Por Bernardo Santoro, para o Instituto Liberal
“Consideramos estas verdades como auto-evidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes são vida, liberdade e busca da felicidade.”
Essa frase, base da declaração de independência dos Estados Unidos da América, precisa ser revisitada de tempos em tempos, para lembrarmos que existem alguns valores humanos fundamentais e inegáveis.
A comovente foto do corpo sem vida do menino sírio, estirado na costa da Turquia, é certamente um motor de reflexão sobre esses direitos inalienáveis. Eu, como pai de um filho de três anos, imediatamente enxerguei naquele menino todo o amor que tenho pelo meu filho, e fiquei despedaçado.
A crise humanitária pela qual passa o Oriente Médio não é de hoje e é muito mais complexa do que um artigo poderia explicar ou aprofundar. São problemas de ordem religiosa, cultural e econômica que, quanto mais países estrangeiros tentam intervir, pior fica. Mas certas coisas podem ser ditas, ainda que de maneira superficial, baseadas em simples observação dos fatos.
Essa família destruída, de origem Síria, é apenas mais um grupo de pessoas que foram engolidas por uma horrível guerra civil, cuja ligação direta com a invasão americana ao Iraque é inegável. A queda de Saddam Hussein resultou em um Iraque dilacerado entre sunitas, xiitas e curdos. Dessa divisão, dentro da facção sunita, nasce o Estado Islâmico e seu fundamentalismo total. A guerra se alastra para países vizinhos, em especial a Síria, após a “Primavera Árabe”, e hoje a Síria está fatiada basicamente entre a coalizão de Bashar Al Assad (com apoio de Hezbollah e Irã), uma oposição heterogênea, o Estado Islâmico e os curdos, custando centenas de milhares de vidas e de desabrigados.
Muito se critica uma suposta complacência liberal/libertária de não-intervenção quanto a países ditatoriais, como existia no Iraque de Saddam e na Síria de Assad, ambos com origem no partido socialista pan-árabe Baath. No entanto, as intervenções do ocidente no local resultaram em morte e em piores formas de dominação de homens sobre homens, além da total destruição de qualquer resquício de direitos humanos.
O que fazer quando, objetivamente, um tirano é menos cruel que uma concorrência de micro-estados assassinos? Não tenho uma resposta. Se o objetivo é levar esses direitos fundamentais da vida, liberdade e busca pela felicidade, a povos que desconhecem esses princípios ocidentais, parece-me que não estamos fazendo direito esse trabalho através da invasão e desmantelamento de governos estabelecidos e mantenedores da ordem local.
E quando o resultado desse caos, cuja fogueira recebeu aditivo ocidental, bate na nossa porta, o que devemos fazer?
Parece-me também que rechaçar tais pessoas, deixando-as sem vida numa costa qualquer, não é uma solução aceitável. Foi negado ao menino sírio a vida, a liberdade e a busca pela felicidade, apenas por uma questão de nacionalidade e conveniência política.
Se a preocupação de países ocidentais é que essa “invasão árabe” à Europa vai destruir a cultura europeia que pôde criar esses direitos fundamentais, a resposta mais simples é que a maioria desses árabes que estão tentando entrar na Europa já está ávida por esse direito e pelo nosso estilo de vida. E a minoria que pensa diferente, querendo subverter os nossos valores e cultura, precisa ser investigada, exposta e presa.
Só que, do ponto de vista de discurso político, essa maioria de estrangeiros que busca se adaptar na cultura ocidental e beber de nossos valores está totalmente desamparada.
A direita europeia, muito conservadora e pouco liberal, avessa às contribuições culturais e econômicas que esses imigrantes podem agregar, vende um discurso anti-imigratório, xenófobo e até mesmo racista/etnicista, buscando endurecer leis que resultam em crianças mortas na costa mediterrânea.
A esquerda europeia, socialista e maior inimiga da civilização ocidental e de seus valores autoevidentes (inimiga muito maior, mais rica, mais poderosa e mais perigosa que os pobres imigrantes árabes), sob um argumento supostamente integrador, estimula e até financia a minoria árabe fundamentalista, anti-ocidental e anti-direitos fundamentais, o que faz todo o sentido, já que ambos os grupos, esquerda europeia e fundamentalistas islâmicos, possuem os valores e a cultura ocidental como inimigos preferenciais em comum, e sua prática política resulta em terrorismo interno e crianças mortas nas ruas europeias e orientais.
É urgente o fortalecimento de uma corrente política europeia liberal, que abrace os imigrantes que têm sede dos nossos valores, da nossa estabilidade política e do livre-mercado, que rechace a xenofobia da direita ultraconservadora e combata a política anti-ocidental “multiculturalista” da esquerda socialista.
Precisamos, para ontem, de um liberalismo integracionista europeu anti-fundamentalista islâmico, anti-xenofobia e anti-socialista, baseado em uma coisa que anda em falta no mundo: bom-senso.
Comentário do blog: Não escrevi nada sobre o assunto ainda pois estou digerindo tanto a imagem chocante do pobre garotinho sírio como a reação da esquerda “solidária”. Cheguei a postar em minha página do Facebook:
Ainda estou com o estômago embrulhado demais para escrever sobre os canalhas, como Safatle, que têm usado a comovente foto do menino sírio morto na praia para atacar o Ocidente, o capitalismo, a globalização. É muito oportunismo pérfido. A lambança é no Oriente Médio, na África, em locais onde o capitalismo passou mais longe do que Plutão da Terra, e esses pobres coitados querem fugir PARA O OCIDENTE CAPITALISTA. Mas os safados e safatles dão um jeito de culpar o sistema capitalista ainda assim. E usar de forma sensacionalista um sentimento de comoção geral para avançar com sua agenda socialista. Tudo muito, muito podre…
Recomendo que deem uma olhada nos partidos políticos da Síria. Só dá socialista, comunista ou islâmico! Culpar o modelo ocidental pela crise é pura má-fé. Chamar essa gente de “os novos proletários do capitalismo global”, como fez Safatle em sua coluna de hoje, beira a psicopatia. Mas essa é, infelizmente, a marca registrada de boa parte da nossa esquerda, que usa as tragédias para atacar o capitalismo ocidental.
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