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Hora de deixar as diferenças de lado e torcer pela nossa seleção. Ou: O Brasil é maior do que o PT!

Faltam apenas 3 dias para o começo da Copa. E desta vez o Brasil é o anfitrião. Não obstante, o clima está azedado, e muitos falam até em torcer contra nossa seleção. Não concordo com isso, e vou explicar meus motivos.

É verdade que governos populistas fazem uso político do futebol. Foi assim na ditadura de Getúlio Vargas (curiosamente elogiado por “democratas” que demonizam o regime militar), inspirado nisso e em tudo mais em Mussolini, e principalmente com Médici em 1970.

Se quisermos voltar mais no tempo, desde os gregos e romanos que os esportes são vistos como “pão & circo” pelos poderosos, para distrair as massas “alienadas” e evitar um foco maior em suas estripulias e falcatruas. Mas não compro a tese de que somente um alienado é apaixonado por futebol. Fosse o caso, a Inglaterra seria um país de alienados, não uma potência que levou estadistas como Churchill e Thatcher ao poder.

Conheço muita gente bem informada, “politizada”, como as esquerdas gostam de falar, que abominam o que o PT vem fazendo com o país, e que nem por isso deixam de apreciar um bom jogo de futebol, ou até torcer de forma ensandecida. Não são coisas que se excluem mutuamente.

Por outro lado, já vi muita gente se aproximar graças ao futebol, deixar diferenças de lado, superar divisões de “classes sociais”. Até porque certa psicologia das massas está presente nos estádios, com fortes emoções contagiantes que transformam o mais nobre dos aristocratas em apenas mais um torcedor empolgado. Aquilo que outrora é vertical se torna horizontal. Já vi muito isso de perto, um “lorde” abraçando um “zé povão” enquanto ambos choram com o gol marcado pelo time do coração.

À exceção dos baderneiros e dos fanáticos de verdade, o futebol aproxima. Até quando é para brincar, para gozar e sacanear o adversário derrotado. Isso quando se trata de times brasileiros competindo; mas quando é o Brasil que está em jogo, o denominador comum é evidente: agora somos todos nós contra os “malditos” argentinos ou espanhóis!

A Fifa merece duras críticas nisso tudo? Provavelmente. Mas não é a Fifa que organiza toda Copa do Mundo em todos os outros países? Vamos adotar um grito típico de “vira-latas” de “Fora Fifa” como as esquerdas faziam com o “Fora FMI”, agora que os jogos vão começar?

Houve corrupção e superfaturamento nas obras dos estádios desnecessários? Não tenho dúvida, e tratei disso em coluna na Veja impressa. Mas o que Neymar tem a ver com isso? O que o garoto de 15 anos tem a ver com isso? Vamos lhe subtrair a emoção de torcer pela seleção porque temos um governo corrupto? Ele nem pode votar ainda!

Aliás, eis o verdadeiro protesto pacífico e democrático: o voto. Meu sonho era ver toda essa gente revoltada se manifestando nas urnas, não nas ruas, com violência, obstruindo o direito básico de ir e vir dos cidadãos. Não tenho como negar a legitimidade da revolta, e quem acompanha meus textos sabe muito bem disso. Sou um dos mais críticos ao governo, e não suporto o PT. A ideia de aturar mais 4 anos de Dilma me dá calafrios e me tira o sono.

Mas não vejo por que a garotada precisa pagar por isso, ou os nossos jogadores da seleção. Tampouco acho que nós mesmos, brasileiros, devemos abrir mão de torcer, de se emocionar, por causa do governo e do PT. Por acaso o PT é maior do que o Brasil? Se agirmos assim, com desdém ou torcendo contra nosso país, então estamos dizendo que sim, que o PT já venceu, pois matou o Brasil, o patriotismo refletido nas chuteiras de nossos craques.

A visão de uma presidente Dilma se apropriando politicamente de uma eventual vitória da nossa seleção me embrulha o estômago. Mas nem por isso desejo impedir a felicidade de milhões de brasileiros com o sonhado “hexa”. O PT não merece, mas o Brasil sim. Futebol é uma coisa, política é outra, ainda que os oportunistas tentem misturá-los.

Arrisco dizer que o tiro poderia até sair pela culatra, tamanha a insatisfação dos brasileiros com o governo. Tanto que Dilma já desistiu de fazer qualquer discurso na abertura do evento, temendo, com razão, uma enorme vaia. Não compro a tese de que o resultado das eleições depende do resultado da Copa.

É hora de deixar as diferenças de lado e vestir a camisa do Brasil. Assim que acabar a Copa, serei o primeiro a criticar o governo em tudo que ele merece ser criticado – e a lista é infindável. Aliás, pretendo continuar com as críticas durante os jogos. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mas enquanto for o Brasil, e não o governo, representado pelos 11 jogadores em campo, pretendo torcer sim, e bastante. Pra cima deles, Neymar!

Rodrigo Constantino

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