Querem brincar de revolucionários. Em Esquerda Caviar, comentei sobre o assunto:
Os “revolucionários” de Maio de 68 mostraram como uma turma rica e alienada pode ter necessidade de dar vazão à sua “pulsão de morte” destruindo as coisas em volta, atacando a própria riqueza que usufruem, mas desprezam. Querem ser os heróis dos “oprimidos” e injetar um pouco de adrenalina em suas vidas tediosamente confortáveis, porém vazias e fúteis. E querem apagar o passado de vergonha, como interpretou Nelson Rodrigues:
Eis o que me ocorreu: a França tem todo um potencial de heroísmo inédito, frustrado. Não fez a guerra, e repito: os outros lutaram por ela. Os alemães perfuraram Sedan e deslizaram em solo francês. E todo o povo, com atraso de vários anos, precisa sentir-se herói. Cada carro virado é um tanque alemão. Os franceses estão fazendo a guerra. Essa ferocidade tardia, espetacular, é uma vingança contra a capitulação.
O dramaturgo brasileiro ainda espetou os “revolucionários” daquela época: “Fazer greve na França é muito menos arriscado do que atravessar uma rua na Guanabara”. Os “heróis” da época clamavam por algumas cacetadas da polícia, e aqueles que eram presos temporariamente contavam vantagem sobre os demais. Era motivo de orgulho ostentar uma prisão, mas eles sabiam que, no fundo, não corriam risco real nesse sistema “repressor”.
Maurice Jouyex, revolucionário sindicalista dessa época, deu voz ao sentimento de muitos quando escreveu sobre sua experiência pouco tempo depois:
Para mim, militante revolucionário, era algo incompreensível: era de fato uma brincadeira, uma vontade de fazer qualquer coisa, a vontade de mandar à merda o pai, a mãe, o professor e os políticos.
E o manifestante atual, jogando pedras nos policiais e depredando patrimônio público, pensa que inventou a roda! Trata-se apenas de um farsesco revival desse clima revolucionário de outrora, quando vários jovens de classe média canalizavam para os protestos sua fúria da vida. Qualquer semelhança com as manifestações de junho no Brasil não é mera coincidência.
E essas “manifestações” estão de volta agora, com o aval dos “formadores de opinião” da esquerda. Agora, protestar contra o presidente não é mais “fascismo”, nem mesmo quando envolve quebra-quebra e coquetéis Molotov. Agora é prova de sentimento democrático e dar voz ao povo. Como são corajosos esses covardes!
Rodrigo Constantino