eu diga que eles são inimigos do povo, porque sabem que isso é VERDADE”, afirmou Trump. A ação coordenada dos veículos de comunicação não ajuda a dissipar tal desconfiança. Tampouco ajuda colocar como membro do board uma racista que despreza homens brancos, como fez o NYT recentemente.
Essa guerra entre mídia e Trump foi tema do comentário na Jovem Pan hoje, e Joel Pinheiro da Fonseca aderiu ao discurso do establishment, condenando Trump pelo problema em vez de tentar enxergar o real problema, do qual Trump é um sintoma e uma reação:
Ora, falar que grupos como a CNN fazem um “trabalho sério” é uma piada de mau gosto. A CNN, também conhecida como Clinton News Network, seria, segundo o “liberal”, um canal sério, e não uma emissora panfletária do esquerdismo que faz torcida em vez de análise. Assim complica.
Não nego que a CNN ao menos tenha notícias e reportagens reais, apesar do forte viés ideológico, melhor do que as puras teorias da conspiração de um Infowars da vida, de Alex Jones. Mas daí a afirmar que faz um trabalho sério vai uma longa distância. Ou o parâmetro de comparação, a régua de valor da imprensa agora são sites obscuros de figuras loucas da internet?
Podemos fazer uma analogia para o leitor entender melhor o que se passa aqui nos Estados Unidos. Nesse aspecto, Bolsonaro é mesmo o Trump brasileiro. Desperta ojeriza na imensa maioria dos jornalistas, que passam a catar pelo em ovo e mergulhar a fundo em qualquer detalhe que possa ser usado contra o candidato do PSL, um trabalho que jamais fizeram com a esquerda. Chegam a distorcer deliberadamente, inventar coisas, mentir, manipular. Resta ao capitão usar as redes sociais.
Alguém vai condenar Bolsonaro e seu “autoritarismo” por ele atacar a mídia mainstream? Uma análise mais isenta vai mostrar que Bolsonaro é sintoma e reação justamente a essa postura ideológica e canalha de boa parte da imprensa. Isso não muda o fato, claro, de que ter um presidente ou um candidato a presidente detonando todo o trabalho jornalístico seja algo negativo ou mesmo perigoso.
Mas, em nome da verdade, é preciso fazer o devido elo causal aqui, e compreender o que veio primeiro. Não é Trump que gera polarização, como alega Joel. É a mídia que, com seu escancarado viés ideológico, ajudou a parir Trump como presidente, e que joga lenha na fogueira ao insistir numa campanha difamatória incansável que a impede de enxergar inúmeros acertos e conquistas da atual gestão.
Ou os jornalistas saem de sua bolha cognitiva de esquerda, ou teremos cada vez mais gente moderada dando razão a Trump e Bolsonaro, e endossando seus ataques à imprensa, uma fábrica de Fake News a serviço dos “progressistas”.
Rodrigo Constantino
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