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Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal

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Constatei que a opinião majoritária dos analistas políticos, após o primeiro embate televisivo entre Donald Trump e Hillary Clinton, é a de que o Republicano saiu-se bem no início do debate, notadamente nos primeiros trinta minutos, e depois foi totalmente dominado pela oponente. Mas o que teria gerado este divisor de águas? O que favoreceu Trump no começo, e o que fez com que sua performance fosse afetada no decorrer do debate?

O primeiro tópico trazido à baila pelo “isento” moderador Lester Holt tratava de prosperidade. Na prática, a contenda girou em torno da geração de empregos. E foi nessa hora que a admiradora de Saul Alinskybalançou, sendo sobrepujada pelo adversário. Não é de causar espanto: em pleno século XXI, a “Democrata” (eis aí uma clamorosa distorção entre significado e significante do tipo que a Esquerda adora promover) sustenta teses econômicas que já foram refutadas (pela vida real) há muito tempo, declarando que o Estado deve ser o responsável por gerar trabalho para a população, por meio do investimento público. Para tal, sugere cobrar mais impostos dos ricos – como se isso não fosse causar elevação de preços e desemprego, e como se os maiores financiadores de sua própria campanha não fossem George Soros e outros bilionários de Wall Street.

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Waddill Catchings, em 1926, afirmava que as recessões eram causadas por falta de demanda, e que, portanto, seria imperativo que os governos (com dinheiro emprestado, se necessário) investissem em obras públicas para provocar demanda, abastecendo, assim, os consumidores com dinheiro para comprar o excesso de bens produzidos na recessão. Isso até podia fazer sentido 90 anos atrás, mas Hilary, ao fazer uso desta retórica desbotada, veio com um estilete para uma briga de machados neste primeiro trecho do debate, especialmente se comparado com o discurso do adversário. Bernie Sanders deve ter ficado orgulhoso da camarada Clinton, mas não tenho certeza se a maioria dos americanos quer brincar de virar cubano ou venezuelano (not yet, at least). Aparentemente, a maior parte deles entende que, se todos os cidadãos forem contratados pelo Estado para cavar buracos, teremos desemprego zero, muitas tocas para tatus e nada para comer.

Trump, a seu turno, propôs reduzir em 15% a carga tributária nacional, como medida para incentivar o empreendedorismo, bem como rever acordos comerciais leoninos assinados pelos Estados Unidos (NAFTA), e criar outros incentivos para que os empresários americanos não migrem para o terceiro mundo, tal qual vem ocorrendo com o Brasil também, refrear a bolha financeira que está sendo gerada pelo FED com sua política de redução artificial dos juros, além de ter mostrado preocupação com o crescente déficit público (US$20 trilhões). Não chega a ser uma palestra sobre a Escola Austríaca, mas está bem mais condizente com os princípios dos pais fundadores da América, e que proporcionaram tanto progresso àquela nação. Ponto para Trump.

A partir daí é que o caldo entorna. A conversa descamba para temas que um interlocutor despreparado, quando confrontado com um(a) esquerdista profissional, tende a perder a compostura, tal qual ocorreu com Donald. Trump passou sessenta minutos se defendendo de pechas e clichês típicos do ideário “progressista”. Xenófobo, sexista, racista, maluco que vai causar uma guerra nuclear, tudo temperado com risos debochados e gritinhos da platéia: foi muito para alguém que ingressou no meio político há pouco mais de um ano, e o candidato perdeu o rebolado. E olhe que estamos falando de alguém habituado a estar em frente às câmeras e sob pressão.

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Hillary “venceu o debate sem precisar ter razão”, como detalhado por Artur Schoppenhauer em seus 38 estratagemas: encolerizar o adversário, plantar pistas falsas, fazer manipulações semânticas, uso de premissa falsa previamente aceita pelo adversário (e por toda a Direita), impelir o adversário ao exagero, fuga do específico para o geral; enfim, estava tudo lá. Desde a polêmica da tensão entre policiais e negros, até a celeuma da recusa do Republicano em apresentar seu imposto de renda, passando pelo fato de que ele mal tocou no assunto dos e-mails deletados por Hillary e deixou de mencionar o atentado terrorista em Benghazi – dois pontos fracos dela. Trump caiu feito pato na armadilha, e, quando se deu conta, era tarde demais.

Ou seja, uma vez mais, a Esquerda mostra que ainda dá um baile em Conservadores e Liberais quando se trata de conquistar corações e mentes, independentemente da lógica por esta adotada. Aquela metáfora do jogo de xadrez com o pombo, que derruba todas as peças, defeca no tabuleiro e sai de peito estufado dizendo que ganhou, funcionou e ainda angariou aplausos do público americano, diante de um Trump boquiaberto e sem ação. Ele assistiu Hillary nadar de braçada e não soube como subverter aquele processo.

E poucos de nós saberíamos, convenhamos. Jogar pelada no campo da esquina como se estivesse trotando no gramado do Camp Nou é implorar pela derrota, e é exatamente o que os oponentes de esquerdistas costumam fazer em debates e campanhas eleitorais. Trump terá mais duas oportunidades de dar a volta por cima até novembro, mas quem precisa aprender a lição, na verdade, são todos aqueles que pretendem conter o avanço dos apologistas do Globalismo e do big government mundo afora.

Não pense que será muito diferente com quem for travar discussões com Ciro Gomes ou Marina Silva nas eleições presidenciais de 2018. Se não quisermos ver o Planalto pintado de vermelho de novo (ainda que com matizes diversas), cumpre entender que a esperteza, em determinados momentos, é mais importante que a inteligência e o preparo, e que a forma deve, por vezes, ser prestigiada em detrimento do conteúdo.

Olavo de Carvalho, em outubro de 2015, publicou um artigo intitulado “O Reino do Subjetivismo”, donde se extraí esta mesma lição:

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“… há dois conjuntos de conhecimentos, diferentes e incomunicáveis entre si, que o cidadão tem de dominar para alcançar algum sucesso. O primeiro refere-se, naturalmente, ao objeto ou propósito da tarefa a desempenhar. Se o sujeito trabalha numa fábrica de sabonetes, tem de saber algo sobre sabonetes. Se é enfermeiro, algo sobre corpos humanos, doenças e remédios. Se é legislador, juiz ou advogado, algo sobre leis. Se é escritor ou jornalista, algo dos assuntos sobre os quais escreve e do idioma que emprega. E assim por diante. O segundo conjunto de conhecimentos, que não pode ser deduzido do primeiro e tem de ser adquirido independentemente, ensina como o cidadão tem de tratar os colegas, os chefes e o público para sobreviver e, se possível, subir na hierarquia profissional…”.

Aí está. Ao que me parece, saber jogar para a torcida, que é uma aptidão comum em políticos populistas/estatizantes, é artigo em falta entre Liberais e Conservadores. Mas não é nada que não possa ser assimilado e posto em prática. A vida dos americanos já não andava fácil, precisando escolher entre duas maçãs podres, mas tudo leva a crer que os próximos quatro anos podem ser ainda mais duros na terra dos livres e lar dos bravos (pero no mucho).

Ministrar cursos visando habilitar candidatos com estas competências pode ser uma boa oportunidade de ganhar dinheiro no futuro próximo, hein. Mas cuidado para não ficar rico como Trump, e entrar para o time dos “The Have” – ou, em português Lulopetista, a ZELITE! Não serás perdoado, e sua reputação será atacada impiedosamente, seja ao vivo na CNN, seja em Terra Brasilis. “Make America Great Again” sounds good, but americans seem to prefer “Fundamentally transform America”. It’s a shame…

Sobre o autor: Atua como Auditor-Fiscal do Trabalho, e no exercício da profissão constatou que, ao contrário do que poderia imaginar o senso comum, os verdadeiros exploradores da população humilde NÃO são os empreendedores. Também publica artigos em seu site: https://bordinburke.wordpress.com/