Por Jocinei Godoy, publicado pelo Instituto Liberal
Definitivamente, não há nada novo debaixo do sol. Entra dia e sai dia, entra ano e sai ano a patacoada é sempre a mesma. Porém, o tempo que atravessamos, sem dúvida, é um dos tempos mais sofísticos[1] e delirantes da história da humanidade. Neste contexto, o sofisma está intimamente ligado ao delírio. Ambos se alimentam na cabeça de muita gente que acredita estar defendendo boas causas como a famigerada “justiça social”. Inúmeros casos concretos de sofisma e delírio contemporâneos podem facilmente ser encontrados nos ambientes de produção e de disseminação de conhecimento, ou seja, nas escolas e universidades.
Para começo de conversa, o que deveria ser um ambiente de produção e de disseminação de conhecimento, se tornou um quartel general da Esquerda para a reprodução ad nauseam[2] de seus pressupostos insanos travestidos de aula. Como já dito pelo filósofo Olavo de Carvalho, o tempo de doutrinação já passou. O que temos visto são apenas os frutos colhidos pelo plantio sistemático, em um trabalho bem feito [cá para nós], da intelligentsia esquerdista. É por isso que, quando se fala em doutrinação ou quando se advoga a causa de movimentos, mesmo com algumas falhas estruturais, como o Escola sem Partido, muitos alunos e professores enchem a boca para falar que tudo se constitui como exagero por parte da turma conservadora [não no sentido comum, mas filosófico, do termo].
Temos então, nesta esteira, vários casos de sofismas disseminados em salas de aula que são apenas corolários de mentes delirantes. Um destes casos foi a recente defesa em sala de aula do filósofo Jean Jacques Rousseau como herói da igualdade e da educação. Com suas ideias propostas de que a origem dos males da humanidade reside na ideia de civilização, forjada pela razão, e na ideia de propriedade privada, ele é tido como um dos principais precursores da Esquerda. Sua crença de que o ser humano possui bondade inata, porém, corrompida pela sociedade, é um dos fundamentos que explica o vitimismo alienante, bem como a transferência da responsabilidade individual para determinado grupo ou classe social.
Rousseau incorreu no grave erro de entender a si próprio como a medida da humanidade, o ideal de pureza humana. Para ele a sociedade era má, em especial, os ricos. Por outro lado, ele era bom. Ledo engano. Alguém já viu isso em algum lugar neste tempo?!
Curiosamente, “o grande defensor dos fracos e oprimidos e, escritor da igualdade” era um tremendo vigarista, aproveitador de madame Louise de Warens que o sustentou por um bom tempo. Mais tarde, Rousseau teve cinco filhos com outra mulher, Thérèse Levasseur, os quais foram todos abandonados no orfanato. O mais exótico de tudo isso, para não dizer outra coisa, é que, após abandonar os filhos ao invés de educá-los, Rousseau escreve “Emílio”, um tratado sobre a educação. [Não, caro leitor, isso não é piada].
É, inclusive, neste tratado que Rousseau começa escrevendo: “Tudo que sai das mãos do Criador é perfeito, tudo degenera nas mãos do homem”. No mínimo é de se causar perplexidade que um enunciado como este seja exposto e defendido em universidades de matriz cristã do nosso país. Das duas, uma: ou já não consideram mais o conceito de pecado original tratado exaustivamente por Santo Agostinho ou é vigarice intelectual mesmo.
Eis a razão porque me referi no inicio do texto que este é um dos períodos mais sofísticos e delirantes da história. É claro que, na esfera da intelectualidade e da cultura, as coisas não acontecem do dia para noite. Há toda uma caminhada histórica de mudança no campo filosófico e da linguagem que encorparam e fortificaram abstrações insanas como as de Rousseau. Dito isto, o ciclo de sofismas decorrentes de mentes delirantes contaminadas por conceitos e filosofias da negação[3], infelizmente, não tem fim. É como uma praga enraizada nos mais variados meios de cultura.
Não precisamos ir longe para fazer esta constatação, pois, o niilismo[4], “modinha filosófica” do departamento de Humanidades, representa os avatares da sofística grega, que destruiu uma cultura e deu um triste final a páginas tão belas da História. É a miséria intelectual de nossa época[5], impregnada na mente de muitos que ocupam importantes cátedras universitárias pelo país.
Sinceramente, como integrante da área da educação, tenho a impressão de estar remando contra a maré, com o remo quebrado e dentro de um barco furado. Contudo, não perco a fé. Prossigo fazendo o meu trabalho. Como disse o proeminente intelectual canadense, Jordan Peterson, recentemente em um de seus trabalhos: “não se muda o mundo tentando mudar o mundo, mas mudando a si mesmo”. Portanto, é na esteira do reconhecimento de que algo precisa ser feito a partir de uma mudança interior, ao contrário das teorias rousseaunianas de vitimização social, que poderemos fazer deste tempo nebuloso e caótico, um tempo de maior liberdade e justiça para a nossa nação.
Sobre o autor: Jocinei Godoy é formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista Independente de Campinas-SP; estudante de Filosofia na PUC-Campinas-SP; e Sócio da Evolução Consultoria.
[1] Sofística: Em Aristóteles a sofística foi chamada de a sabedoria aparente, mas não real. A habilidade de aduzir argumentos capciosos ou enganosos.
[2] Ad nauseam: até provocar náusea, até enjoar.
[3] Filosofia de negação: termo tratado pelo filósofo Mario Ferreira dos Santos que se refere a filosofias que não possuem fundamentos sólidos, que se calçam na falsidade, na ideia do não-ser.
[4] Niilismo: termo tratado pelo filósofo Friedrich Nietzsche que se refere a toda posição filosófica, doutrinária, ética, etc., que preconize uma valorização e até uma supervalorização desse conceito negativo de nada e ainda empreenda sua atividade doutrinária ou social no que é destrutivo, no que aniquila o que há, ou que pretende, em suma, destruir todos os valores para afirmar os desvalores.
[5] Santos, M. F. Filosofias da afirmação e da negação. São Paulo: É Realizações, 2017.
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