Há 35 anos, havia um intenso debate acadêmico acerca do melhor modelo para o desenvolvimento de um país emergente: mergulhar na globalização ou se fechar com incentivos estatais para um avanço interno “protegido” da concorrência “predatória” internacional. Coreia e os “tigres asiáticos” foram pelo caminho da abertura, enquanto o Brasil e outros países latino-americanos optaram pela reclusão.
O tempo mostrou quem estava certo. Se Coreia e Brasil tinham níveis parecidos de renda per capita naquela época, hoje a Coreia é bem mais rica. Esse foi o tema da coluna de Gustavo Franco no GLOBO este domingo, no qual ele esfrega a dura realidade em nossas caras: “A renda per capita da Coreia hoje está perto de 75% da renda per capita dos EUA, ou seja, mais que triplicou, ao passo que o Brasil, que estava perto de 25% da renda americana nos anos 1980, desceu para 18% na avaliação mais recente”.
Roberto Campos era um dos poucos que tentava trazer lucidez para o debate, lutando para persuadir seus pares de que o caminho desejável era o da globalização. Foi em vão, pois o nacionalismo “desenvolvimentista”, tão propagado pela turma da Unicamp, acabou predominando. Não fosse Collor com sua abertura parcial forçada, a situação seria ainda pior hoje. O Brasil ainda é extremamente fechado e protecionista.
Talvez a melhor forma de ilustrar esse retrocesso seja mencionar que Luciano Coutinho, o presidente do BNDES que seguiu pela escolha dos “campeões nacionais”, estava lá na década de 1980 impondo a reserva de mercado no setor de tecnologia, com a Lei da Informática. Mais de três décadas se passaram, e as mesmas figuras com mentalidade tacanha estão no poder, distribuindo subsídios e dificultando a vida dos que querem importar.
A exposição à competição internacional é fundamental para pressionar as empresas na busca pela competitividade. Isso é elementar, mas ignorado pela turma da Unicamp, que ainda insiste na falácia da “indústria nascente” (a automotiva, por exemplo, é um “bebê” de 70 anos de idade!). Escreve Franco:
Uma conclusão tentativa é que, como coletividade, o Brasil é de uma teimosia exasperante no terreno das relações internacionais, mais até que nos assuntos ligados à inflação, onde insistimos com “teorias” heterodoxas até esgotar a paciência do brasileiro. Ressalvada a escorregada recente, aprendemos a lição sobre inflação.
O demônio do protecionismo, todavia, parece bem mais resistente, talvez por que os interesses que vivem sob a sua sombra possam se enrolar na bandeira nacional, e exibir uma falsa respeitabilidade beirando a canalhice. Na verdade, a proteção tarifária, as reservas de mercado, desonerações e facilidades para “campeões” parecem se amontoar em tempos recentes, no contexto do “capitalismo de quadrilhas” que aqui se quis implantar, e que a Operação Lava-Jato se empenha em combater.
[…]
Seria maravilhoso se, junto aos desdobramentos da Lava-Jato, pudéssemos rever a vasta constelação de políticas públicas discricionárias e seletivas que tanto favorecem mercados cativos, desvios éticos e prejuízos a nosso crescimento.
Sim, seira maravilhoso. Mas podemos ser otimistas? O Brasil é mestre na arte da resgatar teorias furadas e ultrapassadas, afinal de contas. Mesmo o PSDB de Gustavo Franco não tem essa convicção na defesa da abertura e da globalização, sendo um partido social-democrata de centro-esquerda.
É preocupante ver que poucos tocam no ponto central da coisa, sem compreender que esse modelo de estado intervencionista está no epicentro dos problemas atuais que vivemos. Será que o bom senso ainda vai prevalecer um dia em nosso país?
Rodrigo Constantino
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