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Hora de poupar Marina de ataques. Ou: Desespero de Aécio só ajuda o PT
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Meus leitores sabem como sou crítico de Marina Silva e que considero Aécio Neves a melhor alternativa, de longe, nestas eleições. Os motivos são óbvios e já foram destacados aqui em diversas ocasiões, mas repito o principal: Marina foi do PT a vida toda, ministra de Lula, vestiu literalmente o boné do MST, foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Plano Real, sempre se mostrou romântica e radical na questão ambiental e seu governo é uma incógnita.

Dito isso, ela tem inegavelmente feito diversas concessões importantes ao bom senso, a ponto de ser “acusada” de ter sucumbido ao “neoliberalismo” (risos) pelos petistas desesperados. Assessores como Gianneti da Fonseca e Andre Lara Resende dão respaldo a tal postura, assim como seu discurso progrediu muito, a ponto de rebater Dilma em relação à autonomia do Banco Central e afirmar que a petista segue “visão autoritária de parte da esquerda”.

Há uma ala conservadora que pensa que Marina é o “plano B” do PT, de Lula, tudo arquitetado pelo Foro de São Paulo. Essa turma acredita que tanto faz, Dilma ou Marina, pois o projeto bolivariano seria o mesmo e continuaria seu curso. Discordo totalmente. Por mais que eu tema um governo Marina, por todas as incertezas envolvidas, acho extremamente exagerado afirmar que seria a pura continuação do lulopetismo.

A própria reação ensandecida de Dilma e do PT comprova o contrário. O partido está tenso, apelando de forma baixa, como de praxe, atacando Marina com veemência, difamando-a, tentando destruir sua candidatura. Sabe que Marina seria eleita com um discurso claro de oposição, e que isso dificultaria muito qualquer acordo com o PT na frente.

Portanto, acho injusto colocar Marina e Dilma no mesmo saco. E se há claramente uma prioridade, que é tirar o PT do poder, então os ataques agressivos contra Marina podem prejudicar esse objetivo principal. Vários aliados do tucano já se deram conta disso, e até FHC teria feito chegar a Aécio que é hora de poupar a ex-ministra de Lula.

Merval Pereira, em sua coluna hoje, faz um bom resumo do quadro político, constatando que Aécio tem motivo para estar amargurado, pois tinha se preparado como alternativa racional ao PT quando o acaso trouxe fortes emoções para a disputa, mas que seu fogo contra Marina tem ajudado a própria presidente Dilma. O jornalista escreve:

O candidato do PSDB, Aécio Neves, por mais que se mostre preparado para o cargo e tenha projetos de longo prazo para o país que fazem sentido e, mais que isso, são necessários, perdeu a capacidade de encarnar a indignação da maioria dos eleitores, que encontraram em Marina Silva essa representante.

Aécio tem sido instado por seus aliados a arrefecer os ataques a Marina, para permitir a organização de uma aliança para o segundo turno. A declaração de ontem, depois da sabatina do Globo, de que se não ganhar a eleição o PSDB irá para a oposição, certamente não é consensual no partido e nem entre seus aliados da oposição.

Ele tem razões para estar amargurado, pois a entrada em cena de Marina colocou emoção na disputa, o que retirou do primeiro plano a análise da real capacidade de governar dos que estão na disputa. O candidato do PSDB contava com a máquina partidária para impor-se ao adversário Eduardo Campos, mas a entrada de Marina misturou as pedras no tabuleiro político, deslocando Aécio para a terceira colocação mesmo nos Estados em que o PSDB ou seus aliados estão vencendo as eleições para os governos estaduais.

Entendo melhor do que ninguém a angústia de ter uma alternativa bastante razoável que, ao que tudo indica, sequer estará no segundo turno. Já escrevi alguns desabafos aqui, e isso me desanima em relação ao Brasil. Mas política é a arte do possível, e o voto é a escolha do menos pior dos que têm chance. Realismo é isso. A alternativa é sonhar com fantasias, tipo um pastor evangélico recém-convertido ao liberalismo que irá privatizar a Petrobras.

Se o quadro eleitoral está mais estável e a disputa será entre Dilma e Marina mesmo, então o desespero de Aécio, alimentando uma esperança irrealista de que ainda tem chances, poderá prejudicar aqueles que, acima de tudo, desejam a saída do PT. O pleito poderá ser decidido no photochart, e cada tiro no alvo errado será munição concedida ao verdadeiro inimigo.

Rodrigo Constantino

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