Miguel era o pai de uma família grande que enfrentava uma dilacerante crise financeira. Nos tempos de bonança, quando a mulher Vilma ganhara um bilhete premiado na loteria, a família gastou por conta. Foram festas de arromba, compra de itens luxuosos, até um sítio e uma cobertura tríplex em frente à praia foram adquiridos. Aqueles anos anteriores de simplicidade seriam finalmente vingados com a ostentação brega, típica dos que precisam esfregar o novo status na cara dos outros.
Mas o que era doce acabou-se. Os últimos centavos desapareceram, restando somente dívida. Muita dívida. Carrões foram vendidos, anéis valiosos tiveram de ser devolvidos e começou a faltar até o básico. Da carne de primeira para a de segunda, depois para o frango, e finalmente para ovos com arroz. Miguel se sentava toda noite no escritório e avaliava o que poderia ser feito. Fazia cálculos, somava, subtraía, e coçava a cabeça, perplexo: como puderam chegar àquele estágio de penúria, fruto de tanta irresponsabilidade?
No fundo, ele sabia o que tinha de ser feito. Fizera parte da farra toda, mas agora parecia disposto, até por instinto de sobrevivência, a realizar reformas inadiáveis. Como Vilma não aceitava de forma alguma qualquer mudança em seu estilo de vida, acabaram se separando, e a ex-mulher virou seu maior pesadelo. No ápice da inconsequência, a principal culpada pela bancarrota familiar instigava os filhos contra as mudanças propostas e impostas pela realidade.
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Rodrigo Constantino