O jornalista Guga Chacra, do Estadão e Globo News, escreveu um texto supostamente sobre o populismo que destruiu a Venezuela, como se o país vivesse numa guerra devastadora. Mas, a julgar por sua conclusão, o alvo mesmo não era Chávez, Maduro ou o socialismo, e sim Donald Trump:
Ao observar a Venezuela, fico cada vez mais certo do perigo de discursos populistas. Recep Tayyp Erdogan, na Turquia, é outro perigo. Verdade, em economia, ele sempre foi mais responsável do que o regime chavista. Mas, politicamente, tem agido igual. O mesmo vale para a Rússia de Putin. E, mais grave, para os EUA caso Trump seja eleito presidente.
Nas 254 palavras de seu texto, nenhuma é “socialismo” ou “socialista”. Parece que o mal que assolou nosso vizinho foi apenas um genérico populismo, sem ligação alguma com as ideias de esquerda que Chávez defendia, com o coletivismo, a estatização dos meios de produção, o controle minucioso da economia, o combate ao lucro etc.
Guga Chacra merece críticas, ainda mais por se dizer um liberal. Não deveria confundir seus leitores dessa forma, como se o perigo não fosse o socialismo, mas sim qualquer liderança mais populista. Em que exatamente as ideias de Trump se assemelham às de Chávez?
Ora, a esquerda brasileira, como o PT e o PSOL, sempre defenderam Chávez, mas odeiam Trump! O magnata americano é um empreendedor de sucesso, defende o lucro, a iniciativa privada, rejeita o coletivismo socialista e o controle estatal da economia. Essas são bandeiras, aliás, mais perto de Bernie Sanders, o socialista, e mesmo de Obama e Hillary Clinton.
O texto de Guga é curto, mas ele não pode simplesmente jogar no ar uma comparação esdrúxula dessas e deixá-la sem maiores explicações. Deve mostrar em que Trump é parecido com Chávez em termos econômicos, já que foi seu modelo socialista que destruiu a Venezuela por completo.
Será que Guga Chacra acha que os Estados Unidos ficariam mais parecidos com a Venezuela e Cuba se Trump fosse eleito? Será que ele pensa que é o bilionário capitalista quem prega medidas mais socialistas e igualitárias, como as bolivarianas? Fica parecendo que a debacle venezuelana não tem nada a ver com o esquerdismo, ou que Trump estaria mais à esquerda do que Hillary na economia. Nonsense.
Trump pode ser falastrão, demagogo, bufão até, mas sem dúvida não é um socialista. Já de Hillary não podemos dizer a mesma coisa com a mesma segurança, uma vez que teve como guru o radical Saul Alinsky, que gostaria da revolução bolivariana na Venezuela. Com base em que, então, Chacra joga uma afirmação dessas, comparando Trump a Chávez?
Populismo não é o mesmo que demagogia, e nem todo demagogo é igualmente perigoso ou estatizante. Chávez prometia tudo por meio do estado, condenando as empresas. E foi isso que afundou a Venezuela e quase afundou o Brasil de vez: o socialismo. Trump não promete esmolas grátis pelo estado, tampouco condena o lucro da iniciativa privada. Quem chega mais perto de fazer isso é Hillary Clinton.
Uma bola fora e tanto de Guga Chacra, portanto.
PS: Mediante uma provocação minha em seu Facebook, Chacra respondeu:
Trump é populista e adota políticas contra o livre mercado. Tanto que tem pouco ou quase nenhum apoio em Wall Street, entre grandes empresários, no Silicon Valley (ontem mesmo a CEO da HP, que é simpatizante do Romney, como eu, declarou apoio a Hillary). Bloomberg, Warren Buffett, a lista é longa. Sem falar em Romney, Família Bush, Kasich e, no fundo, até Rubio e Ryan (todos republicanos). Nenhum deles quer Trump, embora alguns mais abertamente do que outros. Mas Trump não pode ser considerado socialista. Maduro é sim socialista (eu abordo a política econômica dele no texto ao comparar com o vizinho). Já Erdogan, não. E o presidente turco está acabando com a Turquia. De qualquer forma, eu não divido mais o mundo em direita e esquerda. Ficou mais complexo. Obama, de centro-esquerda, e Ryan, de centro-direita, defendem o livre mercado. Mas os candidatos de seus partidos (Hillary e Trump), não. Os republicanos historicamente defendiam um Estado mínimo. Trump defende um Estado grande, ainda que não socialista. Republicanos historicamente defendem o livre mercado. Trump é contra. Republicanos defendem o liberalismo econômico. Trump é contra. Republicanos defendem a OTAN. Trump, não (tanto que são raros membros do establishment de política externa republicana em DC que apoiem Trump). Enfim, quem defende ideias liberais em economia, deveria apoiar Gary Johnson ou aceitar a Hillary.
Obama defende o livre mercado? Onde? Sim, Trump tem ideias mercantilistas, mas está longe de ser um defensor de mais estado cuidando da economia. Já não podemos dizer o mesmo de Hillary, ícone desse “crony capitalism” que Guga confunde com livre mercado. Por isso tanto dinheiro dos banqueiros de Wall Street, de Soros e companhia. Concordo que Gary Johnson, pelo aspecto apenas econômico, seria o mais liberal. Mas entre os que têm chances reais, Trump e Hillary, a democrata é mais intervencionista, sem dúvida. Ser apoiada pelo establishment não é sinônimo de defender o livre mercado. Ao contrário! O establishment está cada vez mais perto desse “capitalismo de compadrio” que conhecemos tão bem na América Latina.
PS2: Num outro trecho, Guga diz:
O Brasil achou normal seu vizinho, de classe média, começar a fazer bobagens, se endividar e, no fim, quebrar. Mais grave, não apenas um vizinho, mas um sócio no Mercosul. Podia ter aconselhado, ter agido de uma forma mais firme. Ao contrário, bateu nas costas e, em alguns momentos, até chegou a copiar. Hoje precisa lidar com este caos ao lado.
Ora, o Brasil petista não “bateu nas costas” ou “chegou a copiar”, em “alguns momentos”, o modelo venezuelano. O Brasil do PT foi cúmplice da Venezuela desde o início! Basta ver os empréstimos do BNDES, as mensagens de Lula e Dilma, os artigos de “intelectuais” ligados ao PT. Não foi uma coincidência, mas um projeto conjunto desenhado desde o Foro de SP. Como separar a desgraça de nossos países da ideologia socialista? É simplesmente impossível. Nosso inimigo tem nome, e ele é socialismo.
Rodrigo Constantino
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