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O “guru” do presidente aprontou mais uma: escreveu um comentário em seu Facebook pressionando seus alunos que ocupam cargo no governo a abandonarem suas posições e voltarem aos estudos, pois há muitos inimigos e “pústulas”, suas palavras, em torno de Bolsonaro. Olavo de Carvalho não ajudou a criar uma base sólida de pensadores da alta cultura, como alguns alegam, mas sim uma legião de seguidores um tanto fanáticos de uma espécie de seita que repete que o filósofo “tem sempre razão”.

O comentário do sofista de Virgínia, como o chamou o diplomata Paulo Roberto de Almeida, coloca seus alunos numa delicada situação. Ou aceitam agora que andam com “pústulas” e desafiam o guru, ou continuam bajulando o mestre e perdem o cargo no governo – e todas as mordomias que vêm com ele. Olavo chegou a citar nominalmente Filipe Martins como um dos que deveriam sair. É dura a vida de quem quer ser revolucionário jacobino e establishment ao mesmo tempo.

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Ao expor isso, fui chamado de invejoso pela turba de olavetes, o que é irônico: atacam o mensageiro em vez de a mensagem, justamente como fez a esquerda na questão do “golden shower” que Bolsonaro postou. Ora, não fui eu quem disse que há muitos pústulas no governo e que gente como Filipe Martins, hoje uma espécie de chanceler do B, deveria pedir para sair. Até acho que deveria sair, mas por outros motivos.

Ironicamente, após a “exigência” de Olavo, quem saiu do MEC foi o militar criticado pelo filósofo. Em seguida, Olavo passou a postar comentários se vangloriando da enorme quantidade de olavetes em postos do governo, gabando-se de sua suposta influência na gestão de Bolsonaro. É a dialética eterna inspirada no marxismo: se saírem do governo é bom, pois ele pediu e acusou o governo de ter muitos “pústulas”; mas se ficarem também é bom, pois comprova sua força contra os sabotadores. Cara um ganho, coroa você perde. Por isso “ele tem sempre razão”.

O próprio Filipe Martins festejou em seu Twitter o resultado da “queda de braço” com o simples comentário V.V.V., em referência à expressão atribuída a Júlio César, “Veni. Vidi. Vici”. César utilizou a frase numa mensagem ao senado romano descrevendo sua recente vitória sobre Fárnaces II do Ponto na Batalha de Zela. A frase serviu tanto para proclamar seu feito, como também para alertar os senadores de seu poder militar (Roma passava por uma guerra civil). Pouco tempo depois ele foi assassinado no Senado. Filipe talvez devesse ter mais cuidado em sua arrogância…

Dou destaque a essa “treta” interna da “direita alternativa” apenas para chamar a atenção para a incompatibilidade entre ser um revolucionário radical, jacobino, e ser um liberal-conservador reformista. Os primeiros partem para o tudo ou nada, alimentam-se de uma narrativa tribal de que ninguém presta fora de seu círculo fechado, e que as instituições democráticas estão completamente podres e precisam ser derrubadas, substituídas “pelo povo”. Os últimos querem trabalhar com as instituições, aperfeiçoa-las, melhorar o que for possível usando a política, não a demonizando.

Bolsonaro terá de fazer sua escolha. Não é possível atender a dois mestres de uma só vez. Especialmente mestres opostos. Ou ele abandona o guru jacobino e seu discurso antipolítica, ou não aprova reforma alguma e seu governo naufraga antes de começar. Qual vai ser sua escolha?

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Rodrigo Constantino