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A análise de que a economia brasileira é muito fechada ao comércio exterior é “folclore”. A avaliação é do ministro das Relações Exteriores, José Serra, e foi feita ao criticar países que pregam a abertura comercial, mas mantêm políticas protecionistas. O chanceler classificou como “furados” dados que mostram que o Brasil é o País que mais adota barreiras comerciais do mundo.

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“Não dou aula há muito tempo, mas estudei bastante e tenho uma formação razoável. O Brasil não é uma economia fechada mais do que a média mundial, apesar do folclore. Isso é folclore”, disse Serra, em entrevista após o primeiro dia da reunião de cúpula das 20 maiores economias do mundo, o G-20. A crítica de Serra acontece em meio ao debate do G-20 da chamada “escalada tarifária” – situação em que países impõem taxas de importação crescente conforme a complexidade do item adquirido.

Que preguiça! Há várias maneiras de provar que o Brasil é, sim, um país bastante fechado e “protegido” do ponto de vista comercial. Uma delas é avaliar o total do comércio com o restante do mundo, em importação e exportação, em relação ao PIB. Nós ficamos lá embaixo no ranking de abertura.

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Apesar de sermos a oitava economia do mundo em tamanho, somos o vigésimo-sexto maior exportador apenas, e o vigésimo-sétimo importador. O somatório de nossas exportações e importações dão apenas 11,4% do nosso PIB. Isso se compara a quase 250% do PIB no caso de Hong Kong, lugar realmente livre e aberto do ponto de vista comercial. Se não for para humilhar tanto, podemos comparar com a Austrália, que tem 26,4% de exportações e importações sobre o PIB. Somos abertos?

Outra forma de analisar isso é comparar o preço de produtos importados no Brasil e em outros países, como nos Estados Unidos, por exemplo. Vejamos um iPhone ou um carro japonês: custam praticamente o triplo no Brasil. Imagina se nossa economia fosse aberta!

No Índice de Liberdade Econômica, do Heritage Foundation, o Brasil está na centésima-vigésima-segunda posição. Isso mesmo: não temos liberdade econômica alguma, somos praticamente socialistas. E um dos itens julgados é justamente a abertura comercial. Eis o que diz o estudo:

Brazil’s average tariff rate is 7.8 percent. Brazilians may not import used consumer goods like cars and clothing. Government procurement policies favor domestic companies. Foreign investment in agricultural land is restricted. 

O pior é que estamos piorando ano após ano:

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Mostly unfree: precisa ser traduzido? A única coisa que parece “folclore” aqui, portanto, é chamar José Serra, economista cepalino, de “neoliberal”, como fazem os petistas. Serra é um mercantilista intervencionista que acha que não precisamos abrir muito mais nossa economia. O fato de estar fazendo um trabalho decente no Itamaraty, ao enfrentar os bolivarianos, não muda sua essência: certa vez ele mesmo já se disse mais à esquerda do que o PT.

O Brasil é uma economia muito fechada, bem mais do que o resto do mundo. Isso se deve à nossa mentalidade mercantilista, de que importar é algo ruim, e de que as empresas nacionais precisam ser “protegidas” da concorrência global. O resultado é o encarecimento de tudo que é produto para os consumidores brasileiros, e empresas ineficientes do lado produtor, incapazes de competir no mercado global. Precisamos de abertura já!

Rodrigo Constantino